Revista Encontro

Festival

Emoção marca início da Mostra de Tiradentes

Um dos mais importantes festivais de cinema do Brasil, tem final de semana marcado por homenagem ao paulista Marat Descartes e arte circense embalada por Gonzagão e Gonzaguinha

Daniela Costa*

Como não poderia deixar de ser, a abertura da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes emocionou a todos trazendo a canção Oh, Minas Gerais cantada como um mantra na voz de Maurício Tizumba e seus tradicionais tambores.

De pé, a plateia ouviu o hino nacional e aplaudiu o homenageado da noite – o ator paulista Marat Descartes, protagonista do filme Quando Eu Era Vivo, de Marco Dutra, que teve sua pré-estreia mundial no primeiro dia do evento. “Em todos os meus anos de carreira nunca me senti tão emocionado, ainda mais por poder compartilhar este momento com meus familiares e companheiros de estrada”, diz Marat. Ao seu lado, no palco, a mãe Dona Neusa, as três filhas e a esposa Gisele Calazans aguardavam os cumprimentos.

O amigo e também ator Gero Camilo demonstrou toda a sua admiração pelo artista em um breve discurso, e junto com Tizumba, cantou um samba em sua homenagem. “O que é revelado na mostra de cinema não pode ser ignorado. Por isso convidamos a todos a entrarem no campo da cultura, do cinema e das artes, que verdadeiramente representam o nosso país nas telas”, explica Raquel Hallak, coordenadora da Mostra de Cinema de Tiradentes. O tema de discussão deste ano são os processos audiovisuais de criação, e para ilustrar isso, foram selecionados 134 filmes de 16 estados brasileiros, sendo 29 longas, 4 médias e 101 curtas.
Todos são apresentados de forma inédita: formato digital.

Baseado na obra A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, de Lourenço Mutarelli, o longa protagonizado por Descartes, Antonio Fagundes e Sandy Leah, deixou no ar um misto de suspense, terror, e é claro, um final enigmático. A trama traz como tema principal o retorno inesperado do filho recém-separado para a casa dos pais, onde a difícil digestão de lembranças passadas o leva a uma busca frenética por resquícios deixados pela mãe já falecida. Além disso, o protagonista é bombardeado por recordações perturbadoras do irmão caçula internado como louco em um manicômio. O suspense fica por conta das cenas que remetem à magia negra e ao ocultismo.

No sábado, 25, o Cortejo da Arte – tradicional passeio musical que acontece sob a animação de bandas e grupos teatrais – saiu pelas ruas de calçamento da cidade, levando música e alegria ao festival, além de comemorar os 311 anos de fundação do Arraial de São José del-Rei, a histórica Tiradentes.

A Cia Teatral Manicômicos apresentou a mistura de circo e música popular brasileira - Foto: Nereu Jr/Universo Produções/DivulgaçãoÀ noite, o cinema na praça reuniu centenas de pessoas que se emocionaram ao assistir a pré-estreia do longa Cidade de Deus 10 Anos Depois, de Cavi Borges e Luciano Vidigal. O documentário mostra a dura realidade dos atores que participaram da obra original, e deixa uma pergunta para reflexão: o que fica depois do filme? O que mudou, ou não, na vida de cada personagem da história? “Esse evento nos faz pensar mais sobre o cinema e na forma como ele é realizado, e permite que pessoas de todas as classes sociais tenham acesso a essas informações. É a democratização da cultura e da arte”, diz a advogada Karoline Lovatto, 31 anos, moradora de São João Del Rey. Ela estava na plateia que foi levada a questionar a realidade por trás de uma produção cinematográfica.

No domingo, 26, a arte circense trouxe uma linda história de amor às ruas históricas, com o espetáculo A Flor de Manacá, encenado pela Cia Teatral Manicômicos na praça da cidade. Embalada pelas marcantes canções de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e contada com muito bom humor e poesia, foi mais um momento marcante do festival.

Confira a programação no site oficial. A mostra termina no sábado, dia 1º de fevereiro.



 

 

* A jornalista viajou a convite da organização do festival

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