Revista Encontro

EDUCAÇÃO

O que fazer com crianças que não querem voltar às aulas

Psicóloga do colégio Bernoulli dá dicas para lidar com os pequenos no fim das férias

Gabriel Marques
Segundo Priscila Fidelis, argumentos como "você precisa estudar para ter um bom emprego" não funcionam muito bem com as crianças - Foto: Pixabay
Se as férias escolares, normalmente, são sinônimo de descanso, o final delas pode gerar algum tipo de stress. Afinal, muitas crianças relutam em voltar à rotina dos estudos. Entretanto, um possível "pesadelo" no período de volta às aulas pode ser evitado, de acordo com Priscila Fidelis, psicóloga do colégio Bernoulli e mestre em educação tecnológica. Ela afirma que tudo depende da imagem da escola que os pequenos associam. 

Por isso, a especialista acredita que é preciso ressaltar para as crianças que a sala de aula também é um ambiente repleto de experiências positivas, como aprendizados e amizades

Confira, abaixo, uma entrevista com a psicóloga sobre esse tema:

Por que algumas crianças relutam em voltar para a escola?

Geralmente, as crianças não querem voltar porque associam a escola à realização de tarefas obrigatórias, coisas que foram impostas por uma autoridade. E essa ideia de imposição ofusca o motivo pelo qual ela está na instituição de ensino, que é o aprendizado. Logo, para elas, voltar aos estudos é voltar para um mundo de tarefas em que ela não vê sentido.

E como podemos fazer para mostrar a importância de estudar?

Ajudando a mostrar que a escola também é repleta de experiências boas. O principal nessa hora é não usar argumentos que remetam ao futuro, como "você precisa estudar para ter um bom trabalho quando crescer". Esse tipo de discurso não funciona.
O que ajuda é falar sobre algo positivo vivido na escola que impacta o cotidiano da criança. Por exemplo: "aprender sobre os números te ajudou a melhorar nos jogos" e "foi lá que você conheceu seus amiguinhos". Isso ajuda a criança a perceber a importância por trás do estudo.

Como lidar com a ansiedade e as brigas nos dias antes da volta?

Primeiro, não negue o sentimento da criança. Dê espaço para ela enteder o que está sentindo. As férias são realmente muito boas, mas a escola também pode ser um ambiente legal. Ao invés de retrucar, acolha o que ela está dizendo e tente mostrar as experiências boas que ela teve, como amizades, projetos realizados e aprendizados. Se as aulas voltarem e a criança continuar briguenta, então é hora de avaliar o entorno. A birra pode ser um jeito de comunicar que ela está tendo experiências ruins nas relações pedagógicas ou sociais na escola. Também pode estar relacionado com o cansaço. Voltar às aulas pode ser visto como a retomada da rotina exaustiva, com muitas atividades extraclasse, como judô, balé e natação. Este caso é mais comum com crianças que são hiperestimuladas.

O segundo semestre também é um momento de definição, tanto para passar de ano quanto na faculdade. Existe alguma recomendação de como agir nesses casos?

Quem está com as notas ruins na escola não pode aguardar a chegada das provas para estudar. É necessário instituir um ritmo de estudos equilibrado e com acompanhamento adequado, resgatando as pendências no aprendizado.
Já quem pretende conciliar ensino médio com um pré-vestibular intensivo precisa diminuir as atividades de lazer. Mas com muito cuidado, pois diminuir o lazer não é diminuir o tempo de descanso. O adolescente, por exemplo, geralmente acha que vai poder continuar indo na mesma quantidade de festas se diminuir as horas de sono e estudar mais. É exatamente o contrário. Você precisa administrar as metas, entendendo que terá de diminuir a frequência de algumas atividades rotineiras para não ficar exausto. 
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