Revista Encontro

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Muito além do Banco Imobiliário

None - Foto: Geraldo Goulart, Cláudio Cunha e Paulo Márcio

Lembra o Banco Imobiliário? E o War? Esqueça! São os jogos modernos ou os chamados eurogames que estão ditando a nova tendência entre os maníacos por jogos de tabuleiro. A febre começou na década de 1990, na Alemanha, onde inúmeros jogos foram criados. Do país europeu, os exemplares começaram a rechear os armários de muita gente grande por aí. Ultimamente, os belo-horizontinos, em número cada vez maior, descobriram os jogos com dados, cartas e muita estratégia.

 

O comerciante Mario Lúcio Zico, de 47 anos, apesar do nome, não liga muito para futebol. Seu hobby é reunir os amigos e disputar partidas de tabuleiro em casa. Entre uma risada e outra, o clima fica sério e todas as atenções se voltam para a estratégia e o puro raciocínio. “O melhor disso é o que está em volta. A ideia é encontrar o tipo de jogo que mais agrada à turma de jogadores”.

Existe uma infinidade deles, sob os mais variados temas: fantasia, época medieval, guerra, meio ambiente...

 

Rodrigo Moreira e Julio Anastácio, sócios do Alfândega Bar: febre europeia vai chegar às noites de BH

 

“O diferencial dos eurogames é a gama de jogos. Tem para crianças e adultos, jogos mais rápidos e outros mais demorados”, afirma Mario, principal referência do tema em Belo Horizonte e um dos mais conhecidos no país. Os jogos modernos são elaborados como se fossem verdadeiras obrasprimas, tanto que os nomes dos autores são impressos com destaque na embalagem. Para os amantes da modalidade, é o autor do jogo que dita o prestígio do tabuleiro.
O preferido de muitos é o Descobridores de Catan, elaborado pelo alemão Klaus Teuber. O jogo vai ganhar uma versão brasileira ainda este mês, lançada pela fabricante Grow – vai se chamar Colonizadores de Catan e custará nas lojas de R$ 80 a R$ 85. Durante a partida, os jogadores têm que negociar matérias-primas e outras ações para construir uma cidade. O jogo é considerado entre os especialistas um divisor de águas, justamente por marcar o início dos lançamentos dos jogos modernos no mundo.

 

As peças e muitas embalagens de jogos se configuram como atração à parte. Miniaturas bem trabalhadas e produzidas com materiais resistentes são alguns dos diferenciais dos exemplares vindos da Europa e também dos Estados Unidos. Na Alemanha, por exemplo, é comum famílias inteiras se reunirem em torno do quadrado para a disputa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como no Brasil o mercado é incipiente em relação à produção de eurogames, o jeito é importar por meio de sites especializados ou simplesmente optar pela troca de exemplares entre os praticantes. Os jogos custam de US$ 30 a US$ 60.

 

O site Ilha do Tabuleiro (ilhadotabuleiro.com.br) é referência entre os jogadores brasileiros, pois permite conhecer a comunidade apaixonada pelos tabuleiros, além de trocar ideias e experiências com outras pessoas. O empresário Rafael Lima Mendes, de 31 anos, é um frequentador assíduo do site. “Jogo de tabuleiro é sinônimo de distração, alívio do estresse do dia a dia e, além disso, melhora o raciocínio”, garante. É inegável que muitos jogadores sofrem com preconceito.

Adultos em torno de um tabuleiro que não seja o tradicional jogo de damas ou xadrez podem dar margem a piadas desagradáveis. “Tem muita gente que discrimina, fala que é coisa de criança, mas sem conhecer”, desabafa Rafael. Ele tem razão. Na Europa, é muito mais fácil achar adultos à mesa do que meninos e meninas.

 

Alison Carmo Arantes, de 30 anos, também não liga para o que algumas pessoas dizem. O analista de sistemas gosta dos eurogames por pura diversão, mas vai além: segundo ele, os jogos ajudam a conhecer novos idiomas, já que os manuais são em sua maioria em inglês ou em alemão. “Prefiro os jogos de estratégia, com a temática medieval”, revela.

 

Rodrigo Moreira Corrêa, de 32 anos, analista de marketing e sócio do Alfândega Bar, gosta tanto da disputa no tabuleiro que teve a ideia de criar uma noite de jogos no estabelecimento, localizado no bairro São Pedro, em BH. “Prefiro os jogos de tabuleiro aos de videogame, pois eles favorecem a interação entre as pessoas”, diz Rodrigo. A jogatina no bar está prevista para iniciar já este mês, possivelmente nas terças-feiras.

 

Luish Moraes Coelho, professor de fotografia e, agora, designer de jogos: “Aos poucos, o Brasil entra na produção de tabuleiros”

 

André de Carvalho Martins, 25 anos e amigo de Rodrigo, é engenheiro de computação. Para fugir um pouco do mundo dos computadores, passou a pesquisar os jogos de tabuleiro. Em apenas dois anos, conseguiu reunir mais de 70 jogos.

“Sempre pesquiso novidades e isso é um ótimo pretexto para reunir amigos.”

 

Mas nem só de jogar vivem alguns amantes dos tabuleiros. O professor de fotografia da UFMG, Luish Moraes Coelho, de 39 anos, resolveu buscar na paixão pelos jogos a motivação para estimular seu poder criativo. Em 2008, elaborou o Recicle, jogo com a temática ambiental. “Além de divertida, a partida serve também de aprendizado e conscientização”. O jogo foi premiado em 2009, em São Paulo (SP), como melhor jogo de tabuleiro nacional em sua categoria.

 

Ganhou, um ano depois, uma segunda versão: Recicle – Em Tempos de Crise, tema de um artigo na revista alemã Spielbox, especializada em jogos de tabuleiro. O exemplar também foi vendido na Alemanha. “O Brasil está entrando aos poucos na produção de jogos”, garante o professor. Este ano, na principal feira mundial do gênero, em Essen (Alemanha), o Brasil terá três representantes cariocas. Os jogos de Luish são vendidos por meio do selo Bico de Lacre, que ele mesmo criou.

 

 

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