Tem novidade no cobiçado, melindroso e disputado mercado de saúde dental no Brasil. E ela vem de Minas, tendo como protagonistas quatro jovens dentistas. O mercado é cobiçado porque tem forte demanda, sobretudo nos últimos anos, com o aumento da renda da população brasileira e a melhora nas técnicas de tratamento. É melindroso porque, para muitos, ainda não é de bom tom associar saúde e negócio. E é disputado porque cada vez mais grandes empresas enxergam nele um bom filão – vide o exemplo da Imbra, que pertencia ao grupo GP Investimentos.
É justamente a capacidade de trabalhar essas três características (melindre, disputa e cobiça) que pode explicar o sucesso da Arcata, empresa criada por quatro jovens dentistas mineiros. Em dois anos, ela se tornou a maior do país em implantes dentários sem corte graças à capacidade de mostrar agressividade na gestão, com ações de marketing e política de preços, mas sem esquecer o foco do negócio em si: o bem-estar do cliente – afinal, nunca é demais lembrar, trata-se de uma empresa de saúde. Até agora, pelo menos, a receita deu certo.
Tudo começou com o então estudante de odontologia Marcelo Ferreira. Aos 18 anos, ele já tinha a ideia fixa de montar a própria clínica.
No fim de 2009, eles abriram em Belo Horizonte a clínica Arcata, que se tornou conhecida por apostar nos implantes odontológicos sem corte.
O salto foi rápido - muito rápido. Há dois anos, logo que a Arcata abriu as portas, com oito consultórios, eram feitos no máximo cinco orçamentos por dia. Hoje, são mais de 35 diários e uma média de 150 novos contratos por mês. A empresa não aceita planos de saúde, tudo é pago em dinheiro. E o valor dos tratamentos não são baratos. Como o demanda por implantes dentários no Brasil é gigantesca, o negócio deu saltos.Metade do investimento para implantação da clínica, que no total foi de R$ 700 mil, foi recuperado já no mês seguinte à inauguração. “Para montar a clínica, vendemos carro, fizemos empréstimos e pedimos ajuda aos pais”, diz Rodrigo, 27 anos, caçula dos sócios.
Mas a aposta deu certo. A começar pela escolha do ponto, um imóvel na avenida do Contorno, na Savassi, ponto nobre da cidade. A área tem mil metros quadrados e, para alugá-la, tiveram que contar com a confiança do proprietário, que permitiu que os quatro fossem ao mesmo tempo locatários e fiadores do negócio. “Foi muita coragem”, diz Marcelo. De cara, contrataram 25 funcionários, entre atendentes e dentistas.
O ator global José Wilker é o garoto-propaganda da empresa: marketing agressivo
Os negócios foram influenciados também pelo fechamento da clínica Imbra, que era a maior empresa do país, no setor. Em outubro passado, a Imbra fechou 26 clínicas em várias cidades, inclusive BH, lesando pelo menos 25 mil clientes. A situação da Imbra repercutiu em todo o país. Num primeiro momento, a associação entre as duas clínica foi inevitável. A Arcata perdeu clientes. “Mas com o tempo o mercado entendeu que éramos muito diferentes.
Empresa da GP Investimentos, de SP, que depois fora adquirida por outro grupo, o Arbeit, também paulista, a Imbra tinha agressividade comercial e de marketing. Falhava, contudo, na atenção à saúde de seus pacientes. O que a Arcata demonstra estar conseguindo, pelo menos até agora, é justamente aliar o melhor destes dois mundos: a visão de negócio e o cuidado com a saúde.
Não obstante, o tratamento oferecido pela Arcata divide opiniões. Sucesso entre os pacientes – especialmente aqueles que têm medo de dentista – a técnica é vista com restrição por profissionais que defendem o método tradicional. A objeção acabou rendendo processos na Comissão de Ética do Conselho de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG).
Procurado por Encontro, o Conselho não apresentou detalhes sobre o processo, e foi evasivo nas respostas. Limitou-se a dizer que a acusação é de propaganda enganosa, por ser divulgado que não é necessário cortar a gengiva do paciente. “Na verdade, algum tipo de corte tem que ser feito”, afirma o dentista José Bernardes Neves, PhD em implantes, e concorrente da Arcata. Considerado um dos maiores especialistas da área no Brasil, Bernardes concorda, porém, que a técnica é de fato uma das mais avançadas existentes no mundo. Ele próprio a utiliza em seu consultório há quase sete anos. Alerta, porém, para o risco do uso indiscriminado desse tipo de implante dentário. “Só é possível utilizá-lo em número restrito de pessoas, que ainda conservam a estrutura óssea da boca”, afirma. Numa segunda conversa com a Encontro, contudo, Bernardes quis mudar o discurso. “Não autorizo a publicação de matéria”, afirmou. “Não quero me vincular a esta empresa”, disse.
Rodrigo Valério considera que a denúncia feita ao CRO é infundada e diz que a propaganda boca a boca é a maior prova de que o trabalho realizado pela clínica é bem-feito. Pelo menos 30% dos novos clientes são indicados por quem já fez tratamento. “Isso mostra que estamos atendendo bem às expectativas de quem nos procura”, diz.
Em março, a clínica inaugurou a primeira filial, no Rio de Janeiro. Em um mês, a unidade carioca somou pelo menos 55 clientes. “Temos projetos de expandir para todo o país”, diz o sócio Luiz Rafael Magalhães, com largo sorriso no rosto.
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