E deve ser simples também. Rita Lobo veio a Belo Horizonte na sexta, dia 29 de abril, para lançar o livro Cozinha Prática, elaborado em parceria com a editora Senac São Paulo, e que reúne todas as técnicas culinárias, truques de economia doméstica, sugestões de utensílios indispensáveis e receitas apresentadas na temporada #desgourmetiza de seu programa de TV. Na obra, a apresentadora foca nos básicos do dia a dia (como feijão temperadinho e arroz soltinho), especialmente a ideia de desgourmetizar a culinária.
À frente do site/produtora/editora/plataforma de vídeos Panelinha, ela conversou com Encontro sobre hábitos culinários dos brasileiros e sobre como cozinhar deve ser prioridade na vida de quem não quer depender da indústria alimentícia. Confira, abaixo, a entrevista e bon appétit!
ENCONTRO – Por que você diz que cozinhar é como ler e escrever, ou seja, todos deveriam aprender?
RITA LOBO – Como cozinhar foi algo desvalorizado nas décadas passadas, fica parecendo que depende de dom, mas não é. As pessoas devem entender que é um aprendizado, e que não se precisa aprender sozinho. Além disso, é fundamental, porque é uma ferramenta para uma vida melhor.
O que você caracteriza como "comida de verdade"?
A alimentação em casa, ou seja, o que é preparado em casa, e que sempre é mais saudável. As pessoas confundem alimentação com dieta. Se alguém tem uma alergia ou doença e não pode comer glúten ou lactose, por exemplo, tudo bem, é uma dieta. Mas, não se deve seguir esses modismos de que comer glúten engorda, comer lactose incha. Já houve outros modismos também, como a dieta do dr. Atkins etc. Todas passam. A comida de verdade é aquela que envolve ingredientes da terra e de animais, e que tenha passado pelo mínimo possível de processamento. Essa comida faz bem.
As pessoas alegam falta de tempo para preparar tudo em casa...
Falta de tempo é desculpa. Sempre vemos aquelas pesquisas que indicam, por exemplo, o tempo que as pessoas passam na frente da televisão, e é algo como três horas por dia. O que muitos não têm são habilidades culinárias – e que se aprende apenas cozinhando, praticando. Se tivessem essas habilidades, conseguiriam fazer pratos rápidos e não gastariam muito tempo em um preparo simples.
Por que criar o bordão "desgourmetiza, bem" para a atual temporada do seu programa de TV?
É mais uma 'tiração' de sarro. Como o brasileiro não cozinha com frequência, cozinhar virou coisa gourmet.
Para você, então, vale usar manteiga, leite e demais ingredientes que têm sido considerados inimigos da saúde?
Sendo comida, pode tudo. É preciso diferenciar daquilo que chamo de imitação de comida. Um molho de tomate industrializado que tem aroma sintético de manjericão, por exemplo. Você come, seu paladar reconhece aquele sabor, mas o corpo fica esperando o manjericão, que não está lá. Por isso é comida de mentira.
Você critica programas de culinária que colocam crianças em competição. Pode explicar melhor os motivos?
Acho que a relação com a comida já é complicada, atualmente, sem que se coloque as crianças competindo umas com as outras. Hoje, existe a 'medicalização' da comida, ou seja, come-se apenas em função do nutriente. Ingerimos cenoura por ter betacaroteno, e não se toma leite por causa da lactose. Assim, cria-se uma relação de inimizade com a comida, o que não é saudável.
Você gosta da cozinha mineira?
Amo! E sempre fico conhecendo algo novo quando venho a Minas. Da última vez que fui a Ouro Preto, experimentei bambá de fubá com couve e achei bom demais. É uma cozinha maravilhosa, mas é uma comida que é preciso saber preparar, não dá para 'engalobar' ..