Revista Encontro

ARTE

O mineiro que é considerado um mago da fabricação de violas

Antônio José Cabral produz os instrumentos a partir de bambu, cabaça e madeira há mais de 20 anos em Bom Despacho. Suas peças estão nas mãos de violeiros renomados, inclusive estrangeiros

Geórgea Choucair
As violas do Seu Cabral já passaram por violeiros de renome, como Adriana Farias, do trio sertanejo Barra da Saia, e o músico Chico Lobo - Foto: Sabrina Cabral/Divulgação
Quem passa pela avenida Governador Valadares, na cidade de Bom Despacho, no centro-oeste de Minas, costuma ouvir com frequência o som de música caipira tocando. No repertório consta, principalmente, os clássicos Chico Mineiro e Menino da Porteira, de Tonico & Tinoco.

O som vem da casa de Antonio José Cabral, um senhor de 76 anos que fabrica violas artesanais de madeira, bambu e cabaça há mais de duas décadas. A produção acontece na varanda de sua casa, onde também costuma fazer os testes nas peças.

Os instrumentos do Seu Cabral das Violas, como é conhecido na cidade, já passou por violeiros de renome, como Adriana Farias, do trio sertanejo Barra da Saia e o músico Chico Lobo. O reconhecimento é tão grande, que ele já recebeu visitas ilustres, como a dupla sertaneja Zé Mulato & Cassiano e o violinista Fernando Sodré.

As violas do Seu Cabral também já cruzaram fronteiras e chegaram a clientes na Argentina, Estados Unidos, Londres e até Japão. Muitos fazem questão de ir pessoalmente buscar a peça em Bom Despacho. E lá são recebidos com muita simpatia pelo artesão, homem simples e que adora uma prosa, ao som da viola, claro.

Os instrumentos que fabrica são em tamanho pequeno, médio e grande. Cada peça custa R$ 1,5 mil - Foto: Sabrina Cabral/DivulgaçãoEle fabrica instrumentos em tamanho pequeno, médio e grande. A matéria-prima vem de doações de amigos e aproveitamento de entulho de casas antigas. O resultado são violas de bom gosto e acabamento impecáveis.
O Seu Cabral cuida com muita paciência de cada detalhe, desde a escolha das madeiras até a decoração do corpo do instrumento, com marchetaria (encaixe perfeito de diversos tipos de madeira). Cada peça custa R$ 1,5 mil.

Ele já perdeu as contas de quantas violas produziu. Chega a gastar até um mês para fabricar com muito carinho cada unidade. Se o tempo estiver chuvoso ou muito quente, o prazo pode ser maior, em função da dilatação da madeira. "São muitos detalhes", diz. Quem compra tem prazo de a perder de vista. "Eu não estipulo tempo. Qualquer problema que a pessoa tiver, pode trazer de volta. Mas até hoje ninguém voltou", orgulha-se.

Nascido em Santo Antônio do Monte, Seu Cabral aprendeu o ofício da fabricação de violas com o pai, que era carpinteiro. Inicialmente, foi essa a profissão que seguiu, mas, hoje, além da paixão pelos instrumentos, ele dedica-se, também, ao serviço de torneiro e fabricação de esculturas. "É um prazer. O tempo passa rápido e fazemos uma coisa que agrada todo mundo", diz. 

O carinho que Seu Cabral tem pelas violas é compartilhado em festas e reuniões de família. Ele tem seis filhos, dez netos e um bisneto.
Tocar e cantar ao som da viola faz parte dos encontros familiares, que são animados com músicas caipiras de raíz tocadas ao vivo.
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