Ao pé da letra, food truck quer dizer caminhão de comida, porém o conceito engloba mais que isso. Popularizados nos Estados Unidos, sobretudo após a crise imobiliária que expulsou donos de restaurantes e chefs de seus “hábitats”, em 2009, os automotores ganharam fama em razão das opções rápidas e acessíveis de pratos e lanches gourmet – que usam produtos nobres e são feitos com técnicas refinadas. Para que isso ocorra, é necessário criar uma espécie de minicozinha industrial sobre rodas, com itens como fogão, freezer, chapa, fritadeira, forno, geradores, coifas e toda linha de serviço, além de sistemas hidráulico e de detritos independentes.
Os defensores do food truck contam que o maior benefício é a redução dos custos, como impostos e aluguel.
Outro ponto positivo é a divulgação da marca em diferentes locais, o que amplia a possibilidade de fidelização do público. “Quando uma casa abre e o ponto não funciona, ele fica empacado e os equipamentos estragam. Com o carro, há a vantagem de se montar uma cozinha com qualidade e levá-la para qualquer lugar”, diz o administrador da página do Facebook Comida de Rua BH (um dos primeiros pontos de encontro dos entusiastas), chef Flávio Dornas. Ele também defende que o movimento valoriza o costume de alimentar-se na rua, enquanto sonha em abrir um para, “de repente, servir paella com ingredientes daqui”, explica.
Na opinião do consultor e administrador da página do Facebook Food Truck Brasil, Josias Reis, que vivenciou os food trucks quando morava em Nova York e está envolvido no movimento em São Paulo e em Minas, a tendência é o fortalecimento com o interesse de outros empreendedores. “Rio, Curitiba, Brasília e Recife estão se mobilizando também”, diz.
Na capital paulista, o movimento para legalizar os “caminhões” começou depois que os primeiros apareceram nas ruas e em espaços privados. Em BH, o grupo de entusiastas preferiu procurar integrantes do Legislativo, especialmente os vereadores Marcelo Aro (PHS) e Pablo César de Souza (Pablito-PV), na intenção de estrear dentro da lei. “O food truck já é uma realidade nos Estados Unidos, na Europa, e não adianta querermos não enxergar o que é visível, é uma tendência mundial”, diz Aro.
A base do projeto, protocolado na Câmara Municipal em julho, é similar à lei paulistana, mas o grupo também observou a legislação internacional e itens do Código de Posturas de BH, que já traz considerações sobre alimentos vendidos nas ruas (veja box com as propostas).
Representantes da prefeitura se reuniram com os entusiastas em abril, dois meses depois da primeira audiência pública. “Fizemos uma apresentação de como é e como funciona o food truck. Cada representante, como BHTrans, Guarda Municipal, disse que não via problema na iniciativa”, comenta o ex-proprietário do bar Particular, Luigi Russo, que estudou as leis norte-americanas e europeias e ficou responsável pela minuta que deu origem ao projeto. “A lei de BH está obsoleta porque o avanço da tecnologia sobre rodas dá possibilidade para manipulação de muitos alimentos”, diz. Luigi também pretende abrir um food truck, mas ainda não definiu exatamente o que vai fazer: “Estou estudando e acredito que possa ser algo revolucionário”, diz.
Segundo Aro, até que o projeto de lei entre em vigor, ainda há um processo, que deve consumir, ao menos, este semestre: primeiro, é necessária sua aprovação por comissões específicas, depois votação no plenário e, por fim, sanção ou veto do prefeito.