Revista Encontro

None

De pai para filho

Daniele Hostalácio
None - Foto: Arquivo pessoal, Cláudio Cunha, João Avelino, Eugênio Gurgel, Henrique Pimentel, Marcos Vieira/EM/DA Press, Clara Raton, Rosinha Andrade

“Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho”, disse Carlos Drummond de Andrade no poema Encontro, sobre os momentos de reencontro com o pai, quando, no sono, mergulhava nas profundezas do inconsciente e acessava as mais remotas lembranças do pai, já falecido. É que, de um pai, ficam para um filho muitas coisas – a ausência ou a presença dele sempre deixa marca indelével. Por isso, quando adultos, não precisamos recorrer à sua presença física para sentir o impacto deles sobre nós; basta olhar para dentro de nós mesmos e encontramos suas várias pegadas...

 

As lições de vida, por exemplo. Bons pais sempre se esforçam para transmitir aos filhos seus mais estimados valores. Noções de verdade, trabalho, honestidade, senso de justiça, determinação ou união da família, por exemplo, são alguns princípios universais que grandes homens tentam legar aos seus descendentes. Querem que seus filhos sejam pessoas de bem, que saibam respeitar a si mesmos e aos outros, que sejam felizes e que possam contribuir para o mundo de maneira positiva.

 

 

 

Inspirados no livro Aprendi com meu pai, no qual o autor, o jornalista Luís Colombini, pediu a várias pessoas bem-sucedidas uma reflexão sobre as lições de vida que aprenderam com os pais, entrevistamos filhos e filhas de personalidades mineiras. Pedimos que desfiassem o fio da memória para responder à mesma pergunta proposta pelo livro: “Em qual episódio da vida você recebeu a maior, a mais marcante lição do seu pai?”

 

Alguns depoimentos falam de um momento específico, ocorrido na infância, na adolescência ou na fase adulta, mas que se tornou emblemático pela maneira como o pai agiu ou pelas palavras que ele disse na ocasião. Algumas pessoas não têm um episódio específico para contar, mas sim as várias lições que vêm apreendendo ao longo da vida, na privilegiada convivência com o pai.

Para outros, são marcantes as frases que o pai sempre repetiu e que hoje ficaram como um eco que reverbera frequentemente, como um importante valor.

 

 

 

Os filhos e filhas entrevistados para essas páginas não disfarçam uma apaixonada admiração pelos pais, além de um afeto desmedido. “Dizem que os filhos devem suplantar os pais, mas meu pai é um daqueles que servirá como exemplo; será insuperável”, sentencia o pediatra Nelson Conde Lobo Martins, traduzindo um sentimento comum a muitos dos filhos ouvidos aqui. Não que desconheçam a falibilidade dos seus genitores, mas já atingiram um momento da vida em que conseguem olhar para as falhas dos pais com compreensão. O que resta é um profundo respeito, além de doses generosas de gratidão. Com os pais aprenderam pelas palavras, pelas atitudes, pelo silêncio, por meio da biografia.

 

“Meu pai é meu ídolo: como pai e como profissional. Trabalho com ele, convivemos diariamente. Mas a gente gosta tanto de viver perto um do outro que somos vizinhos de muro. Quando tem jogo do Atlético, por exemplo, abro a janela da sala da minha casa, ele abre a janela da sala dele. E a gente fica olhando um para o outro, de longe, sofrendo junto”, conta Zeca Teixeira da Costa, diretor-executivo do jornal Estado de Minas. Construir uma relação de cumplicidade como essa com um filho já é um grande exemplo de pai. Gabriel Lacerda, filho do prefeito de Belo Horizonte, tem, em Marcio Lacerda, um modelo de pai. “Um dia quero me tornar pai e tentar ser como ele”. Assim, a continuidade está garantida, e as heranças que não têm preço vão passando de pai para filho.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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