Ponha-se no lugar de um editor, diante da decisão de ter de escalar um repórter para fazer uma matéria especial sobre Pais.
Escalei Daniele Hostalácio, uma profissional surpreendente nos valores (séria, dedicada, correta) e na capacidade de emocionar o leitor.
Pensei, pensei e pensei no meu velho e fabuloso pai, Oscar. Meu grande companheiro até nos dias atuais – e sempre. Insuperável no exemplo e, sobretudo, na generosidade. Lembrei-me de uma passagem quando, há alguns anos, estava no auge de minha carreira profissional e trabalhava feito um louco (ainda trabalho) quando houve a comemoração do aniversário de um de meus irmãos. Não participei. No dia seguinte, meu pai ligou: “Por que você não foi?”, indagou-me. “Porque estava trabalhando. Atualmente o trabalho é a prioridade na minha vida. Não posso preterir isso a uma festa”, respondi. Ele me disse: “Mas não era uma festa. Era uma reunião de sua família e não há nada mais importante em sua vida do que sua família. Lembre-se disso”. As palavras tocaram-me fundo.
Peguei o telefone e liguei para Dani, como é chamada. “O que achou da matéria?”, perguntou-me ela. “Simplesmente surpreendente”, respondi.
“Dani, me fale de seu pai. Qual a grande lição que você traz dele?”, perguntei.
“Em setembro deste ano faz 10 anos que ele morreu. Era uma pessoa maravilhosa, alegre, feliz. Sua morte foi muito repentina e um susto para toda a família. Mas me recordo, por exemplo, quando minha avó, mãe dele, já idosa, não tinha mais condição de viver sozinha, e então ele a levou para a nossa casa e ela morou conosco durante seus últimos anos de vida, sob a proteção dele. Quando uma irmã dele se separou, com cinco filhos, todos ainda crianças, ele assumiu a família dela, oferecendo apoio emocional e financeiro durante muito tempo. Era um homem simples, mas de inabalável nobreza de caráter. Ele se realizava por meio de nós, sentindo muito orgulho a cada nova conquista dos filhos.
Voltei a pensar no meu pai e lembrei-me da música de Zé Ramalho: “... meu velho e indivisível... / Eu sigo dentro a linha reta / Eu tenho a palavra certa / Prá doutor não reclamar... / Avôhai! Avô e Pai”.
Além deste, leitor, você verá outros 18 depoimentos nas páginas que se seguem.
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