Filho de Isabel, uma negra livre, com um mestre-de-obras português, Manoel Francisco Lisboa, Aleijadinho iniciou nas artes ainda na infância, observando o trabalho do pai, que também era entalhador. De acordo com Marcos Paulo de Souza Miranda, promotor de Justiça e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, até recentemente, tudo o que era publicado sobre o artista não passava de reprodução de um texto de Rodrigo José Ferreira Bretas, escrito em 1858, ou seja, 44 anos após a morte de Aleijadinho – que data de 18 de novembro de 1814.
A morte do artista é outro mistério que ainda paira em sua história.
Contudo, qualquer que fosse a condição de saúde do mestre escultor, é sabido que a limitação o obrigava a trabalhar com ferramentas amarradas às mãos. Acredita-se que, quanto mais a doença se agravava, mais perfeição ele buscava. Seu estilo inovador tornou-se um expoente da arte colonial no Brasil e, até hoje, é admirado pelo conjunto de belas obras sacras em madeira e pedra-sabão. "Aleijadinho deixou um legado de arte e fé à humanidade. Algo que não pode ser mensurado em cifrões", salienta Marcos Paulo.
Vale a visita
Mesmo com a doença, o escultor deixou, ao longo dos 76 anos de vida, grande acervo de obras, concentradas, principalmente, nas cidades mineiras de Ouro Preto, Congonhas, Mariana, Sabará e Barão de Cocais. A maioria já é conhecida pelos apreciadores, mas existem peças ainda pouco conhecidas.
Aleijadinho, poucos sabem, trabalhou na construção de uma igreja na Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, entre 1783 e 1786, aproximadamente. Em 1910, a construção foi demolida e as peças distribuídas na região. "Os altares, por exemplo, foram para Nova Lima, na Matriz de Nossa Senhora do Pilar. A paróquia Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Felixlândia, cidade mineira próxima a Três Marias, também teria recebido peças da Fazenda da Jaguara. Algumas obras estão em poder de particulares em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo", diz o promotor.
O artista plástico Elias Lyon, marianense de coração e influenciado pelas obras do artista, indica o que não se pode deixar de conferir em uma visita à Mariana (MG): além dos monumentos mais famosos, mesas de celebração da Igreja Matriz, as cadeiras produzidas para o cabido da diocese e uma pequena pia de água benta, que se encontram no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra da cidade.
Novidade
Uma extensa programação cultural marca as comemorações do ano do barroco e o bicentenário de morte de Aleijadinho, na capital e no interior de Minas.
Além de sediar a programação cultural, Congonhas será a primeira cidade brasileira contemplada no projeto Era Virtual – Cidades Patrimônio. A partir do próximo dia 17 de novembro, será possível realizar uma visita virtual ao conjunto do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, onde se encontram obras de Aleijadinho e, ainda, os núcleos que compõem o circuito de peregrinação da cidade histórica. "Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, poderá ter uma perspectiva diferenciada do conjunto, a partir de imagens imersivas em 360º", explica Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação de Cultura de Congonhas e do Museu do Aleijadinho..