Revista Encontro

None

O novo eldorado da aviação

None - Foto: Maíra Vieira

É no céu de Pará de Minas, no centro-oeste do estado, a 70 quilômetros de Belo Horizonte, que começam a voar alguns dos principais pilotos do país. Mais de 5 mil profissionais já passaram pelo aeroclube da cidade. Centenas vestiram ou vestem o uniforme de grandes companhias aéreas brasileiras. Como se não bastasse, a cidade se transformou ao longo dos anos em referência para a prática de voos acrobáticos e se tornou ponto de encontro para os amantes da aviação.

 

Para entender de onde vem esta vocação aeronáutica, Encontro esteve no AeroRock, um festival de música com acrobacias aéreas realizado sempre no mês de junho. Lá, conversou com alunos, ex-alunos e instrutores de voo que fazem da cidade uma das referências no assunto.

 

Da pequena pista de terra, da década de 1940, o aeroclube se agigantou. Foram construídos novos hangares, adquiridos equipamentos para capacitação de pilotos e, claro, aviões de médio e pequeno porte para as aulas práticas. Atualmente, o aeroclube conta com 13 aeronaves, sendo um helicóptero. Para seu presidente, Ivan Resende, um dos principais motivos do sucesso está ligado à gestão.

Sem fins lucrativos, toda a receita é reinvestida no próprio espaço, em reformas, compra de aeronaves e pagamento de funcionários, despesas que chegam a R$ 50 mil mensais. “Toda a estrutura do aeroclube é nossa. Não temos nenhum serviço terceirizado”, afirma Resende, instrutor de voo e há quatro anos na presidência do aeroclube.

 

Piloto Anderson Zoglio: “Mercado muito promissor para os próximos cinco anos”

 

 

 

No espaço, colado ao aeroporto municipal Arnaud Marinho, no bairro Santos Dumont, são ministrados cursos práticos de piloto privado, comercial, acrobático, instrução de voo e, em breve, o de piloto de helicóptero. Atualmente, o número de aeronaves e o de aulas fazem do aeroclube o de maior horas voadas do país. Além dos cursos de formação, os instrutores da escola também são procurados para prestar consultoria a pilotos de vários estados.

 

Anderson Zoglio de Miranda, de 43 anos, faz parte do quadro de ex-alunos do aeroclube de Pará de Minas. Hoje ele é piloto da Rio Linhas Aéreas, empresa especializada em transporte de cargas. “Fiz todo o meu curso prático aqui e foi uma escolha acertada”, afirma. Para o piloto, a localização geográfica é um dos principais diferenciais do aeroclube, já que o céu não é congestionado como o das grandes cidades. O profissional lembra que, à medida que o mercado da aviação cresce, a escola também se fortalece, já que aumenta a demanda por cursos. “O mercado é muito promissor, pelo menos para os próximos cinco anos”, diz.

 

Ivan Resende, presidente do aeroclube: “Toda a estrutura do aeroclube é nossa. Não temos nenhum serviço terceirizado”

 

 

Flávio Luiz Lima Teodoro, de 36 anos, é comandante do Airbus 320 da TAM, mas ainda busca o ápice na carreira: pilotar o A330 ou o Boeing 777 em rotas que cruzam o oceano Atlântico. O profissional, com 10 mil horas voadas, tece elogios à escola que o projetou para trabalhar em uma das principais companhias aéreas do mundo. “Pará de Minas sempre foi celeiro de formação de pilotos.

Sem dúvida, é a melhor escola do estado e uma referência no país”, diz Teodoro. Além de comandante, ele exerce a função de instrutor em rota para co-pilotos.

 

Para pilotar um avião comercial, é necessário fazer o curso de piloto privado (mínimo de 35 horas de voo) e de piloto comercial (mínimo de 150 horas de voo). Depois de contratado por uma empresa aérea, é preciso, ainda, que o profissional realize mais um curso para passar a comandar uma aeronave.

 

Edilson Ribeiro, dono da oficina TBA: “No último ano, realizamos manutenção em aproximadamente 400 aviões”

 

 

 

O carioca José Luiz de Oliveira, de 37 anos, é colega de empresa do comandante Teodoro. O profissional fez o curso prático no Rio, no município de Maricá, mas teve a oportunidade de dar aulas em Pará de Minas. “É uma ótima região para aprender, com pouca vazão de chuva, relevo não muito elevado e sem acúmulo de tráfego.

 

Isso faz com que o aeroclube fique em uma posição de destaque”, afirma. Atualmente, a escola conta com 150 alunos. O belo-horizontino Bruno Faria Pessoa, de 23 anos, é um dos que sempre sonharam em aprender a voar. Ele está terminando o curso de piloto comercial. “Aqui tem uma grande vantagem, que é a organização, muito diferente de outras escolas”, diz. Formado em ciências aeronáuticas pela Fumec, Bruno lembra que é difícil ingressar na carreira devido aos altos custos das aulas.

 

 

 

 

Fernando Lucas Wendling, de 29 anos, também está no final do curso de piloto comercial.

“Toda energia que você tem é descarregada num voo acrobático. É uma sensação de prazer e uma disciplina que você não encontra em outro lugar”, diz. O rapaz afirma que quer pilotar voos comerciais e usar os acrobáticos para sair da rotina. Um de seus sonhos é participar do Red Bull Air Race, principal competição mundial de acrobacia aérea.

 

Um dos professores de Fernando é Marcos Geraldi, piloto acrobático que não larga seu avião, o modelo americano Christen Eagle II, um dos principais aviões para acrobacias. “É uma aeronave nervosa, qualquer um que a pilota sai preparado para voar em outras”, avisa o profissional, que vai relançar junto à UFMG o primeiro avião acrobático do Brasil, o Mehari. “Há tempos vejo Pará de Minas com vocação aeronáutica devido ao trabalho dos fundadores do aeroclube.”

 

Marcos Geraldi, instrutor (em pé), e Fernando Wendling: mestre e discípulo para voos acrobáticos

 

 

 

Todos os profissionais são unânimes: o mercado da aviação vive um momento ascendente devido à economia fortalecida e ao dólar baixo. Este último fator é o responsável pelo aumento da compra de aeronaves particulares no país. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de 2008 a 2010, houve aumento de 76% no registro de aviões privados.

 

Um dos termômetros disso está também no aeroclube, mais especificamente na oficina Tecnologia Brasileira de Aeronáutica (TBA), que a cada mês aumenta o número de atendimentos de aviões importados. “No último ano, realizamos manutenção em aproximadamente 400 aviões”, afirma Edilson Ribeiro Filho, de 42 anos, proprietário da oficina, fundada em 1992. Edilson é paulista, chegou a Pará de Minas para realizar uma substituição temporária e acabou fincando raízes nos negócios aeronáuticos devido à força do segmento na cidade. A oficina, segundo Edilson, presta serviços para proprietários de aviões de várias partes do Brasil.

 

Bruno Faria (à direita) com o instrutor Bruno Paiva: “Aqui tem uma grande vantagem, que é a organização, muito diferente do que vi em outras escolas”

 

 

 

O deputado estadual Antônio Julio (PMDB) foi prefeito de Pará de Minas na década de 1980 e também ajudou a fundar a TBA. Para o parlamentar, um dos motivos que fazem do município referência na formação de pilotos está ligado ao trabalho de paráminenses do passado apaixonados pela aviação. “A cidade sempre teve bons pilotos e o aeroclube continua lançando ótimos profissionais no mercado”, diz.

 

Outro que contribuiu muito foi Arnaud Marinho, morto em 1992 e um dos fundadores do aeroclube. Não é à toa que o aeroporto municipal leva o nome dele. “Lembro-me de quando ele comprou seu primeiro avião, um Piper 150. Gostava muito de viajar para o sul do país, onde encontrava outros apaixonados pela aviação”, diz o advogado Paulo Marinho, de 55 anos, filho de Arnaud. Mal sabia ele que Pará de Minas se tornaria um dos principais pontos de encontro do país para aviadores e pilotos...

 

.