Revista Encontro

Funk

O príncipe das piriguetes

Ele emplacou uma música em novela da Globo e teve milhões de acessos na internet. A história de Piriguete, música que levou MC Papo do anonimato à fama, começou no Santa Amélia e Santa Mônica

Frederico Teixeira
“Quando ela me vê ela mexe / Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete! / Rebola devagar depois desce / Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete!” Com mais de 12 milhões de acessos na internet e tema da personagem Fatinha (Juliana Paiva) da novela teen Malhação, da Rede Globo, a música Piriguete faz cada dia mais sucesso e vem bombando nas rádios de todo o país.
O que pouca gente sabe é que o fenômeno surgiu nos bairros Santa Amélia e Santa Mônica. O criador desse hit é Alexandre Materna, o MC Papo. Filho de uma brasileira com um belga, ele nasceu em Bruxelas, foi trazido para Belo Horizonte com 2 anos, retornou a Bruxelas aos 11, onde ficou até os 14 anos, e depois voltou a BH, onde vive até hoje. Precoce, tinha apenas 16 anos quando compôs Piriguete, em 2006. Em pouco tempo a música virou sucesso nacional.

Considerado um dos principais nomes do reggaeton brasileiro, MC Papo festeja o bom momento. “É muito gratificante ver o seu trabalho, feito com tanta persistência, ser reconhecido.
Quando ouvi tocar minha música em festas no Big Brother Brasil (BBB), no background de programas de auditório de diferentes  canais e sendo tema de uma personagem da Malhação, senti que nada do que fiz foi em vão”, afirma.

MC Papo conta como tudo começou. “Ouvia meninas do meu colégio – que tinham viajado para a Bahia – repetirem a gíria 'piriguete' incessantemente. Fiquei curioso, fui pesquisar o que era e acabei gostando do tema”, explica. “Não imaginava que viraria um fenômeno. Fui pego de surpresa, foi a primeira gravação em estúdio.”

Para entender melhor a história de sucesso de Piriguete e sua relação com a região do Santa Amélia e Santa Mônica, é preciso voltar um pouco no tempo. “Comecei a escrever letras e fazer gravações caseiras quando tinha 12 anos. Eu me apresentei pela primeira vez em bailes funk da Favela do Índio, no Santa Mônica”, relembra Papo. “Lá também trabalhei como locutor na radio comunitária Balada FM.”

MC Papo em estúdio com CJ O Príncipe: da parceria que mescla funk e reggaeton já surgiram Venenosa e Baby - Foto: Samuel Gê/EncontroApesar de ser muito novo na época, Papo recorda-se de quando chegou à região. “Minha família se mudou para cá quando a avenida Guarapari ainda era uma rua de terra”. Ele acompanhou de perto as mudanças na área. “Santa Amélia e Santa Mônica são ‘novidade’. Estão mostrando sua cara agora, depois de 20 anos de evolução.”

De casamento marcado para este ano, MC Papo abaixa o tom quando o assunto são as piriguetes da região. “Acredito que a porcentagem da ‘piriguetagem’ é idêntica em todos os bairros (risos).” Questionado sobre momentos especiais nos bairros, Papo mostra-se grato.
“Todos com quem vivi lá me formaram como pessoa. Não seria quem sou se tivesse crescido em outros bairros”, declara.

Papo também enxerga a região como um celeiro de talentos do funk e aponta outros destaques. “No Santa Amélia, temos minha inseparável amiga MC Kamilla BH e, no Santa Mônica, a Favela do Índio é um prato cheio para quem busca o genuíno talento dos menestréis de favela, como o MC Boul, intérprete e autor de músicas famosas”, cita.

Com a rodagem de quem já lançou três produções independentes – Futuro Ex-pobre (2006), El Magrelo Vol.1 (2009) e El Magrelo Vol.2 (2011) –, MC Papo já planeja os próximos passos. Com recursos viabilizados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), ele, enfim, pode gravar o CD De Outra Maneira, que já teve duas faixas disponibilizadas na rede: Covarde e Tudo para Dar Errado. A última, inclusive, segue o caminho de Piriguete e já tem mais de três milhões de acessos na internet.

O “empurrão” dado pela Lei Rouanet não ficará restrito só ao CD. A intenção é ir bem mais além. “Meu projeto consiste em levar meu show para as regiões onde mais me apresentei no início de carreira, com um repertório novo e ingressos a preços populares, além de promover alguns shows totalmente gratuitos em comunidades carentes de Belo Horizonte”, afirma.

Sem bancar a estrela, MC Papo, que também faz parcerias, como a com  CJ O Príncipe (Venenosa, Baby e Novinha Insistente), sabe lidar com o assédio. “O que mais gosto são as portas que a fama abre, o fato de chegar a algum lugar e, antes mesmo de me apresentar, as pessoas já saberem com quem estão lidando. Já o que me incomoda é o fato de ter mais pessoas cuidando da minha vida do que uma pessoa comum.
Todos querem dar pitaco sobre sua vida pessoal e isso não é agradável”, finaliza. É o preço a se pagar pelo sucesso...


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