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Piloto esclarece dúvidas sobre turbulência

Danifica o avião? Como é causada? Confira!

Da redação com assessorias
- Foto: Pixabay

Nesta sexta, dia 19 de outubro, as pessoas que têm medo de avião ficaram ainda mais assustadas com a notícia da forte tuburlência que atingiu o voo AR-1303 da Aerolíneas Argentinas que partiu de Miami, nos Estados Unidos, em direção a Buenos Aires, na Argentina, com 192 pessoas a bordo. A aeronave enfrentou o problema enquanto sobrevoava a floresta amazônica, deixando 15 feridos.

As turbulências podem ser encaradas como um verdadeiro pesadelo por alguns passageiros, para outros, é apenas algo irritante. Em todos os casos, é importante ter em mente que as turbulências raramente são perigosas, embora possam ser bem desconfortáveis.

Para esclarecer a questão, conversamos com o piloto Menno Kroon, da empresa aérea holandesa KLM, que tem mais de 28 anos de profissão:

Culpa do vento
Há uma distinção entre turbulências de altitudes elevadas e turbulências de altitudes baixas. "As turbulências perto do chão são muitas vezes causadas por ventos pesados. Isso pode ser problemático durante a decolagem ou pouso em tempestades. No entanto, equipes de voo são treinadas justamente para lidar com essas situações", esclarece o piloto.

Ar ascendente
Em altitudes mais elevadas, as turbulências surgem quando o ar sobe verticalmente – de baixo para cima. "Funciona da seguinte forma: o Sol esquenta a terra e o ar acima dela. O ar quente se expande e sobe.
Isso causa o que chamamos de 'updraft', que nada mais é do que uma corrente de ar ascendente. Assim que o ar sobe, sua temperatura cai até o ponto de condensação. Se o ar subir ainda mais, partículas de umidade começam a se formar, criando nuvens. E isso é bom, pois assim podemos ver a turbulência, não só pela janela da cabine de comando, como também mostra em nosso radar meteorológico", afirma Menno Kroon. Porém, se o ar ascendente estiver muito seco, a turbulência não é visível. "Isso é conhecido como 'clear-air turbulence', ou seja, uma turbulência sem nuvens, e é complicada, pois pode nos pegar de surpresa. O radar de tempo também não pode detectá-la, pois não há partículas de umidade no ar para refletir os sinais de nosso radar".

Correntes de jato
"Os jatos de ar, como são chamadas as grandes correntes de alguns planetas, incluindo a Terra, produzem um vento extremamente forte numa altitude mais elevada, atingindo velocidades de mais de 300 km/h. Esses ventos sopram principalmente do oeste para o leste no hemisfério Norte. O problema da corrente de jato é que ela pode mudar de direção repentinamente quando encontra áreas de alta ou baixa pressão, esclarece o especialista. "Muitas turbulências podem surgir nessas chamadas dobras, que são similares àquelas em um rio de corrente rápida".

Montanhas
"Se houver um vento forte, o ar pode ser direcionado para cima quando encontrar montanhas mais altas. Isso pode causar ondas que podem ser sentidas em altitudes elevadas e em distâncias grandes. Como resultado, às vezes ocorrem turbulências ao passar por uma cadeia de montanhas", diz Kroon.

Vórtice de esteira
O piloto revela que há ainda uma forma de turbulência causada pela própria aeronave. "Essa turbulência de esteira é parecida com aquela deixada por um grande navio passando pela água.
Por via de regra, aviões maiores resultam em esteiras maiores e aviões menores são mais vulneráveis caso encontrem alguma". É por isso que existem distâncias e intervalos mínimos para a passagem das aeronaves. "Agora você sabe por que um Boeing 737 pode esperar mais tempo na pista depois que uma aeronave grande decola", diz o especialista.

O que os pilotos podem fazer?
"Ao nos prepararmos para um voo, sempre estudamos as tabelas de previsão do tempo. Isso permite prevermos o tempo e onde podemos esperar encontrar turbulências. Durante o voo, tentamos evitar qualquer turbulência que possamos ver da cabine de comando ou em nossas telas de radares. Também mantemos contato com o controle de tráfego aéreo e com outras aeronaves na área para nos manter a par das condições climáticas recentes".

Turbulência inevitável
"Às vezes restrições de tráfego aéreo nos impedem de evitar turbulências ou podemos ser surpreendidos pelas turbulências que não conseguimos ver no radar. É aí que a luz de colocar os cintos acende e é solicitado que você se sente imediatamente. Se o balanço estiver muito forte, paramos até mesmo de servir os passageiros e a tripulação precisa colocar os cintos também. Isso é importante para a segurança de todos", comenta Menno Kroon. Em relação a possíveis danos no avião, o piloto explica que há pouca ou nenhuma chance de isso acontecer.
"Um avião na verdade é bastante flexível. Uma vez eu visitei a planta da Boeing e vi a asa de um 747 dobrada vários metros para cima numa estrutura de testes, só para ser solta novamente com um estalo. Isso se repetiu vez após vez, dia após dia, ano após ano, e tudo permaneceu perfeitamente intacto. Então se você alguma vez estiver num assento na janela e vir a asa se movendo para cima e para baixo, não se preocupe, ela foi feita para fazer isso mesmo"..