Revista Encontro

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De olho em Minas

Kátia Massimo*
None - Foto: Cláudio Cunha, Geraldo Goulart

O mercado de óticas em Minas sempre foi dominado por uma grande referência – o Centro Ótico – e inúmeros satélites – as pequenas empresas. Mas duas mudanças estão sendo percebidas nos últimos anos e redesenhando esse mercado. A primeira é de comportamento e estilo: os óculos deixaram de ser meros" objetos de correção visual para tornarem-se disputadas e cobiçadas peças de design. A segunda mudança, impulsionada pela anterior, é a chegada de robustas redes de fora. Com a explosão de vendas registrada na última década, os números do setor são animadores. Somente em 2010, o setor óptico cresceu 40%, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Ótica, a Abióptica. Diz Regis Lobato, proprietário da Perfect Óculos de Belo Horizonte: “Os óculos deixaram de ser remédios e se transformaram em objetos fashion. As pessoas passaram a comprar vários, para combinar com cada ocasião.”

 

O efeito disso é visível no mercado mineiro.

A Óticas Carol, sediada em São Paulo, é um exemplo. A rede é a segunda maior do país, com 350 lojas - a primeira é a Diniz, com cerca de 500 lojas em todo o Brasil - e entrou no mercado mineiro no final do ano passado. Em menos de 12 meses, já possui 26 pontos de venda na região metropolitana e interior. Outras quatro lojas serão abertas até o mês que vem. E mais 120 até 2013.

 

 
 

 

A empresa iniciou agressivo processo de expansão em território nacional depois que foi comprada, em 2008, pelo empresário Marcos Amaro, um dos filhos do fundador da TAM, Rolim Amaro. Expandiu-se rapidamente e chamou para a briga as Óticas Diniz, sua principal concorrente nacional.

 

Foi com o novo comandante que a Carol passou a adotar estratégia ainda pouco comum no ramo. Em cada estado onde aporta, o primeiro passo é fazer um mapa das pequenas óticas em locais de grande movimento. Só depois parte para o assédio aos donos, tentando convencê-los a se tornar um franqueado da marca. O principal argumento é a tremenda força de compra da rede junto aos fornecedores, além do marketing arrojado. As campanhas publicitárias da bandeira são estreladas por Ana Hickmann e Carolina Ferraz, por exemplo.

 

A estratégia vem colhendo resultados. A Óticas Carol já conseguiu abocanhar nomes tradicionais em Belo Horizonte, como o Centro Visão. Cinco lojas da rede passaram a usar a bandeira e a outra parte permaneceu com um dos sócios, com o nome de Centro Visão Classic. Hoje, a rede está em negociação com outras 50 óticas, incluindo o interior.

“Assim, vamos direto ao melhor ponto e nos unimos a pessoas que já conhecem o mercado local”, diz Carla Soares, diretora de operações da Carol.

 

 

 

“Temos um pré-sal óptico a ser explorado no Brasil”, diz Bento Alcoforado, presidente da Abióptica. A fatia do mercado mineiro é de 10% do total nacional, perdendo apenas para São Paulo.

 

“As vendas em Minas vêm crescendo rápido, principalmente no interior”, afirma Jean Luc Lacastagneratte, diretor da Clair Mont, uma das poucas fabricantes nacionais de óculos (são apenas 8 no país), instalada em Montes Claros. “Tem crescido também o assedio de fabricantes estrangeiros que querem vender aqui.” A concorrência externa obriga a indústria nacional a investir em qualidade. “Nossa preocupação mesmo é com produtos contrabandeados que, sem qualidade, chegam a preços muito baixos.”

 

Isabel Horta, do Centro Ótico: “Temos que fazer promoção de óculos esportivos, o que não era comum antes”
 

 

O fortalecimento das grandes redes vem causando impacto para as cerca de 4,8 mil óticas instaladas no estado (850 só na capital). Por isso, mesmo com os bons ventos soprando a favor de mais vendas para o setor, Débora Malta Oliveira, presidente do Sindicato do Comércio Ótico de Minas Gerais, o Sindióptica, e diretora da Optical Center, rede que tem mais de 20 anos de existência e 18 lojas na região metropolitana, prefere manter a cautela: “Não há dúvida de que o ramo óptico é promissor, mas hoje enfrentamos esses complicadores”.

 

Há quem parta para estratégias ousadas. Paulo Cançado, diretor do Sindióptica e dono da mais antiga ótica da capital, a Óticas Tamoio, fundada na década de 1920, decidiu não vender mais óculos esportivos. Foi a maneira que encontrou para eliminar a concorrência com produtos chineses que desembarcam pelas portas dos fundos e a preços difíceis de superar. Já para fazer frente à ameaça dos pesos-pesados que estão fincando pé no mercado mineiro, Cançado considera que os pequenos lojistas têm a seu favor o atendimento. “O mineiro sente muito mais confiança quando vê o dono da loja com a barriga no balcão”, diz. “E isso as grandes redes jamais terão”.

 

 

 

No Centro Ótico, que já foi a maior de Minas e a primeira a ter laboratório próprio, a concorrência não impediu a recuperação, depois que a rede enfrentou grave crise de imagem, no ano passado, quando houve denúncias de falsificação de óculos – nada foi provado até agora.

 

“Quando houve a divulgação das denúncias, demoramos a entender o que estava acontecendo e a concorrência, de alguma forma, se aproveitou disso.

Mas depois conseguimos reagir. Já retomamos o nível de vendas e este final de ano promete”, diz Isabela Horta, diretora comercial do Centro Ótico. Mas a empresa já não reina sozinha, admite ela: “Temos até que fazer promoção de óculos esportivos, o que não era comum antes, porque os consumidores acompanham as tendências e não compram de coleções passadas”.

 

Paulo Cançado, da Óticas Tamoio: “Mineiro gosta de ver o dono com a barriga no balcão”
 

 

Nos próximos meses, o mercado brasileiro deve receber um concorrente peso-pesado: a Luxottica, dona da marca Ray-Ban, vai focar sua expansão na América Latina. Só no Brasil serão 90 lojas, 15 até o final deste ano. Na rota, Belo Horizonte. Quem sai ganhando é o consumidor.

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