ENCONTRO - Como começou a sua história no Downhill Speed?
PEPE LAPORTE - Eu sempre me amarrei em skate, desde novo já consumia um pouco do estilo de vida tanto nas roupas como no jeito de ser. Quando eu tinha uns 6, 7 anos de idade tive o meu primeiro contato direto com o skate por meio de um primo mais velho, que já andava e surfava. Mas como eu jogava bola na época, acabei ficando dividido entre o skate e o futebol e acabei escolhendo a pelota. Depois de alguns anos eu mudei para Nova Lima e foi onde me reencontrei com o skate através do Downhill. Comecei a descer ladeira influenciado por alguns colegas de sala que na época já praticavam também.
Você treina aqui na grande BH? Quais os lugares preferidos, como é a sua rotina?
Eu costumo falar que sou privilegiado. A gente mora na Disneylândia do Downhill, não é à toa que o campeão do mundo e o vice-campeão mundial são do mesmo lugar. Belo Horizonte é cercada de morros e serras que nos permitem evoluir na prática. A gente costuma treinar na região de Nova Lima, Macacos, Moeda e Itabirito. Ano passado eu estava muito focado, corri em mais de 9 países diferentes disputando contra mais de 500 atletas do ranking mundial e acabei ficando com o vice campeonato. A minha rotina foi muito pegada entre vários treinos, dieta, academia, fisioterapia e personal trainer. Por trás de qualquer atleta de alta performance existe muita dedicação e resiliência. A gente trabalha com resultado. Neste ano eu vou participar de apenas um evento, em Barcelona. É um evento especial em perfil olímpico que vai funcionar como uma possível chance de entrada do Downhill nas Olimpíadas de 2024. Estarei correndo somente na Espanha devido a execução do nosso novo empreendimento que vamos abrir agora em julho, no Vila da Serra. Este ano minha energia está voltada a retribuir ao skateboard tudo o que ele me trouxe e traz de bom na minha vida e na vida daqueles que compartilham esse lifestyle.
O LayBack Park BH com certeza foi um encontro de pessoas na mesma energia, surfando a mesma onda, que acreditam que ideias não são nada sem execução. Há bastante tempo já venho prospectando algo parecido com o que estamos realizando hoje.
O recorde mundial de velocidade no downhill é 146 km/h. Você tem uma estimativa da velocidade média que costuma atingir nos treinos e nas competições?
Essa marca foi batida em um evento especial que tinha como finalidade quebrar o maior recorde da história. Não tenho muito tesão em competir esse tipo de evento, não é meu objetivo ser o mais rápido em linha reta. Tenho um estilo mais técnico e solto. Eu prefiro muito mais uma corrida de verdade, que envolve mais competidores e mais habilidades.
Sua família tem medo de você machucar?
Minha família tem muito medo, eu também tenho muito medo, meus amigos têm muito medo. Enfim, é inquestionável que o nosso esporte é de alto risco e se eu te falar que não tenho medo nenhum, estaria mentindo para você.
E como foi sua trajetória no Campeonato Mundial de 2018?
Ano passado tive a honra de representar o Brasil em 10 etapas do circuito mundial viajando por oito países. O ano é dividido em tours: Ásia e Oceania, Europa, norte-americano e sul-americano. Estive na Austrália, Coreia do Sul, República Tcheca, Itália. Estados Unidos, Equador, Peru e Brasil. Acabei ficando em segundo no ranking mundial! Foi uma jornada gratificante, muito difícil, cansativa, com algumas lesões, muita dor, mas também muita alegria e muita vontade de estar lá representando a nossa bandeira. Enfim, acho que tudo vale a pena quando se tem amor e fé na batalha que escolhemos lutar. As etapas de cada continente do tour mundial também são válidas para premiar o campeão local e eu acabei sendo bicampeão sul-americano pelos meus resultados nas etapas do Peru, Equador e Brasil.
A Federação Internacional de Downhill colocou você como um dos favoritos para ganhar o título de campeão mundial, atrás apenas do Thiago Lessa. Como é concorrer com alguém que você tem uma relação tão próxima e qual a sua expectativa para o campeonato deste ano?
Eu e o Thiago andamos juntos há um bom tempo. Ele é 9 anos mais velho que eu, sempre foi uma inspiração para mim e quando eu comecei o Lessa já se destacava. Ele era o cara daqui de BH que já tinha um reconhecimento nacional e estava começando sua empreitada mundo afora. Ele é o Max Ballesteros foram dois caras que me motivaram muito a seguir no esporte e puxaram meu nível para outro patamar. Ano passado eu e Thiago fizemos história, pois foi a primeira vez que dois amigos, que treinam juntos todos os dias, disputaram o circuito mundial e trouxeram o primeiro e o segundo lugar para casa. Dentro da corrida somos todos profissionais, não tem amizade, têm profissionais que estão ali com o objetivo de vencer e que se respeitam. Mas não importa o que aconteça na pista, somos amigos, somos irmãos, nos respeitamos e é assim que tem que ser. O skate é isso: dentro de campo todo mundo quer ganhar, mas nada que atrapalhe a nossa união e o nosso companheirismo. Hoje o Thiago e o Max são como uma família para mim e olhar para trás e ver o quanto já realizamos juntos, desde os dias de luta aos de glória, é realmente muito gratificante. E a minha sensação é que essa história está só começando!