Revista Encontro

Bem-estar

Estudo da Embrapa cria corantes com propriedades funcionais

Foram criados produtos a partir da jabuticaba, do jambo e do jamelão

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Pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro, desenvolveram corantes naturais a partir de cascas de jabuticaba, de jambo e de jamelão que, além de dar cor, promovem benefícios à saúde.
De potencial para as indústrias de alimento, farmacêutica e cosmética, os corantes, agora, começarão a fase de estudos de escalonamento e de validação industrial para que possam chegar ao mercado.

Há mais de cinco anos, os cientistas da Embrapa investigam novas funcionalidades para frutas como jabuticaba, jambo e jamelão. O esforço resultou na obtenção de produtos em pó, ricos em antocianinas – pigmentos solúveis em água com um espectro de cor que vai do vermelho ao azul, chegando a tons de púrpura.

Inicialmente, a equipe do laboratório de Cromatografia Líquida da Embrapa Agroindústria de Alimentos trabalhou em um processo para a produção de padrões de antocianinas de frutas brasileiras, já que os importados têm custo elevado e não são tão fáceis de encontrar. A partir da obtenção dos padrões, o estudo conseguiu gerar um insumo agroindustrial, rico em antocianinas, obtido a partir de cascas de jabuticaba, de jambo e de jamelão. Quando desidratadas e trituradas, as cascas desses frutos se transformam em pós, que podem ser utilizados como corantes naturais, suplementos alimentares e ingredientes funcionais pela indústria.

"Para o desenvolvido do produto em pó, as cascas dos frutos são submetidas a um processo de secagem, podendo ser utilizado um secador de frutas desenvolvido pela Embrapa. Trata-se de um processo simples e de baixo custo, podendo ser facilmente transferido para a pequena agroindústria", comenta Renata Borguini, pesquisadora da Embrapa. Após a secagem, são necessários alguns procedimentos para aprimorar as propriedades do produto, como granulometria, solubilidade e homogeneidade do pó.

A pesquisadora lembra que, atualmente, há um crescente interesse por corantes obtidos a partir de fontes naturais, principalmente devido à toxicidade de produtos sintéticos e à proibição do uso de alguns deles. É comum relatos de casos de alergias a corantes artificiais, como a tartrazina, especialmente entre crianças e idosos.
Em diversos países do mundo, como nos Estados Unidos, a pressão de grupos de defesa do consumidor tem forçado a indústria de alimentos a trocar alguns corantes artificiais, associados a alergias, hiperatividade e câncer, por outros naturais à base de plantas e especiarias. Na Suécia, por exemplo, somente corantes naturais são autorizados para uso em alimentos.

"O Brasil vai ter que correr para substituir corantes artificiais por naturais. Creio que as medidas restritivas de uso de corantes artificiais vão chegar logo ao país. Os corantes naturais são mais caros, mas agregam valor ao produto. Eles possuem diversas vantagens, são mais saudáveis e nutritivos, além de apresentar melhor qualidade", afirma Ronoel Godoy, também pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Mesmo assim,  corantes naturais obtidos a partir de frutas ainda enfrentam algumas barreiras para se consolidar no mercado, como a escala de produção, dificuldade de aquisição de matéria-prima e falta de tecnologia para sua obtenção. Contuto, graças à pesquisa científica, alguns desses desafios já estão sendo superados. "Essa tecnologia para obtenção de corantes naturais é bem simples, já foi testada e pode ser disponibilizada pela Embrapa. Quanto à obtenção de jabuticaba, há produção comercial em alguns lugares do país, o que viabiliza a  produção industrial", comenta o pesquisador.

A equipe da Embrapa detectou que o produto em pó de jabuticaba, além ser uma matéria-prima mais facilmente encontrada no país, oferece melhor estabilidade, solubilidade e cor mais atraente, quando aplicado como corante em alimentos.

Propriedades funcionais

As antocianinas ganharam destaque nos últimos anos, especialmente devido à propriedade antioxidante, potencialmente benéficas à saúde. A demanda pelo consumo de frutas ricas nesse nutriente tem aumentado sistematicamente nos últimos anos.

Os efeitos funcionais benéficos para a saúde dos extratos em pó de jabuticaba, jambo e jamelão também foram avaliados em testes in vitro de bioacessibilidade (o quanto está disponível após a ingestão) conduzidos pela pesquisadora Fernanda Peixoto, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), orientada por Ronoel Godoy, da Embrapa.

O teste em laboratório identificou que a bioacessibilidade das antocianinas após digestão gástrica foi de 13% para jabuticaba, 45% para jambo e 65% para jamelão, enquanto que a bioacessibilidade intestinal foi de 10% para jabuticaba, 15% para jambo e 45% para jamelão. Em conclusão, a mucosa gástrica desempenha um papel importante na absorção da antocianina. "O entendimento dos fatores que levam à liberação dos compostos da matriz do alimento, a extensão da absorção e o seu papel real no organismo são cruciais para determinação dos  mecanismos de ação e da sua influência na promoção e manutenção da saúde humana. Há ainda um longo caminho a ser percorrido para compreender todos esses fatores", explica Ronoel Godoy.

(com Agência Embrapa).