A cara do cinema brasileiro contemporâneo: aos 38 anos, e depois de ter participado de mais de 30 longas-metragens como ator ou diretor, o mineiro Selton Mello se transformou em verdadeira unanimidade nacional. Homenageado principal da 15ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, realizada entre 20 e 28 de janeiro, na pequena cidade histórica, Selton é hoje o queridinho do Brasil. Agrada a gregos e baianos. “Às vezes, paro e penso: nossa, já são 30 anos de carreira.
Quando comecei a trabalhar, eu ainda era uma criança. Só tinha 8 anos de idade. É muito tempo, cara. Já dava até para aposentar”, disse, visivelmente emocionado, durante a cerimônia da abertura da mostra. “E sabe de uma coisa? Há 30 anos penso em desistir da carreira.
Este mineiro de Passos é um "velho" conhecido da Mostra de Tiradentes. Já tinha participado da sua quinta edição, com o filme Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho. Um marco na vida do ator. Para Selton, ter trabalhado no filme, que adaptou o mais importante livro do escritor Raduan Nassar para a telona, foi o momento mais decisivo de sua carreira. “Foi uma epifania. Ficamos cinco meses dentro do mato, internados. Trabalhando e convivendo o tempo todo. Uma escola”, relembra o ator em entrevista a Encontro. E admira-se: “Você sabe que foi o próprio Raduan que me escalou para fazer o papel do André no filme? Ele me viu numa novela e sugeriu meu nome ao Luiz”.
Em Tiradentes, Selton Mello apareceu na telona em cinco grandes filmes exibidos durante a Mostra. De Lavoura Arcaica ao inédito Billi Pig, comédia romântica de José Eduardo Belmonte que chega ao circuito nacional no mês que vem, passando por O Palhaço, o maior sucesso da carreira dele como diretor, filme que levou 1,5 milhão de pessoas aos cinemas brasileiros. Os outros dois foram A Erva do Rato, de Júlio Bressane, e O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia.
Mas, se da primeira vez que esteve em Tiradentes Selton era um ator menos conhecido, que gostava de beber com os amigos nos bares da cidade, este ano a história foi um pouco diferente. De volta ao festival, e depois de protagonizar alguns dos maiores sucessos do cinema contemporâneo nacional, Selton virou uma estrela.
Cena do filme O Palhaço, que levou 1,5 milhão de pessoas ao cinema em 2011: segunda incursão do ator mineiro na direção cinematográfica |
Distante do público, Selton parece viver uma fase introspectiva, de mudanças. Será? O próprio ator admite que sim. E diz que está mesmo em período de transição. Depois do grande sucesso, no ano passado, dirigindo e atuando em O Palhaço, ele agora não sabe qual será o seu próximo projeto.
Nesses períodos de mudança, Selton conta que aproveita para estudar e ler muito. Antenado, está sempre atrás de novas ideias.
Com capacidade de utilizar a grande mídia a seu favor, Selton sempre transitou do cinema experimental ao comercial, conseguindo agradar dos experimentalistas mais radicais aos diretores de novela da Rede Globo. Para ele, esta convivência sempre foi natural. “Como ator, eu sempre transitei por esses dois mundos: fazia novela e filme radical; filme comercial e filme mais inventivo. Mais recentemente, depois que virei diretor, me deu até vontade de juntar estes dois mundos”, diz.
Mas será que o antenado Selton não tem mesmo um próximo projeto escondido na manga? O ator garante que não. “Sou mineiro e, às vezes, até escondo o jogo”, ironiza. “Mas é sério: não faço a mínima ideia de qual será o meu próximo filme. Estou num período de transição. Escrevendo algumas coisas. Vamos ver o que é que vai rolar”.
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