O mês de novembro, logo no seu começo, nos convida à nada fácil tarefa de refletir sobre a morte.
Manifestações místicas, poéticas e de repulsa à parte, sempre dignas de respeito e acolhimento, penso que o confronto com a morte e a recordação dos nossos mortos devem nos direcionar a uma vigorosa opção pela vida. A saudade que sentimos de tantos que não estão mais fisicamente entre nós e o legado que eles nos deixaram dão a importância do nosso tempo existencial. Lembramos com enternecido carinho sobretudo daqueles e daquelas que firmaram, na sua passagem, as marcas permanentes da bondade, da compaixão, da justiça, da solidariedade, do compromisso com a vida.
É sabedoria aceitar e conviver com os limites da vida e do nosso tempo biológico. Trata-se de aceitar a morte no limite da nossa condição física. Mas não podemos aceitar a morte precipitada, violenta, estúpida, injusta com quem vai e com quem fica.
A morte que chega antes do tempo vem por três caminhos: a morte Severina, que mata pela violência silenciosa da fome, da desnutrição, das doenças que podem ser prevenidas, evitadas e eficazmente combatidas; a morte insensata, brutal, inadmissível nas ruas e estradas pelo automóvel transformado em arma letal; e a morte chamada no sertão de “morte matada”, a violência nua e crua dos homicídios e das guerras nas suas diversas facetas históricas.
Foi-nos dado o dom da vida e, com ele, nossa dimensão social. Somos devedores dos outros, dos nossos antepassados, dos que partilham conosco no dia a dia os mistérios e os desafios da existência e da convivência. Cabe-nos defender e preservar a vida em nós e nos outros. Além da nossa vocação comunitária, estamos também ligados à vida nas suas múltiplas manifestações e às condições em que ela floresce. Assim como precisamos do outro, precisamos da terra, da água, do ar, das plantas, dos ecossistemas, da natureza, enfim.
Temos aqui o nosso tempo. Tempo de aprendizado individual e coletivo, de construções compartilhadas, de celebrações, de festas, de alegria. Tempo de trabalho, de superação de dificuldades e tempo de desafios; tempo de preparar a casa para a acolhida amorosa da meninada que está chegando. A aventura humana precisa e deve continuar. Temos, diante dos que nos precederam, de fazer o grande pacto: todos os recursos (humanos, financeiros e tecnológicos) devem estar voltados para a preservação da vida humana, que é o valor supremo e coesionador da vida e a ela devem estar subordinados todos os demais direitos e interesses.
A norma fundamental que deve orientar o novo pacto social é que ninguém deve morrer antes de chegada a sua hora.