Revista Encontro

Patrimônio

Abertura do Cine Pathé está cada vez mais distante

Uma disputa comercial adia as obras de restauração e modernização de um dos primeiros cinemas da capital mineira

Fernanda Nazaré
Já são 15 anos de espera.
Um dos mais tradicionais cinemas de rua de Belo Horizonte ensaia uma reabertura que parece nunca chegar. Desde a exibição de sua última sessão, em 1999, o imóvel que abrigou o Cine Pathé, no coração da Savassi – a meio quarteirão da praça Diogo de Vasconcelos –, região centro-sul de Belo Horizonte, já foi igreja evangélica, feira popular e estacionamento. Atualmente, de portas fechadas, ele espera o início das obras de restauração da fachada e a construção de um prédio de nove andares.

Anunciada no início de 2013, a prometida reforma nem chegou a sair do papel. Em 2012, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de BH aprovou o projeto da Farkasvölgyi Arquitetura e da construtora PHV Engenharia, para a edificação de uma torre comercial. A condição para essa obra, segundo a Fundação Municipal de Cultura (FMC), era a manutenção da fachada e a doação do andar térreo, onde está o cinema, à administração da prefeitura.

O projeto, que continua engavetado, prevê a construção de um edifício comercial com entrada pela rua Alagoas, além de dois níveis subterrâneos com garagem.
Os andares que dão acesso à avenida Cristóvão Colombo receberiam um cinema multiuso, com capacidade para 252 poltronas, além de espaço para exposição e uma cafeteria.

De acordo com a assessoria da FMC, as negociações entre os autores do projeto e o dono do imóvel, o empresário Bruno Henriques, não vingou. O local está alugado até 2017 para o shopping Xavantes. Aliás, no final do ano passado, durante o Natal, o imóvel do Pathé chegou a abrigar uma "filial" do comércio popular, que durou pouco, e foi fechada por falta de alvará. Como explica a FMC, no mês passado, foi protocolada junto ao Conselho do Patrimônio Cultural a intenção de se reabrir o local para instalação do shopping popular.

O charmoso letreiro luminoso do Cine Pathé ainda convidava os belo-horizontinos para uma sessão de cinema na década de 1970 - Foto: Arquivo EM/D.A PressPreservação

Inaugurado em 8 de maio de 1948, na avenida Cristóvão Colombo 315, na Savassi, seu nome é uma homenagem a Charles Pathé, que construiu, na França, no início do século passado, o primeiro império cinematográfico. O tradicional cinema faz parte da história de muitos belo-horizontinos e já foi até inspiração para a música Tão Seu, letra de Chico Amaral e Samuel Rosa: "Não diga que não vem me ver. De noite eu quero descansar. Ir ao cinema com você. Um filme à toa no Pathé".

A socióloga Celina Albano, ex-secretária de Cultura de Minas Gerais e autora de um livro sobre o Cine Pathé, afirma que é preciso lutar para preservar o patrimônio cultural de BH. Sobre o cinema de rua da Savassi, ela explica que tentou negociar com o prefeito, na época de seu secretariado. "Tem quem haver uma aliança do poder público com o privado", diz.

Celina ainda lamentou a notícia de que o cinema, que um dia estampou um letreiro luminoso ao estilo de Hollywood, continua sem um uso definido. "A gente vive num mundo em que o empresariado brasileiro só quer ganhar dinheiro, não tem aquela generosidade de espalhar cultura".

O dono do imóvel, Bruno Henriques, que também é diretor do complexo de cinemas Cineart, e os representantes da PHV Engenharia não retornaram os contatos da redação até o fechamento da matéria.

A perspectiva mostra como deve ficar a sala de cinema do Pathé, de acordo com o projeto da PHV Engenharia - Foto: Divulgação.