Revista Encontro

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Imagens urbanas

Flávia Waltrick
None - Foto: Geraldo Goulart

Questionar o pós-industrialismo e tudo o que ele gerou – e continua gerando – na sociedade contemporânea foi um dos motivos que levou o artista plástico e arquiteto mineiro Bruno Mitre a explorar em suas obras o conceito do desconstrutivismo, teoria atribuída ao filósofo francês Jacques Derrida, marcada pela fragmentação e pelo desenho não linear.  “Eu não sabia o que desenvolver em desenho e na pintura. Queria algo de vanguarda, ideias que condizem com o nosso tempo. Essa foi a chave para tudo”, diz. Questionando o estruturalismo e a rigidez das formas do próprio construtivismo, ele achou a resposta: “O desconstrutivismo é o elemento aglutinador de todo o meu processo criativo”, conta Mitre.

 

O resultado está na exposição Um Lugar... na Galeria 1º Andar, em Belo Horizonte. A mostra reúne 20 obras caracterizadas pelo desenho não linear, figuras irregulares, profusão de cores e fragmentação da forma. “O excesso de informação do mundo atual provoca a fragmentação da mensagem”, diz Mitre. Ele usa o exemplo do controle remoto da televisão, “que fraciona o audiovisual e é justamente esta ruptura que me interessa, porque hoje eu não vejo sentido em fazer algo representativo”, explica o artista.

 

Todos esses traços têm ainda outro ponto em comum: a representação da cidade grande. “Os centros urbanos são temas recorrentes nas minhas obras.

Eu vivo a cidade para colocá-la nas telas a partir da minha observação do mundo, do cotidiano e da minha memória”, comenta Bruno, que recentemente fez uma residência artística na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.

 

O fato de ter passado uma temporada na maior metrópole da América Latina contribuiu ainda mais para o processo de desconstrução do olhar do artista, mas não foi a única referência. O neoconcretismo de Amilcar de Castro influenciou Mitre desde o início. Tanto que, em homenagem ao escultor mineiro, ele fez a série Tributo a Amilcar. “Nesses trabalhos, faço uma mistura das cores preto e amarelo. Nesse momento, percebi como suas influências estavam impregnadas”, conta. 

 

A admiração por outro expressivo nome das artes também impulsionou Mitre a criar a série Botânica, referência ao pintor italiano Leonardo Da Vinci. “É meu artista preferido. Seus estudos de anatomia e botânica me inspiraram a fazer uma releitura dos desenhos, anotações e poesias”, explica.

 

 

 

Como símbolo de toda a metamorfose criativa do artista está a série Borboletas, na qual Mitre aplica adesivos coloridos do inseto nos desenhos. “Esta série representa a transformação, os novos pensamentos”. Todas as séries, aliás, estão reunidas na nova exposição individual do artista. “Uma série não tem relação com outra. São fases diferentes, mas que se reúnem como unidade e que apresentam um ponto em comum: o processo criativo baseado no desconstrutivismo”. 

 

A partir desse conceito único, Mitre procura desvendá-lo, tendo como referências movimentos artísticos e arquitetônicos como o cubismo, expressionismo, minimalismo e o futurismo. “Tecnicamente, minha intenção é explorar o material e descobrir o que ele pode proporcionar. As cores como forma de expressão, por exemplo, despertam emoções e eu gosto  muito de utilizá-las nos desenhos e nas pinturas”, diz.

 

A dualidade entre desenho e pintura, artes plásticas e arquitetura nunca foi motivo de transtorno para o artista.

Pelo contrário, foram molas propulsoras para um trabalho criativo e inovador. “Sempre houve uma relação forte entre a história da arte e da arquitetura, e eu trabalho com a fusão das duas nas telas”, diz Mitre, que também atua como restaurador.

 

Entender qual a relação entre os traçados matemáticos e artísticos foi o objeto de estudo do artista, formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard, e em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Bruno tem também especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pretende aprofundar os estudos sobre o desconstrutivismo na especialização em Desenho e Pintura, na Guignard. Ao longo dessa trajetória, Bruno acumula exposições coletivas, como Cidades Visíveis, na Galeria da Cemig, em 2005; e individuais, na Fundação de Arte de Ouro Preto, em 2009; e Fundação Casa da Cultura Carlos Chagas, em Oliveira, no ano passado.

 

Mineiro de Oliveira, desde criança Bruno Mitre convivia num ambiente que o convidava a explorar suas habilidades artísticas e soltar a imaginação. Filho e neto de artistas, foi ao lado deles que Mitre aprendeu a desenvolver trabalhos com texturas e cores. Alguns anos mais tarde, a artista e professora Selma Weissmann também contribuiu para seu despertar no mundo das artes, durante as aulas de desenho.

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