Revista Encontro

Carnaval

Desfiles de blocos na Afonso Pena recupera tradição de rua de BH

Mais de mil integrantes de nove blocos caricatos vão desfilar na avenida, na segunda-feira, trazendo de volta uma marca registrada da folia belo-horizontina

Ascom PBH
Na segunda-feira, dia 3 de março, a partir das 19h, os blocos caricatos vão desfilar na avenida Afonso Pena.
Os temas deste ano viajam pelo rio Nilo, no Egito antigo, relembram mitos e ícones da cultura nordestina, exaltam o festival de Parintins, destacam a escola integral em Belo Horizonte, celebram o congado de Chico Rei e homenageiam a Praça da Estação, um dos símbolos da capital.

São nove blocos caricatos, que variam entre 80 integrantes (Aflitos do Anchieta) e 250 (Por Acaso), que apresentam suas fantasias e contam histórias fantásticas e delirantes em um desfile com duração prevista de seis horas. Ao todo, são mais de mil e trezentas pessoas com muita disposição para disputar o carnaval de BH.

Marca registrada da folia belo-horizontina, os blocos caricatos estão ligados à origem do carnaval na cidade, em suas primeiras manifestações ocorridas ainda no final do século XIX. “Há uma estreita relação de conformação entre os blocos caricatos e as escolas de samba, como bateria, proposição do desfile, apresentação e a dimensão comunitária e associativa. Não conheço configuração semelhante em outras cidades”, diz o antropólogo Rafael Barros, membro do centro de estudos da religião Pierre Sanchis, da UFMG.

Antes da criação das escolas de samba, nas décadas de 1920 e 1930, os blocos caricatos já percorriam as ruas e avenidas de Belo Horizonte. Registros históricos indicam a primeira manifestação pouco depois da inauguração da capital mineira. Para alguns pesquisadores, em 1897, para outros, 1899 quando operários responsáveis pela construção de BH enfeitaram carroças, se vestiram de mulheres, pintaram as caras e desfilaram batendo latas e tambores.

A região do desfile também é objeto de discussão. Alguns indicam as imediações da Praça da Liberdade e outros, a Praça da Estação.
O fato é que a iniciativa dos primeiros operários deu origem ao corso, desfile em carros abertos enfeitados com foliões finamente fantasiados e aos blocos caricatos.

Na relação de blocos caricatos existentes somente na memória de antigos foliões estão o Domésticas de Lourdes, Bocas Brancas da Floresta, Imigrantes da Abissínia, Carrascos da Pedro Segundo, Satã e seus Asseclas e Leões da Lagoinha.  Em comum, o uso de caminhões para abrigar a bateria, músicos com a cara pintada e homens travestidos de mulheres.

O pesquisador Rafael Barros identifica uma diferenciação no Carnaval entre as camadas sociais. Enquanto as mais populares realizavam sua folia nas ruas, com desfile de blocos carnavalescos, as mais abastadas festejavam Momo em bailes particulares. Com o passar dos anos, as manifestações se misturaram, surgiram batalhas de confete, realizadas nas ruas pelas famílias ricas, e os bailes populares em quadras esportivas e espaços públicos.

Na avaliação de Rafael, até agora, a melhor época dos desfiles em BH foi nas décadas de 1970 e 1980. “Nesta época a cidade tinha o maior desfile do país em termos de movimentação e de opulência. Tinha escola com dois mil integrantes. Era luxo e glamour e uma grande mobilização do corpo comunitário. Tinha apelo popular, público na Afonso Pena e muitos puxadores de samba do Rio, como Neguinho da Beija Flor, reforçavam o desfile aqui”, comenta.

Os números registrados pela Belotur reforçam essa opinião. Em 1981, 17 escolas de samba e 12 blocos caricatos se apresentaram para um público de 170 mil pessoas. O número de expectadores dobrou em 1984, com 300 mil pessoas e o ano de 1985 registrou a participação de 23 blocos caricatos.  
 
Os blocos caricatos de 2014:
 
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