O espaço que você está lendo, chamado editorial, é destinado a apresentar para o leitor os destaques da edição que se segue.
Quanto absurdo! O pior é que esta tolice está sendo disseminada nas escolas de pedagogia pelo país afora. Aceitar esse material didático – se é que podemos chamar isso de “didático” – é um desserviço para os inúmeros jovens brasileiros com menor poder aquisitivo, sedentos por conhecimentos e crentes de que, através desse conhecimento, conseguirão romper os limites em que vivem. Pais e educadores, alerta: o livro já foi adotado por diversas escolas públicas e privadas, e já alcança quase meio milhão de alunos no país. Falar direito, corretamente, só traz vantagens. Desprezar isso é querer subjugar as pessoas. No passado, durante os chamados “anos de chumbo” da ditadura militar, se dizia que havia em curso no Brasil um estratagema para manter uma legião de brasileiros na ignorância, como cidadãos de segunda classe. Assim, eram mais cooptáveis. É isso o que vai acontecer se medidas como essa prosperarem. Vamos, seguramente, criar dois tipos de cidadãos: os ricos e instruídos, e os relegados ao desconhecimento gramatical. Criaremos uma espécie de “apartheid linguístico”, como diz o ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque. A língua deve ser instrumento de integração de um povo, não de segregação. Compreender que a língua evolui, porque é um organismo vivo, e aceitar gírias e formas modernas de expressão, é uma coisa.
Sou filho de socióloga e ex-professora universitária. Nasci, portanto, em ambiente de incentivo à leitura e às letras. Por isso, seguramente, tornei-me jornalista. Recuso-me a acreditar que uma cartilha dessas ajudará a formar bons profissionais. Todo cidadão sabe, por mais iletrado que seja, que no mundo em que vivemos o sucesso profissional depende cada vez mais do conhecimento.
O fato de o ex-presidente Lula não ter tido oportunidade de estudar e, em consequência, falar errado, não pode ser entendido por tecnocratas do governo como modelo a ser seguido. Lula é uma exceção, um líder cujo carisma e talento foram capazes de fazer frente à falta de estudo. Ou reagimos a isso, ou estamos condenados a ouvir de nossos filhos amanhã: “Nós não foi a lugar nenhum”.
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