Revista Encontro

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"A telefonia está em plena mudança"

Heberth Xavier e João Paulo Martins
None - Foto: Geraldo Goulart

O Brasil possui 224 milhões de aparelhos celulares, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em média, isso dá mais de um aparelho para cada brasileiro. Não é à toa que este é o mercado mais competitivo do país. A liderança fica por conta da Vivo, com 29,54%, compreendendo 66,17 milhões de clientes, seguida de perto pela Tim, com 25,99%, e pela Claro, com 25,36%. Para o presidente do Grupo Telefônica, Antonio Carlos valente, engenheiro eletricista que está há 36 anos no setor, a disputa faz do mercado brasileiro um dos mais importantes do mundo. “Para nós, da Vivo, é muito gratificante saber que estamos na liderança, tanto nas pesquisas de qualidade quanto na avaliação dos clientes”.

 

O grupo liderado por Valente é integrado, além da operadora Vivo, pela Telefônica, que atua com telefonia fixa no estado de São Paulo; a TVA, de TV por assinatura; e o portal de internet Terra. O executivo concedeu entrevista a Encontro e apresentou uma síntese da atuação da empresa no país, bem como os planos de investimento em outras áreas e mesmo no estado de Minas Gerais.

 

1) ENCONTRO – O mercado de telefonia VoIP (voz sobre IP), depois da entrada do Google Voice, é uma ameaça para as empresas de telefonia?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Hoje você tem possibilidade de usar a tecnologia VoIP para tudo, inclusive comunicação entre máquinas. Apesar de estar até nos dispositivos móveis, essa solução é mais usada no meio corporativo, já que é feita através de pacotes de dados, o que oferece maior qualidade e diferentes funcionalidades.

Acho que ela é uma tendência, e gerou condições para o surgimento de muitas empresas. Algumas prestando serviço até com remuneração indireta, ou seja, os modelos de negócios estão sendo alterados. Isso porque nossa indústria é muito dinâmica. Veja só, até pouco tempo atrás não tínhamos os tablets. E hoje eles são mais de 100 milhões de unidades no mundo.

 

2) ENCONTRO – Mas a tendência do mercado não é que esse modelo esteja cada vez mais disponível para os usuários comuns, e não apenas os corporativos?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Algumas operadoras de TV a cabo já prestam serviço de telefonia através das soluções VoIP. Não quero falar de meus concorrentes, mas o maior operador de TV a cabo do Brasil oferece, em parceria com a Embratel, solução de telefonia fixa através da tecnologia VoIP.

 

3) ENCONTRO – E isso não pode canibalizar seu mercado, tal qual ocorreu com o MP3 para a indústria fonográfica ou a internet para os jornais?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Provavelmente vai mudar o modelo de negócios que conhecemos. Nós temos sete frentes de inovação, que buscam soluções de serviços financeiros a comunicação máquina-máquina. Com os novos equipamentos, surgem oportunidades que antes não existiam. Costumo dizer que a fronteira dos humanos no campo da mobilidade é da casa do bilhão. Porque nós somos 7 bilhões de pessoas, e quando tivermos conectividade total, esse será o número de conectados.

 

4) ENCONTRO – Qual sua avaliação do futuro da telefonia fixa?

ANTONIO CARLOS VALENTE – As pessoas sempre terão necessidade de se comunicar. A telefonia fixa tem, intrínseca à sua tecnologia, a melhor qualidade, por usar espectro radioelétrico. Além da possibilidade de uso de outras aplicações, como internet. O que devemos ter de novidade está mais relacionado à questão de uso de pacotes de dados.

Mesmo porque o serviço atual é praticamente o mesmo de anos atrás. Agora, se vai mudar a plataforma, acho que sim.

 

5) ENCONTRO – Como você vê o posicionamento da Vivo, recentemente adquirida pela Telefônica?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Cada mês que passa, a gente tem uma alegria com a empresa, que é muito criativa. Ela possui talentos humanos excepcionais. A Vivo tem atributos que a Telefônica não tinha, como abrangência nacional. Além disso, possui a tecnologia como grande aliada, já que é impossível pensar num aplicativo que venha a ser criado que não seja inserido num dispositivo móvel.

 

6)ENCONTRO – Existe espaço para novas empresas no mercado de telefonia? Ou a tendência é a concentração, com as fusões e incorporações?

ANTONIO CARLOS VALENTE – A tendência de concentração é vista no mundo inteiro. O mercado brasileiro de serviços móveis é um dos mais competitivos. Não são muitos os países que têm quatro grandes empresas disputando acirradamente. A diferença entre o primeiro e o quarto colocado é de apenas dez pontos percentuais. Para nós, da Vivo, é muito gratificante saber que nesse mercado altamente competitivo estamos na liderança, tanto qualitativa quanto de avaliação dos clientes. Todos os meses somos avaliados pela Anatel através do IDA (Índice de Desenvolvimento do Atendimento), e estamos em primeiro lugar também.

 

7) ENCONTRO – Mas temos espaço para quatro empresas? A comparação pode ser exagerada, mas havia quatro grandes no mercado brasileiro de aviação e depois percebeu-se que não era possível.

Na telefonia pode ocorrer o mesmo?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Nós temos no Brasil quatro operadoras que provavelmente têm apresentado resultados inferiores aos do mercado internacional, mas nem por isso deixaram de fazer investimentos ou de acreditar no país. É muito difícil responder se temos espaço para quatro empresas. Aparentemente sim, e se tivéssemos menos, seia menos competitivo, e consequentemente, teríamos espaço para trabalhar melhor a questão da rentabilidade.

 

8) ENCONTRO – Criou-se uma grande expectativa pela entrada da Telefônica no mercado de TV paga. Quando a empresa vai enveredar nesse meio?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Nós levamos quatro anos e meio para a aprovação da nova lei do sistema de televisão por assinatura. Não é a lei que sonhamos, mas é a que foi possível. Ela já foi aprovada pelo Congresso e está em vias de ser sancionada pela presidente. A Telefônica está apostando na fibra ótica, tanto que apenas no estado de São Paulo possuímos meio milhão de domicílios com fibra ótica chegando em suas portas.

 

9) ENCONTRO – O principal concorrente é a NET, já que é a empresa que tem mais know-how em tecnologia de TV a cabo?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Sim, mas com uma grande limitação. O Brasil tem 5.760 municípios, mas a soma de todas as operadoras de tv a cabo alcança apenas 270. Ainda estamos formatando nosso plano de negócios, já que a lei foi aprovada há pouco tempo. Ainda não investimos nesse mercado devido a certas razões, como falta de plataformas de distribuição, logística e atendimento para levar esse serviço para fora do estado de São Paulo.

 

10) ENCONTRO – Por que o serviço de atendimento das operadoras é considerado ruim pelos usuários? O que deve ser feito para melhorar?

ANTONIO CARLOS VALENTE – Quando se diz que existe uma grande quantidade de pessoas que passaram por experiências ruins com serviços de atendimento das operadoras, é verdade, mas também devemos lembrar que o mercado de telecomunicações tem o maior contingente de usuários do país. Estamos falando de 280 milhões de pessoas que usam diariamente e consistentemente o serviço, e não como em outros ramos, por exemplo, um caixa eletrônico de um banco, que é acessado esporadicamente. Não estou menosprezando nenhum tipo de serviço público, mas não podemos comparar as telecomunicações com o fornecimento de eletricidade, por exemplo. Nesse caso, ou você tem luz ou não tem. Até o serviço bancário não pode ser comparado, por isso não aparece tanto nas reclamações dos usuários.

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