Revista Encontro

Mercado

Palavras como brie, gruyère e parma poderão sumir dos queijos fabricados no Brasil

Acordo entre Mercosul e União Europeia visa proteger produtos regionais, especialmente os europeus

Da redação com assessorias
Com certeza você já viu nas gôndolas dos supermercados alguns queijos que possuem as expressões "brie", "gruyère", parma", "gorgonzola", "feta" e "grana padano".
Mas, o que parece algo normal do mercado brasileiro pode sofrer uma grande mudança em breve. Isso porque um acordo internacional – ainda em andamento – entre o Mercosul e a União Europeia prevê o reconhecimento de 347 Indicações Geográficas (IG) do velho continente pelos baíses do bloco sulamericano, incluindo o Brasil, claro. Com isso, as nomenclaturas restritas aos produtos europeus poderão ser proibidas em nosso país.

Para quem não sabe, Indicação Geográfica é um instrumento de propriedade industrial que conecta um produto ou serviço à sua origem territorial. É uma espécie de "controle de qualidade", que incorpora reputação e agrega valor econômico ao bem ou serviço em questão.

Como parte do acordo com a União Europeia, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) abriu uma consulta pública na internet para receber questionamentos sobre as IGs de produtos de origem europeia que são amplamente comercializados no Brasil. Caso o reconhecimento das Indicações Geográficas seja aceito, pequenos e grandes produtores que atribuam as terminologias restritas aos europeus aos seus produtos deverão rever a nomenclatura utilizada.

"Somente aquelas marcas que atenderem rigorosamente aos critérios específicos determinados pelas IGs terão permissão para comercializar seus produtos no Brasil e nos demais países do Mercosul. Uma prática comum no mercado nacional, como vender queijos cuja marca esteja acompanhada da denominação 'tipo', numa tentativa de indicar semelhança com o produto original, não será mais permitida", explica a advogada Anne Holanda, da Daniel Legal & IP Strategy, do Rio de Janeiro.

Ainda de acordo com a especialista, o reconhecimento das Indicações Geográficas da União Europeia pelo Brasil tende a ser, em um primeiro momento, comercialmente mais interessante para os países europeus. "As IGs associadas aos produtos dos países europeus têm grande valor agregado e reconhecimento mundial.
Já o Brasil, ainda está aprendendo a reconhecer e a valorizar as Indicações Geográficas nacionais, como 'Vale dos Vinhedos', para os vinhos, e 'Canastra', para os queijos de Minas Gerais. Como no Brasil já são largamente utilizadas expressões como parma e brie, para identificar e comercializar produtos produzidos nacionalmente, essa restrição forçará os comerciantes locais a realizarem mudanças para continuarem suas vendas", comenta a advogada.

Contestação

Anne Holanda esclarece que existem diversas maneiras para empresas e produtores contestarem as IGs da União Europeia, entre elas: quando a indicação geográfica conflita com direitos adquiridos, por exemplo, quando a pessoa já utiliza o termo antes da IG ser reconhecida; denominação idêntica ou semelhante já registrada ou com registro em tramitação para o mesmo produto ou similar – se as marcas já são registradas para outros produtos que não aqueles da lista; quando a IG conflita com nome genérico ou de uso comum em produto brasileiro.

Vale dizer ainda que a medida não serve apenas para queijos. Termos como "prosecco" e "bordeaux", muito comuns em bebidas alcoólicas vendidas no Brasil, também poderão ter o uso restringido. Além disso, com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, os países do bloco sulamericano passarão a ter 200 Indicações Geográficas reconhecidas em território europeu..