Revista Encontro

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Os médicos, o Zé e o domador

André Lamounier

O mais conhecido “médico” da atualidade todo mundo sabe quem é: chama-se dr.

Google. No entanto, embora popular, é importante ter em conta que o referido doutor não frequentou os bancos da academia, não tem títulos de especialista, tampouco “ralou” em prontos-socorros. Portanto, é preciso ter cuidado com o Google. Não há dúvida de que a internet pode ajudar muito. Mas nada além disso. Afinal, formação sólida, experiência e, talvez, o mais importante, o contato humano que deve pautar a relação entre médico e paciente não se encontra na internet.

É isso o que mostra a matéria de capa desta edição. Numa enquete inédita feita em MG, Encontro ouviu, ao longo de dois meses, 80 médicos em atuação na cidade, seja na clínica, seja na cirurgia, e pediu a eles que indicassem profissionais-referência na medicina de BH, em quase todas as especialidades.
Afinal, quem nunca recebeu a indicação de um médico feita por outro? A prática, comum nos consultórios, deve-se ao fato de que, ao menos em tese, médicos têm conhecimento e isenção para indicar colegas.

O resultado a que se chegou é uma demonstração cabal de que nada, absolutamente nada, é mais indicado do que um profissional experiente para assistir pacientes doentes. Os eleitos são profissionais com ampla vivência e vasto currículo. A média de idade entre eles é de 65 anos e a maioria tem formação complementar no exterior. “Para ser um bom clínico, é indispensável passar muitas horas num CTI”, diz o experiente dr. José Olinto Pimenta, uma sumidade em BH, e um dos escolhidos na clínica geral.

Depois de identificados os eleitos, a jornalista Daniele Hostalácio, com o brilhantismo que lhe é peculiar, foi atrás dos médicos para traçar um breve perfil de cada um deles e também para apurar informações consideradas relevantes. Uma dessas informações é o preço cobrado pela consulta. Alguns médicos recusaram-se a informar. Um deles chegou a dizer “não autorizo a divulgação de quanto cobro”. Encontro fez o que manda o bom jornalismo. Ligou para os consultórios, checou a informação e, por fim, decidiu publicá-la. Essa decisão foi motivada por um único fator: o interesse do leitor, para quem saber o preço é essencial.

Surgiu ainda, no decorrer da apuração, uma curiosidade. Na angiologia houve empate entre dois nomes: Ernesto Lentz e Caetano de Souza Lopes. Quando a reportagem ligou para o dr.
Caetano, ele pediu para desempatar e votou em favor do colega Lentz. “Eu aprendi muito com ele. Foi meu grande professor”, disse Caetano. “Prefiro que ele vença”. Ok, doutor Caetano, atendemos seu pedido. Mas o gesto de desprendimento não passou despercebido. Ajuda a fazer com que seu nome seja ainda mais vencedor.

Ainda nesta edição, em outro artigo, decidimos fazer mais uma homenagem, desta vez ao saudoso ex-vice-presidente José Alencar. Propus ao nosso articulista, o ex-ministro Patrus Ananias, que conviveu intensamente ao lado de Alencar nos últimos anos, que fizesse um artigo especial contando momentos de sua vida ao lado do “Zé”. Ele aceitou de pronto. “Será um orgulho fazê-lo”, disse Patrus.

Por fim, uma terceira matéria foi, para mim, marcante.
Trata-se do perfil de Fernando Mello Vianna, o maior treinador de cavalos do Brasil na atualidade. Inicialmente tive o ímpeto de eu mesmo fazer a reportagem. Como sou amigo pessoal do personagem, optei por delegar a tarefa à jornalista Carol Godoi e ao editor Heberth Xavier. Melhor assim. O Manual de Jornalismo recomenda isenção e objetividade. Não houve, portanto, interferência minha no texto. Mas, confesso, não conseguiria deixar passar um registro: a despeito de seu sucesso profissional, Nando, como é chamado, é muito “gente boa”. Aliás, com a licença do Manual, bota “gente boa” nisso.

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