Este simpático carioca de 76 anos, natural da cidade do Rio de Janeiro e aperto de mão firme, está em terras mineiras. Mais precisamente na quase tricentenária Tiradentes, cidade histórica distante 120 quilômetros de Belo Horizonte, e que este ano sedia a 4ª edição de seu festival de fotografia, o Foto em Pauta. Apesar da agenda apertada, Firmo concedeu entrevista ao portal da Revista Encontro, e falou sobre sua experiência de mais de cinquenta anos na fotografia e sobre sua tipificação do trabalho do fotógrafo, que divide em três categorias: o ladrão, o engenheiro e o invisível.
Em princípio, alguns desavisados poderiam estranhar Walter rotulando um fotógrafo de "ladrão", mas a verdade é que ele faz essa associação – citando a ação de um fora-da-lei – a partir da expertise ou oportunismo para se conseguir o que planeja, ou seja "roubar" algo, o que, no caso do fotógrafo, seria o “furto” de um instantâneo sem prévio planejamento ou autorização dos personagens flagrados. De acordo com Firmo, o fotógrafo "engenheiro" é aquele profissional da imagem que trabalha os planos de forma harmoniosa e calculada, verificando e prevendo os resultados de suas fotos. Enquanto o fotógrafo “invisível” nada mais é que uma mistura dos outros dois: é aquele capaz de estar no lugar certo na hora certa, sem ser notado por seus fotografados e nem abrir mão da composição elaborada.
Ao ser questionado sobre qual é o novo lugar do fotojornalista nos dias de hoje, Firmo diz que é o mesmo de seu tempo, quando ainda trabalhava nas redações. “O que existe hoje é uma indefinição do que é ser fotojornalista.
Apesar de estar afastado das redações desde a década de oitenta, Walter Firmo descreve a tentativa de alguns fotojornalistas de se enveredarem na busca da imagem adequada ao seu espaço de trabalho, mesmo sem respaldo editorial e com pautas apressadas. Ele diz que os atuais fotógrafos estão mais bem preparados por uma condição intelectual mais desenvolvida, em comparação a seu tempo, quando atuava. Porém, estão mais “frios” e afoitos no que diz respeito à sensibilidade natural e à observação dos fatos. A tentativa de tornar o fotojornalismo mais “digestivo” ao leitor implica, segundo Firmo, na condição de uma entrega pessoal por parte do fotógrafo que não mais atende a seus anseios criativos. “Eu me cansei de ser fotojornalista porque o meu tipo de olhar e a minha fotografia, no jornal, passaram a ser muito pouco exaltados. Nunca fui um homem de registro .
Não voltar às redações foi uma escolha deliberada. Walter Firmo queria alçar novos rumos em sua carreira, embora sentisse saudade do frenesi diário de um jornal, e optou por transmitir sua experiência: tornou-se professor e ministrou aulas de fotografia em diversas entidades. Ele também foi diretor do Instituto Nacional da Fotografia, órgão ligado a Fundação Nacional de Arte – convite que veio do ex-ministro da cultura Celso Furtado. Esse instituto deixou de existir na era Collor, na década de 1990.
Seduzido pelas montanhas e pela luz ímpar das cidades interioranas mineiras, como ele mesmo diz, Firmo destaca a docilidade e a brejeirice hospitaleira do mineiro. E nessa seara, ele exalta o importante papel da mulher na fotografia, como delicada e sensível, e ao mesmo tempo, forte no embate. Porém, é categórico quando diz que a mulher não deve encarar o fotojornalismo como quem faz um crochê ou a comida para o marido e os filhos: “Elas devem colar a sua armadura e ir para a luta sem frescura”.
Para Walter, o futuro da fotografia está na criatividade. O preceito de se ter uma câmera cheia de recursos em nada tira o brilho da ideia e da capacidade de se pensar a fotografia como meio de expressão. Isso porque ele já disse, em outras entrevistas, especialmente na fase de transição entre os dois processos de captura de imagem – a película e o sensor eletrônico –, que a fotografia digital não existia. Aliás, nesse universo, Walter Firmo acredita que o profissional não deve ser escravizado pelos recursos do equipamento, pois observa neles um aliado prático que veio para melhorar a fotografia.
Livros publicados por Walter Firmo:
- Antologia Fotográfica (1989)
- Nas Trilhas do Rosa (1996)
- Paris: Paradas Sobre Imagens (2005)
- Brasil e Imagens da Terra e do Povo (2009)