Revista Encontro

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Agora começou!

João Pombo Barile e Heberth Xavier
None - Foto: Eugênio Gurgel

Quando Marcio Lacerda foi eleito prefeito de Belo Horizonte, há quase três anos, todos sabiam tratar-se de uma eleição incomum: Lacerda unia o PT (ou parte dele) e o PSDB, os dois partidos que rivalizam na política brasileira há quase 20 anos. Isso fez com que as discussões em torno de nomes para a sucessão municipal, no ano que vem, fossem adiadas ao máximo. Afinal, costurar uma nova aliança, novamente encabeçada por Lacerda (PSB), esbarrava nos dois maiores partidos do país: difícil unir duas partes que se atracam em todos os estados – e também em Minas.

 

Demorou, mas a sucessão municipal enfim começou. De um lado, o PT dá sinais de que deverá aceitar a nova aliança com o atual prefeito. O grupo liderado pelo vice-prefeito, Roberto Carvalho, curiosamente o maior adversário de Lacerda dentro do PT, está enfraquecido e parece ter capitulado definitivamente frente à grande popularidade do atual prefeito. Do outro, o PSDB da capital garante estar unido em 2012, com Lacerda ou um nome próprio. Melhor para Lacerda, que depois de sofrer críticas de petistas e enfrentar a acusação de que era um político inexperiente e sem expressão, larga na frente na disputa do próximo ano.

 

Em 2008, quando lançou sua candidatura, Lacerda era um empresário bem sucedido no ramo das telecomunicações, mas desconhecido da população. Foi ele, no entanto, o nome ideal que, vindo do PSB, conseguiria viabilizar a inédita aliança PT e PSDB criada por Aécio e Pimentel.

Por detrás dessa costura, havia a forte presença do ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, político aliado ao PT e afinadíssimo com Aécio.

 

Com grande popularidade segundo as pesquisas de opinião – uma delas, feita no fim do ano passado pelo DataFolha, o apontava como o líder de um ranking de prefeitos em oito capitais, com 54% de aprovação –, Lacerda passou a ser, literalmente, cortejado por todos.

 

Ainda que oficialmente um ou outro dirigente do partido diga o contrário, o PT está fazendo de tudo para fechar com Lacerda. A maioria dos petistas defende o apoio, colocando-se, claro, como vice na chapa. “O pacto tem de ser feito com o PSB, nosso aliado há anos”, diz o presidente estadual da legenda, Reginaldo Lopes. “O PSDB é secundário.”

 

O raciocínio petista é que, para Lacerda, ruim com o PT, pior sem ele. O atual prefeito de BH sentiu na pele a oposição de alguns movimentos vinculados aos petistas, que discordavam da aliança com os tucanos e não os aceitavam em postos importantes da administração municipal. Evitar esse antagonismo num eventual segundo mandato não deixa de ser uma boa notícia para Lacerda. Outro aspecto, favorável ao PT, é que o partido teria nomes fortes se quisesse apresentar-se com candidato próprio em 2012. O ex-prefeito Patrus Ananias, por exemplo, é bem visto nas pesquisas – na última delas, feita pelo instituto Data Tempo/CP2, aparece com 10,5%. Evitar um confronto com Patrus é outra boa notícia que Lacerda conseguiu depois dos acenos favoráves dos petistas. “Não serei candidato a nada nas próximas eleições”, disse Patrus, uma das mais influentes lideranças do partido. “A tendência é de o PT apoiar o Marcio Lacerda.”

 

 

 

 

 

 

 

Outro nome forte do PT é o também ex-prefeito Fernando Pimentel (23,8% na mesma pesquisa, empatado tecnicamente com Lacerda), mas é 100% improvável que o atual ministro do Desenvolvimento abdique de seu posto e ainda tope enfrentar um candidato que ajudou a criar.
O PSDB, por sua vez, tem como trunfo o senador Aécio Neves. Respaldado pela bem avaliada administração quando governador, Aécio conquistou enorme capital político na capital e hoje é, sem sombra de dúvidas, o político de maior expressão no estado e também em BH.

 

Sabe disso e não vai abrir mão de influenciar no processo de sucessão municipal. O PSDB, por sua vez, também tem consciência de que uma eventual derrota na capital mineira seria ruim aos planos nacionais de seu senador, eventual candidato dos tucanos à presidência em 2014 – o que também favorece uma composição em torno de Lacerda.

Político leal e correto em seus acordos, Lacerda tem propalado aos quatro cantos que não se envolverá na eleição para governador, também em 2014. O recado é dado em direção ao ninho tucano, que terá de encontrar um bom candidato para enfrentar o forte Fernando Pimentel, do PT, e manter-se à frente da política mineira.
Não é à toa que a máquina federal entrou na parada. A presidenta Dilma Rousseff virá a Minas em breve. Vai anunciar a liberação de investimentos no estado – segundo o senador Clésio Andrade (PR), algo em torno de R$ 20 bilhões – para a reforma da rodoviária e ampliação do metrô.

 

Do lado tucano, a oferta não é menos tentadora: Aécio chamou o político socialista para um encontro. Nele, teria oferecido a cabeça de chapa no pleito pelo governo de Minas em 2014. Em troca, os tucanos apresentariam o vice na chapa pela prefeitura da capital.

 

“Se PT e PSDB não puderem mesmo marchar juntos, acho que muito provavelmente Lacerda vai acabar optando pelo PT”, assegura uma fonte ligada ao governo estadual. “Lacerda é hoje refém do PT. E não poderá contrariar o PT. O estrago seria muito grande”, analisa.

 

No início de junho, quando o prefeito Marcio Lacerda se licenciou da presidência estadual do PSB, alegando dificuldades em “conciliar as tarefas de administrador da capital mineira com a presidência do partido”, muitos interpretaram a ação como uma importante jogada no truncado jogo de xadrez da sucessão. No seu lugar, entrou o ex-ministro Walfrido Mares Guia.

Amigo pessoal de Lula, ele teria sido colocado no cargo para enterrar, de vez, a aliança PT-PSDB.

 

“Nós é que estamos pensando ainda se queremos repetir a estratégia”, ironiza o deputado federal Marcus Pestana, fazendo alusão à aliança articulada por Aécio e Pimentel. Além do peso de Aécio – o que inclui os partidos que querem estar ao lado do senador em 2014 –, os tucanos têm como trunfo a boa relação do prefeito com o governador Antonio Anastasia. Marcio Lacerda tem forte apreço pelo governador, e vice-versa. Anastasia não se cansa de fazer elogios públicos à gestão de Lacerda na prefeitura. “Ele faz uma administração reconhecida e muito aplaudida”, disse.
Diante do uníssono movimento do PT em direção ao prefeito, o grupo do PSDB resolveu agir. Realizou, no mês passado, uma reunião na casa do presidente da Câmara Municipal, Léo Burguês (PSDB), na qual estavam presentes todos os partidos aliados de Aécio e que, juntos, garantem bons minutos na TV durante o horário eleitoral. Foi o primeiro grande evento político do grupo liderado pelo PSDB. No encontro, ficou acertado que os partidos caminharão juntos, com ou sem a presença do prefeito. “Está selada a união de nosso grupo”, disse o deputado estadual tucano João Leite. Ele é, por sinal, um dos pré-candidatos da legenda para a disputa, ao lado dos deputados federais Rodrigo de Castro, Eduardo Azeredo e do próprio Léo Burguês.

 

As circunstâncias tornam difícil a reedição da aliança PT-PSDB em 2012. Se o PT confirmar que não aceitará compor com os tucanos, ficará difícil para Lacerda abraçar o PSDB contra os petistas. Por outro lado, é difícil imaginar uma composição liderada pelo grupo de Aécio que signifique uma ameaça real à vitória do atual prefeito – poderia ser uma ameaça ao bloco que lhe dará sustentação no pleito presidencial.

 

Mas é o próprio Anastasia quem lembra: “Ninguém podia imaginar que em 2008 teríamos aquela aliança”, disse o governador. “Vamos aguardar 2012”, completou.

 

Vamos aguardar. Mas que 2012 já começou, já.

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