Revista Encontro

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A BH de Pedro Nava

João Pombo Barile
None - Foto: Eugênio Gurgel, Reprodução/divulgação
 

 

Quando, no final dos anos 1960, o médico mineiro Pedro Nava começou a escrever suas memórias, pouca gente poderia imaginar que aquele seu livro se transformaria no mais importante texto memorialístico da literatura brasileira no século passado. Mero ator coadjuvante do grupo de modernistas mineiros dos anos 1920, que tinha nomes de peso como Carlos Drummond de Andrade, Aníbal Machado, Ciro dos Anjos, Emilio Moura e Abgar Renault, Nava era uma espécie de “promessa não cumprida”.

 

Apenas um poeta bissexto, que trocara o incerto (e mal remunerado) mundo das letras pela respeitada e próspera carreira de médico no Rio de Janeiro. Seu nome estava mesmo fadado ao esquecimento no mundo das letras. Mais um intelectual das Gerais que, na juventude, tinha se interessado por literatura e artes plásticas, mas que simplesmente não tinha se realizado. Esse sexagenário, no entanto, surpreenderia. E pregaria uma peça em todo mundo quando, em 1972, publicou Baú de Ossos. O livro era uma verdadeira obra-prima. Depois dele sairiam ainda Balão Cativo, Chão de Ferro, Beira-Mar, “Galo-das-Trevas e O Círio Perfeito.

 

O impacto foi enorme.

E a crítica não pouparia adjetivos. “Dignos de figurar entre o que de melhor produziu a memorialística em língua portuguesa”, escreveu o poeta Carlos Drummond sobre os seis volumes de memórias. “Mais importante para a literatura brasileira que Marcel Proust para a francesa”, sentenciou o exigente ensaísta Otto Maria Carpeaux.

 

E é exatamente a monumental obra de Nava que volta este mês às estantes brasileiras. Publicados pela Companhia das Letras, os dois primeiros volumes, “Baú de Ossos” e “Balão Cativo”, já estão disponíveis. Até o final do ano, a casa editorial paulistana promete lançar ainda “Chão de Ferro” e “Beira-Mar”. No ano que vem devem sair, ainda, os outros três volumes. Além, é claro, do inacabado sétimo volume: “Cera das Almas”. Com 36 páginas, o livro estava sendo produzido quando o escritor mineiro se matou, em 1984, aos 81 anos, na casa onde morava, no Rio de Janeiro.

 

A nova edição, que será publicada pela Cia. das Letras, tem o projeto gráfico da designer Elisa v. Randow. Ela criou sobrecapas que dão aos livros um aspecto de diário pessoal, daqueles encontrados antigamente nas papelarias. Já a artista plástica Marina Rheingantz, um dos jovens talentos da cena contemporânea, produziu obras de arte especialmente para ilustrar a capa de cada volume.

 

Autor de Vísceras da Memória, um dos mais interessantes estudos sobre a obra de Pedro Nava já publicados no país, o professor Antônio Sérgio Bueno, da Faculdade de Letras da UFMG, comemora a publicação da nova edição: “É importante que a obra de Nava seja conhecida pelas novas gerações”, afirma. Antônio Sérgio conta que conheceu Nava ainda nos anos 1970, quando preparava um estudo sobre o movimento modernista em Belo Horizonte.

“Na época eu estava mais interessado em estudar a obra do Drummond e de outros poetas modernistas. E conhecia muito pouco da obra do Nava”, confessa o professor, que completa: “Quando comecei a ler os livros dele, fiquei apaixonado”.

 

Se a obra de Nava é importante para todos os brasileiros, ela talvez seja ainda mais relevante para os moradores de BH. Poucas cidades podem se dar ao luxo de terem  sido retratadas por um escritor da importância de Nava. Pensando nisto, Encontro selecionou alguns trechos da obra do memorialista onde a cidade é a protagonista principal. Mesclando fotografias feitas nos anos 1970 com imagens recentes, sugerimos um passeio pela Belo Horizonte de Pedro Nava.

 

 
 
 
 
 
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