Há um velho ditado que diz que "focinho de porco não é tomada". Trata-se de uma variação do "nem tudo que parece, é". Pois a adoção do novo modelo brasileiro para as tomadas aplica esse surrado bordão - aliás, ironicamente, a nova tomada e plugue, com três pinos e três buracos, lembra o desenho de um focinho de porco.... Parece moderno, até tem seu lado positivo, mas é outra oportunidade perdida pelo país.
Para o consumidor, a vantagem é que a nova tomada reduz as chances de choques elétricos ao se conectar um aparelho. Mas o novo desenho não acaba com o problema de existirem duas tensões residenciais em uso no Brasil (110 e 220 volts). Além disso, o padrão escolhido não é inteiramente compatível com as normas internacionais, que indicam a tomada com três pinos redondos (o novo modelo brasileiro) apenas para redes de 220 ou 230 volts. Para 110v, recomenda-se o uso de dois pinos chatos. Continua, assim, existindo o risco de alguém queimar um aparelho de 110v ao ligá-lo, acidentalmente, a uma tomada de 220v.
José Geraldo Lanna, professor de engenharia elétrica: é preciso levar em conta o aparelho antes de comprar tomadas e adaptadores |
A mudança também não foi divulgada de forma ampla e o consumidor acabou tendo problemas.
Paulo Roberto de Carvalho Costa, dentista: "Foi uma dor de cabeça ter de achar o adaptador certo" |
A portaria entrou em vigor em 2000, mas as mudanças foram feitas por etapas. Primeiro, foram proibidas a fabricação e comercialização de tomadas e adaptadores dos sistemas antigos – no país, chegavam a 12 tipos de plugues e oito de tomadas – e, em julho de 2011, a normatização passou para os equipamentos eletroeletrônicos, que devem ser fabricados já com o novo padrão brasileiro de plugue. “Acho que a indústria ainda não se adaptou direito à nova regra”, reclama Paulo Roberto Costa.
Sua insatisfação pode ser associada também à falta de informação da população, já que, apesar de se acharem apenas as novas tomadas e adaptadores nas lojas, o fato de existirem dois tipos de plugues não foi bem esclarecido. Nesse caso, de acordo com o engenheiro eletricista e presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais-Minas Gerais (Abrasip-MG), Marcelo Dicker, as duas opções de plugues correspondem à necessidade de corrente elétrica de cada aparelho: “O comércio tem de informar ao consumidor sobre as diferenças de potência entre os dispositivos. E não é só isso, já que a instalação elétrica tem de estar de acordo com a amperagem necessária”. Ou seja, no novo modelo, o plugue pode ser de 10 ou 20 ampères. Este último é mais utilizado por equipamentos que exigem maior potência, como geladeiras. Mas o presidente da Abrasip-MG esclarece que o consumidor deve ter atenção ao tentar resolver problemas de compatibilidade entre equipamento e tomada, que nem sempre se resolvem com uma simples troca ou adaptador.
Para o engenheiro eletricista Marcelo Dicker, a mudança foi importante: "Os consumidores têm que perceber que a mudança visou à segurança" |
Mas a mudança para o novo padrão é justificada. Para o professor do curso de engenharia elétrica da PUC Minas, José Geraldo Lanna, o principal motivo do uso do novo plugue é a segurança. “O novo formato blinda o acesso aos pinos do plugue, o que dificulta os choques elétricos”. Além disso, ele explica que equipamentos com maior potência necessitam de aterramento, e o novo padrão vem para auxiliar.
“A pessoa deve fazer a compra de tomada e adaptador em função do equipamento que possui”, explica o professor José Geraldo Lanna. Portanto, ao se dirigir a uma loja, saiba o tamanho e modelo dos pinos de seu aparelho, para fazer a compra certa e também não ser enganado.
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