Revista Encontro

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A maior obra do Inhotim

João Pombo Barile
None - Foto: André Mantelli e Carol Reis

 

Mecenas nunca foram muito comuns na história brasileira. Por aqui, são raros os donos de grandes fortunas que se preocuparam, efetivamente, com arte ou cultura. E puseram a mão na massa – e no bolso – para construir museus, bibliotecas ou universidades.

Daí a importância do trabalho que Bernardo Paz vem fazendo, há mais de uma década, no Inhotim. De maneira discreta, “sem tocar tambor”, como ele mesmo gosta de dizer, o colecionador mineiro revolucionou o mundo das artes plásticas. E pôs a pequena cidade de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, no centro do debate da arte contemporânea mundial.

O problema é que Inhotim acabou muito dependente da figura de seu patrono, como ele mesmo reconhece. O próprio Paz decidiu aplicar, em seu instituto, um instrumento hoje muito usado em museus de todo o mundo: lançou o Amigos do Inhotim, projeto com o qual pretende arrecadar fundos para sustentar as despesas do instituto. Em outras palavras: ele quer mais “mecenas” para Inhotim, vindos da sociedade civil, e não apenas das grandes empresas.
 

Bernardo Paz: “Manter um lugar assim exige envolvimento do estado, da iniciativa privada e da sociedade civil”
 
Por enquanto, no papel
 
Algumas ideias que estão sendo estudadas pela direção do museu
 
– Construção de um centro de distribuição para atender pousadas e restaurantes
– Construção de pousadas de pequeno e médio porte. Cada pousada terá um restaurante conceito comandado por um chef renomado, criando assim um roteiro gastronômico na região hoteleira
– Central de carrinhos de golfe que farão o transporte de hóspedes entre pousadas, centros, rua do comércio, Inhotim e restaurantes
– Criação de um spa de nível internacional para atender as pousadas no entorno do Inhotim
– Construção de um grande teatro que será palco para a abertura de todos os shows de turnês nacionais e internacionais
– Construção de uma concha acústica na região de Brumadinho
– Construção de um campo de golfe com 9 buracos para atender os condomínios e pousadas
– Construção de um condomínio para a classe alta dentro do Inhotim
– Condomínio para classe média perto da estrada que liga a BR-381 a Brumadinho
– Construção de um aeroporto para aviões de pequeno porte.
Possivelmente haverá um voo da Azul ligando Brumadinho às principais capitais do Brasil
 


 


“O Inhotim teve seu começo como uma iniciativa particular minha. Mas, desde 2006, tornou-se um espaço público quando se transformou numa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)”, diz Paz, que teve a ideia de criar o lugar ainda em 1995, quando se viu confrontado com a morte depois de sofrer um derrame em Paris. “Ele foi construído na base da persistência e com os meus próprios recursos. Mas acho que a manutenção e a perenidade de um lugar assim exigem o envolvimento de diversos setores da sociedade, seja o estado, a iniciativa privada ou a sociedade civil.”

Segundo o diretor-executivo do Inhotim, Hugo Vocurca, o custo para manter a instituição de portas abertas é de aproximadamente R$ 24 milhões por ano. Um valor que, nem de longe, é coberto com a venda de ingressos de quem visita o local. “Dessa despesa, 75% vem de recursos do próprio Bernardo. Uma situação insustentável no longo prazo”, analisa o economista que, desde 2009, se juntou ao instituto depois de ter sido Secretário Municipal de Educação de Belo Horizonte durante a gestão do prefeito Fernando Pimentel.

O projeto Amigos do Inhotim prevê uma contribuição anual de seus participantes. "Conseguir garantir o acesso a esse patrimônio cultural e ambiental a toda a sociedade é um dos nossos mais importantes desafios”, conta Hugo. “Daí a importância do Amigos do Inhotim”.








Obra de Hélio Oititica, uma das mais famosas do museu: em menos de dez anos, 17 galerias, 500 obras e mais de 100 artistas


A prática de apoiar museus é bastante usual em outros países. Na Argentina, por exemplo, a Asociación Amigos de Malba, um dos mais importantes museus do país vizinho, existe desde 2001. Nos Estados Unidos, dezenas de museus, como o MoMA ou Metropolitan Museum of Art, adotam a prática há muito mais tempo. Na Europa, o museu Thyssen-Bornemisza, em Madrid, é outro bom exemplo.  Em Belo Horizonte,  algumas empresas já integram a rede Amigos do Museu Inimá de Paula, uma iniciativa que ajuda a financiar um dos mais importantes espaços culturais surgidos na cidade nos últimos anos. A sociedade civil para de esperar que o governo resolva tudo e se mobiliza na ajuda à manutenção dessas instituições.

A direção do Inhotim recebeu no mês passado a visita dos associados da American Friends of the Louvre (AFL).

A organização foi criada para fortalecer o relacionamento entre o museu do Louvre, na França, e o seu público na América. A comissão, além de conhecer o paradisíaco local em Brumadinho, aproveitou a visita para trocar experiências sobre formas de financiamento. “Ficamos muito impressionados por encontrar tanta arte de vanguarda. Só vi um pouquinho, mas cada uma das diferentes instalações é incrível”, diz Christopher Forbes, presidente da AFL.

Outro problema no financiamento dos museus é que o dinheiro público é sempre pouco. “A maioria  das obras executadas é financiada por meio de doações de colecionadores e artistas. A falta de recursos chega até a comprometer o pagamento de funcionários”, diz Hélvio Tadeu Cury Prazeres, professor da Faculdade de Administração da PUCMinas.

Segundo o professor, recentemente aumentou a participação do capital de empresas privadas na promoção de museus, como a parceria Vivo/Museu Pelé. “A Fundação Bienal de São Paulo, por exemplo, lançou o programa Seja Amigo da Bienal, para incentivar o investimento de pessoas físicas e empresas”, diz Hélvio. A empresa obtém benefícios pela lei de incentivo fiscal em museus de arte, história, ciência, tecnologia, cultura e outros. Pessoas físicas e empresas podem abater o valor doado no imposto de renda.

A velocidade de crescimento do Inhotim impressiona até mesmo os mais céticos: em menos de dez anos, foram construídas 17 galerias com um acervo artístico que compreende cerca de 500 obras de mais de 100 artistas de 30 diferentes nacionalidades. São 21 obras de arte externas espalhadas por um jardim botânico que apresenta um dos maiores acervos de espécies vegetais do mundo.

Tanto sucesso fez com que algumas pessoas começassem a levantar suspeitas da origem do dinheiro de Paz para construir seu paraíso.
No episódio mais traumático, ele teve a imagem ferida pelo envolvimento do irmão, Cristiano Paz, no caso do mensalão, em 2005. O irmão publicitário era sócio de Marcos Valério.



“Meu trabalho, de uma hora para outra, foi colocado sob suspeição”, diz Paz, que durante meses viu-se às voltas com jornalistas investigando sua vida privada, interessados em descobrir alguma história escabrosa que rendesse boa manchete. “Não descobriram nada.”, rememora irritado.

Polêmicas à parte, dinheiro não é mesmo o que parece faltar para esse empresário mineiro. No ano passado, ele vendeu por 1,2 bilhão de dólares um dos seus ativos de minério de ferro aos chineses. Na mesma época, conseguiu do Ministério da Cultura autorização para captar R$ 12 milhões via Lei Rouanet, que serviu para o plano de investimentos do seu instituto no ano.



 

Vista parcial de Brumadinho: empregos vinculados à cultura
 
Turismo e mineração
 
Se Brumadinho sempre teve na mineração sua principal atividade econômica, com a inauguração do Inhotim a situação está mudando. O turismo vai, gradativamente, tornando-se a principal atividade da região. Nos últimos dez anos, pousadas charmosas e bons restaurantes se instalaram na região. E geraram centenas de empregos.

Em 2008, foi criada a Rede de Empresários do Médio e Alto Vale do Paraopeba. A entidade promove encontros periódicos entre proprietários de restaurantes, pousadas e hotéis da região. Segundo donos de pousadas e restaurantes, o crescimento da demanda de serviços é continuo e forte. “As pessoas que, até há dois anos, vinham apenas para o fim de semana passaram a chegar já na quarta-feira e ficar até domingo. Com isso, o faturamento aumentou 80%. Estou com todos os quartos ocupados até o meio do mês que vem”, afirma Andrea Drummond, dona do Espaço de Aventuras Verde Flores, em Casa Branca. A procura por acomodação na região foi tanta que ela até teve que sair de sua casa para poder criar mais vagas na sua pousada.

O crescimento também é sentido por Denísia Francisca Maia. Dona do restaurante Ao Pé do Jatobá, um dos mais procurados na região, ela conta que quando abriu seu negócio tinha só 10 mesas. Hoje são 62. “A mudança ocorrida aqui nos últimos dez anos foi impressionante”, diz Denísia, nascida em Brumadinho. “Quando alguém me pergunta se o turismo aqui vai vingar, eu digo na hora: não vai vingar. Já vingou”, diz, entusiasmada.

 

 

Conheça as modalidades do Amigos do Inhotim


– Individual - R$ 150,00 por ano


– Estudante - R$ 75,00 por ano


– Família - R$ 280,00 por ano


– Benfeitor - R$ 1.000,00 por ano


– Benfeitor Master - R$ 5.000,00


– Patrono - R$ 10.000,00 por ano

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