O vento estava soprando a favor. O capitão então tratou de preparar o barco e reforçar a quilha. Depois, içou as velas e aproveitou o bom momento para acelerar mar adentro. O presidente do Banco Inter, João Vitor Menin, de 36 anos, usa a metáfora náutica para explicar a trajetória de sua instituição financeira. Na tarde do dia 24, ele comemorou um número espetacular: 1 milhão de contas cadastradas.
Mais do que o dado expressivo, o que surpreende é a velocidade com que se chegou a ele. Em maio, o Inter tinha 600 mil correntistas e a expectativa é que a barreira do milhão fosse quebrada apenas no apagar das luzes de 2018. “No começo de 2015, imaginávamos que chegaríamos a 1 milhão de contas em 2020”, lembra João Vitor. O “reforço na quilha” – essencial para navegar sem sustos – foi a abertura de capital da empresa, no fim de abril, quando Menin captou R$ 722 milhões na B3, a Bolsa de Valores brasileira.
O marco foi comemorado em um evento típico das novas empresas de tecnologia, com João Vitor falando sobre a trajetória do banco em frente a um telão que mostrava a entrada de cada novo cliente, na sede da empresa, no bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. Quando faltavam apenas 10 correntistas, os funcionários reunidos – todos vestindo uma camiseta laranja, a cor da marca do Inter – gritavam: 991, 992, 993... 1 milhão. Nesse momento, uma chuva de papel picado tomou conta da sala e muitos dos presentes festejaram abraçados. “Essa empresa é feita de gente com G maiúsculo e o sucesso é fruto do trabalho de cada um que tem sangue laranja nas veias”, disse Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração do Banco Inter e pai de João Vitor. Rubens, fundador da MRV, e um dos maiores empresários da construção do mundo, criou a empresa em 1994, como financeira especializada em financiamentos imobiliários. Chamava-se Intermedium.
Hoje, 70% dos correntistas do Inter têm entre 20 e 36 anos e renda média de 4 mil reais. Cerca de 60% são clientes que trocaram os bancos tradicionais pela experiência digital. Jovens que abriram sua primeira conta no Inter são responsáveis por 30% do total e os 10% restantes são pessoas que não tinham conta antes de ingressarem no Inter.
Mas o que explica o sucesso do banco? Segundo João Vitor, a receita é formada por três ingredientes: o modelo digital (o percentual de brasileiros que utilizam smartphones saltou de 29% em 2014 para cerca de 70% em 2017), a plataforma completa de serviços e a conta 100% gratuita. Os diretores do Inter gostam de frizar que a conta gratuita é gratuita mesmo, sem pegadinhas. Transferências bancárias, emissão e pagamento de boletos e títulos, além de compras e saques não custam nada ao cliente. “Não lançamos uma conta gratuita para na quinta ou décima transferência passar a cobrar determinado valor”, diz Alexandre Riccio de Oliveira, vice-presidente de operações.
E quais são os próximos passos? Com 120 mil novos clientes por mês, João Vitor sabe que a barreira dos 2 milhões de correntistas não deve demorar a ser quebrada. E a nova fronteira a ser vencida pode ser a América Latina. “Estamos estudando a internacionalização do banco”, diz João Vitor, que continua preparado para aproveitar o vento favorável.
Perfil do Banco
- 1 milhão de clientes
- 1 200 funcionários
- 120 mil contas abertas por mês
- 70% dos clientes têm entre 20 e 36 anos
- R$ 600 milhões é a estimativa de economia dos clientes com tarifas
Evolução dos clientes pessoa física
- 2016 - 80 000
- 2017 - 380 000
- 2018 (1º trimestre) - 540 000
- 2018 (2º trimestre) - 740 000
- 2018 (3º trimestre) – 1 milhão