Em meio ao corre-corre de um Natal típico de muito trabalho, a empresária Cláudia Travesso sentiu falta de uma cliente que sempre montava a árvore de casa usando seus serviços. “Ao ligar para ter notícias, ela me disse que ficou receosa de me procurar ao ficar sabendo que eu estava à frente de grandiosos projetos, como o da Praça da Liberdade e de avenidas e empresas”. Mas Cláudia fez questão de atendê-la pessoalmente. Para ela, todo projeto é especial, ainda que uns demandem mais tempo e elaboração que outros.
“Hoje, dificilmente consigo tempo para realmente colocar a mão na massa, devido à necessidade de coordenação geral, mas nossa agenda é como ‘coração de mãe’, sempre encontramos um espaço”, conta a disputada decoradora.
Casada há 30 anos, Cláudia Travesso é mãe de três filhos. Aos 50 anos de idade, ela se sente no dever de criar o clima do momento mais especial do ano, uma tradição milenar que ainda desperta sonhos. “A paixão pelo Natal é antiga, já cheguei a mudar roteiros de viagens para visitar locais que possuíam tradição nesse tipo de decoração. Não posso ver uma bolinha em uma árvore que corro para perto e começo a reparar os detalhes”, diz.
Praça da Liberdade, Natal de 2010: milhares de pessoas vão ao local todos os anos só para ver a decoração |
Assim, seu acervo pessoal foi crescendo e, junto com ele, os pedidos dos que queriam ajuda para preparar árvores, guirlandas, cenários e presépios. “Gosto tanto que já ganhei de presente de aniversário de casamento uma viagem para a Lapônia, na Finlândia, cidade lendária conhecida como a terra natal do Papai Noel”, detalha.
Formada em Psicologia, Cláudia nunca imaginou transformar seu prazer em um trabalho tão procurado por empresas e famílias. Mas considera que a formação ajuda e tem uma grande influência no que faz, “pois o Natal mexe com o imaginário das pessoas e ajuda a administrar a expectativa daqueles que valorizam esse espírito”. Formalmente, ela está nesse mercado há 15 anos, desde quando abriu sua loja especializada em produtos e decoração natalina, a Casa Futuro. Em nove meses do ano, a loja opera com 15 funcionários e, nos últimos três, conta com 40 pessoas e mais 80 profissionais terceirizados. Na empresa, é possível encontrar mais de três mil itens relacionados à festividade. “O que começou como um hobby, agradando a mim e aos meus amigos, foi se tornando grande demais para continuar informal. E assim nasceu nossa loja”, conta.
Na praça, que é um dos cartões postais de BH, o projeto de 2011 ganhou os tradicionais tons verde e vermelho: reconhecimento para Cláudia Travesso o ano todo |
Do varejo para os projetos, foi um passo natural. De clientes que compravam mercadorias e não sabiam como montar a empresas que queriam ideias novas. “Daí para frente, a especialização me levou à consultoria e à elaboração de projetos para cidades e empresas”, lembra Cláudia.
Cliente da Casa Futuro há oito anos, a empresária Lorena Barros conta que desde que descobriu o trabalho de Cláudia, nunca mais ficou um Natal sem contratar seus serviços. “Acho que a data é mais do que o simbolismo das figuras e itens natalinos.
Na carta de clientes da Casa Futuro há cinco anos, a Cemig faz de Cláudia Travesso a responsável, entre outros lugares, pela maior atração turística da capital relacionada ao Natal – a decoração da Praça da Liberdade. O local recebe milhares de visitantes todos os anos, o projeto, mais uma vez, é de encher os olhos.
“Conhecemos o trabalho da Cláudia há mais de 15 anos. Por várias vezes, não conseguimos viabilizar suas propostas porque tínhamos uma equipe própria.
Com o trabalho da decoradora, Michalick conta que conseguiu, também, agregar um fator fundamental para a estatal, a sustentabilidade. Segundo ele, o trabalho não fica apenas no projeto, há uma tranquilidade da empresa com relação à execução. “Ela atua acompanhando toda a montagem, nos ajudando a adequar o projeto às exigências do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, o que inclui a seleção de quais árvores podem receber de decoração”. O diretor conta ainda que todos os anos a Cemig recebe várias propostas de projetos de decoração. “Nenhuma delas, no entanto, consegue englobar todo o ciclo que almejamos”, diz.
Junto dos filhos, a empresária Lorena Barros se diverte com a decoração de Natal feita pela Casa Futuro em sua casa: “A data é mais do que o simbolismo das figuras e itens natalinos; sem dúvida, o clima onde tudo isso acontece faz a diferença” |
Além da Praça da Liberdade, outros projetos grandiosos, como o Natal dos 100 anos de Contagem, com 15 praças decoradas, exigem sabedoria para lidar com variáveis como chuva, volume de visitas, vandalismo, segurança da população e preservação do local.
Sobre quantos projetos residenciais já executou, Cláudia responde: “Nossa, não sei!”. Ao longo dos anos foram inúmeras casas, algo em torno de 150 montagens e projetos por Natal. Na logística, há uma equipe que trabalha direto de outubro a dezembro com todas as montagens. Nos outros meses, nada de descanso – eles respiram natal o ano todo.
Na agenda, Cláudia já marcou para o próximo mês de janeiro uma viagem para a China, onde monta uma coleção de um importador para quem faz consultoria. Em seguida, ela participa de uma feira do segmento na Europa. Em fevereiro, março e abril, é a vez da equipe desmontar, reciclar e consertar todo material que foi utilizado no Natal passado – tudo tem que passar por revisão.
Maio é hora de programar a feira de Natal para lojistas que acontece no Brasil em junho, em São Paulo. Neste evento, Cláudia é responsável por dois estandes, além da decoração da entrada da feira.
Para julho e agosto, os projetos já precisam estar praticamente formatados, enquanto a loja já inicia o recebimento dos novos produtos. Em setembro começam as montagens e outubro inicia o varejo. “Natal é que não falta no nosso ano, sou uma empreendedora full time. Não sei se sou pioneira nesse trabalho, mas posso afirmar que existem pouquíssimas pessoas que realmente se dedicam à decoração de Natal nos 12 meses do ano”, diz Cláudia.
Cláudia Travesso trabalha junto da filha, Fernanda: “Meu gosto pelo trabalho, de alguma forma, sempre influenciou a família e fez com que todos aprendessem essa arte” |
A locação de artigos natalinos e a criação de projetos não é uma atividade muito disseminada entre empresários. Para conseguir operacionalizar todo o trabalho da empresa que ela denomina como “pequena”, Cláudia conta com alguns “braços direitos”, entre eles, uma empresa que organiza e opera todas as montagens; e sua filha Fernanda, que mergulhou oficialmente no Natal a partir de 2009. “Meu gosto pelo trabalho, de alguma forma, sempre influenciou a família e fez com que todos aprendessem essa arte. A formação da Fernanda é em direito, mas ela tem uma habilidade muito grande com o nosso negócio. A decisão de se dedicar ao crescimento da Futuro e a alguns projetos nossos foi por vontade própria”, conta a mãe.
Cláudia acredita que o reconhecimento é fruto de muitas somatórias, das subjetivas às objetivas: do amor pelo Natal e tino comercial ao acervo de peças, qualidade dos parceiros e processos estruturados. “Muitos detalhes e nenhum espaço para erro ou atraso. Afinal, Papai Noel não espera”, brinca
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