Tive a paciência de examinar nos sites de busca as referências ao Mineirão e suas obras para a Copa de 14.
Foi das mais completas biografias da vida pública nacional. Empresário de sucesso, criador do primeiro banco efetivamente moderno do Brasil – com a ajuda de seu sobrinho, o talentoso José Luiz de Magalhães Lins –, com iniciativas que não podem ser esquecidas – como o crédito pessoal, o cheque personalizado, o mecenato fundamental para o Cinema Novo e as editoras, a crença na propaganda, com liderança empresarial –, desde que assumiu, muito jovem, a presidência da Associação Comercial de Minas.
Foi deputado federal e senador, governador e ministro de Estado, presidente do Senado. Na defesa da democracia jogou sua carreira e, sobretudo, seu patrimônio, ao assinar o Manifesto dos Mineiros, em 1943, e deflagrar a Revolução de 64, de salvação nacional, como seu líder civil. Os adversários jamais levantaram qualquer dúvida sobre sua honorabilidade e, apesar de responsável por um grande grupo financeiro, nunca deixou de ser um homem público independente, de coragem, e respeitado.
Formou, na UDN, com o grupo mais exemplar e notável da política mineira que abrigava naquela representativa legenda.
Aliás, geração que, no PR e no PSD, contribuiu para a dignidade da política mineira com figuras do porte de Artur Bernardes Filho, Clóvis Salgado, Mário Rolla, Tristão e Aécio Cunha, Bias Fortes, José Maria Alckmin, Gustavo Capanema – eleito senador em 70 pela Arena, com Magalhães Pinto –, Ozanam Coelho e, por último, mas não menos importante, Tancredo Neves, com quem disputou o Palácio da Liberdade em 1960.
Foi como político e governante o primeiro a ter um efetivo diálogo com a crônica política local e nacional, ouvindo seu fiel escudeiro e amigo José Aparecido de Oliveira. Sua ligação com a imprensa, que sempre prestigiou, causa maior estranheza nesta omissão de seu nome no estádio que mandou construir. Quem se der ao trabalho de examinar vai verificar que o Maracanã, assim mais conhecido, não deixa cair no ostracismo o nome de Mário Filho, com o qual foi batizado mais de 10 anos depois de inaugurado. O Mineirão nasceu Mineirão e nasceu também Magalhães Pinto.
Mais importante do que este fato em si é a lembrança de que devemos respeitar os que contribuíram para o bem do país, em diferentes posições, partidos, ideologias e estados. Mas querem, covardemente, omitir benfeitores por inspiração política menor, o que merece repulsa. Ainda estamos em tempo de ver as placas nas obras de reforma e de acesso darem destaque ao nome oficial do estádio da capital mineira e, quem sabe, prestar novas e significativas homenagens ao grande brasileiro.
Não se pode entender esta cortina de silêncio sobre o nome de Estádio Magalhães Pinto, pelo que representa como mineiro e pelo simples fato de que se deve a seu dinâmico governo a construção do complexo desportivo. Agrava a omissão o fato da vítima da ignomínia estar morta e seu grupo empresarial e político não mais existir. Mas fala mais alto a dignidade que marca a postura mineira diante da vida pública, referência para todo o Brasil desde sempre.
*Aristóteles Drummond é jornalista e escreve bimestralmente na Encontro