Revista Encontro

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A Savassi vai ficar assim

Simone Dutra
None - Foto: Geraldo Goulart e Arquivo PBH

A região mais charmosa de BH está mudando. O desafio não é pequeno: apesar de ainda concentrar alguns dos quarteirões mais atraentes e cobiçados da cidade e reunir bares badalados, a Savassi perdeu fôlego nos últimos anos, vitimada pelo trânsito intenso e o fechamento de alguns bares. Desde o mês passado, virou um canteiro de obras. A ideia da prefeitura da capital é resgatar o ar de elegância e sofisticação que sempre marcaram o local. Daqui a um ano, o belo-horizontino verá se valeu a pena ou não tanta quebradeira nas ruas. A julgar pelos projetos já divulgados, e que Encontro mostra ao leitor agora, dá para ser otimista.

As obras abrangem as áreas dentro do quadrilátero, ou seja, as ruas Pernambuco, Antônio de Albuquerque, Tomé de Souza, Paraíba, Fernandes Tourinho e Alagoas, além das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas. A meta é priorizar o pedestre. Para isso, serão criadas áreas de lazer e convivência para incentivar a permanência nos espaços públicos.


As intervenções já começaram na rua Pernambuco, no cruzamento da rua dos Inconfidentes, avenida Getúlio Vargas e Cristóvão Colombo.

Além do fechamento do quarteirão, o projeto inclui elevação das outras travessias, melhoramento da iluminação, padronização do mobiliário urbano, como banca de revista, telefones públicos, lixeiras. Além de instalação de quatro fontes luminosas, alargamento das calçadas, a retirada dos pontos de táxi e a instalação de um monumento no cruzamento das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas.

A previsão de conclusão das obras é para o primeiro semestre de 2012, com investimento de 10,4 milhões de reais. A maior parte desse dinheiro vem de um repasse do Shopping Pátio Savassi. Para ampliar seu espaço, o empreendimento precisou desembolsar mais de 7 milhões de reais e fazer algumas alterações no projeto de expansão, como nas entradas das garagens. Para concluir as obras da Savassi, os 3,4 milhões de reais restantes virão dos cofres da prefeitura.

O foco no pedestre tem como exemplo a revitalização das praças Sete e Raul Soares. Assim, serão construídas rampas para pessoas com deficiência física e o assentamento de pisos táteis (para cegos). Os jardins dos canteiros centrais e o mobiliário urbano também serão substituídos.

Mas nem tudo são flores. Os comerciantes, por exemplo, estão preocupados com a extinção das vagas de estacionamento rotativo nos quarteirões que serão fechados. A estimativa da prefeitura é de que 200 pontos regulamentares de parada deixem de existir. Levando-se em conta a rotatividade dos ocupantes, representa espaço para cerca de 1 mil veículos. “Como trata-se de uma obra que privilegia os pedestres, certamente os motoristas encontrarão outros locais para estacionar”, afirma o secretário.

O comerciante e cabeleireiro José Gonçalves Lopes se encaixa nesse grupo. Sua barbearia, aberta em 1979, está localizada na rua Pernambuco, na esquina com as avenidas Getúlio Vargas e Cristóvão Colombo. Para ele a revitalização é necessária, pois a região realmente precisava de uma repaginada.
“O problema são as vagas de estacionamento que havia aqui em frente, que não existirão mais depois das obras prontas”, reclama.

A relações-públicas carioca Alessandra Campos está morando há mais de um ano na capital mineira. Ela aprova as obras da prefeitura “Minha expectativa é de que melhorem bastante as calçadas, porque frequento muito a região com meu filho. Como ele é pequeno, coloco-o no carrinho, mas hoje é quase impossível passear com ele por aqui”, afirma. As amigas australianas Abigail Trewartha e Michelle Dittloff também estão em BH há pouco mais de um ano. Vieram para o Brasil para fazer intercâmbio e moram na Savassi. “Adoramos a região. E depois das obras vai ficar melhor ainda”, diz Abigail.

Para o casal de comerciantes Márcio e Elizabete Matos, os transtornos das obras até o ano que vem compensam. “A Savassi vai trazer mais turistas e clientes para cá”, diz Elizabeth, que tem com o marido uma banca de revistas há quase 30 anos na rua Antônio de Albuquerque.

O engenheiro civil Marcos Orôncio frequenta a região desde os cinco anos. E recorda épocas passadas da Savassi, como a padaria que deu nome à região, o armazém Colombo, o supermercado Serve Bem e até mesmo os tempos em que o pirulito da praça Sete esteva no centro da praça Diogo de Vasconcelos. Segundo o engenheiro, as obras são boas, mas se a prefeitura não investir em transporte público, o trânsito vai piorar muito.
“Já está bem complicado, não pode piorar mais”, diz Orôncio. Depois das intervenções, a torcida dos amantes da Savassi, frequentadores e comerciantes é que a região fique linda e um charme só.
 

E o apelido pegou...

A praça Diogo de Vasconcelos foi inaugurada nos primeiros anos da antiga Curral del-Rei. Tudo começou com a abertura da padaria Savassi, que pertencia a uma família de imigrantes italianos. Inaugurada em 1939, a ela se juntaram outros comércios, como os bares do Espanhol e do Português, o armazém Colombo, o açougue Vila Rica e a Pensão Magnífica.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com o passar do tempo, o apelido Savassi ficou famoso e acabou nomeando a região, trazendo a elite belo-horizontina que passou a frequentá-la. Nos anos 1950, o rock chegou a Belo Horizonte e a região se firmou como parada obrigatória para os mineiros mais afortunados. Nessa época foi inaugurado o Cine Pathé.

Na década de 1960, a região se firmou como ponto comercial. A praça ganhou o pirulito, originalmente criado para ocupar a praça Sete. Ele permaneceu 18 anos no coração da Savassi e depois voltou a seu local inicial. Nos anos 1970, o tráfego aumentou, transformando a praça num dos lugares mais movimentados de BH.

Em 1980, a Savassi ganhou alguns quarteirões fechados, o que criou um ponto de parada de várias tribos de todas as idades, que procuravam paquera ou uma sombra para descansar. O trânsito se tornou cada vez mais tumultuado, mas isso não impedia a badalação noturna da região.

Já em 1990, a região ganhou o nome oficial de Savassi. Foi demarcada uma área que começa na praça Tiradentes, na esquina das avenidas Brasil e Afonso Pena, e segue até a praça da Liberdade, incluindo a parte alta da rua da Bahia, avenida do Contorno e praça Milton Campos.

A historiadora Regina Helena da Silva afirma que a praça da Savassi não foi construída para ter a importância que tem hoje. “Ela foi se tornando famosa por uso e apropriação das pessoas”, revela. Seu receio é de que a revitalização tenha efeito contrário e destrua a espontaneidade do local. “Essa tendência de se impor um uso para a Savassi é complicada. As revitalizações geralmente constroem cenários e isso não dá certo. As pessoas não gostam disso”, frisa Regina.

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