Quem vê a pintura de Santa – quadros com imagens de crianças, (muitos) anjos, montanhas e igrejas, todos desenhados com cores claras e alegres –, imagina que por trás dos traços encontra-se, talvez, uma pessoa serena, sensível e feliz.
As primeiras tentativas de desenho começaram na infância, quando Santa ainda era a pequena Maria Júlia de Almeida e vivia em Contagem das Abóboras. O apelido, que acabou tornando-se sua assinatura, foi dado pela avó, que a considerava uma criança quieta demais. “’Essa menina é uma santa!’, dizia minha avó”. Já então não era difícil fazer as apostas artísticas: o pai, Antônio Licurgo de Almeida, era poeta.
Em 1951, Santa passou a ser aluna do pintor Alberto da Veiga Guignard, na escola fundada pelo mesmo em Belo Horizonte. Segundo as lembranças da convivência com ele, o mestre não somente a ensinou a arte, como também a serenidade. “Guignard era uma pessoa muito simples. Pintava próximo a nós, mas nunca interferia, deixava os alunos bem soltos”, lembra.
Na obra da pintora, a figura marcante dos anjos, crianças e bichos: “Achava lindo, na imaginação de menina, as roupas brancas e as asas”, diz Santa |
Santa conta que, na época, o acesso ao trabalho do artista era escasso, limitado a pequenos grupos de interessados. “Fizemos uma exposição, certa vez, no centro da cidade, onde só compareceram jornalistas e colecionadores”. O panorama, hoje, tende a ser diferente: recentemente a Editora UFMG lançou o livro Pesquisa Guignard, fruto de quase 10 anos de trabalho e, além disso, o Museu Casa Guignard, de Ouro Preto, mantém página na internet para divulgação de acervo sobre a obra do pintor.
A separação entre professor e aluna deu-se dois anos depois, quando Santa casou-se e Guignard mudou-se para Ouro Preto, cidade que ele adotou como musa para maior parte de seus trabalhos. “Mas nós continuamos a nos comunicar. Ele mandava quadros para mim e essas coisas”, conta. Após uma temporada no Rio de Janeiro, onde manteve um ateliê aberto ao público no Largo do Boticário, Santa resolveu seguir os passos de seu mentor e foi morar na cidade histórica mineira.
Lá, conta, viveu seu período de maior atividade artística. “Tenho muita vontade de voltar para Ouro Preto.
Enquanto pinta, geralmente à noite, Santa gosta de deixar a TV ligada, com o som bem baixinho, sintonizada no noticiário ou em canais com obras antigas do cinema. “Não gosto nada de filmes de violência”, decreta. Como segunda companheira para as horas de inspiração, a artista escolheu a música – clássica e MPB, diz, sem titubear. O resultado dessa mistura são pinturas que parecem mesmo ter saído de uma madrugada de seresta mineira. Santa está, atualmente, organizando, junto à escola de arte Maison, uma exposição com obras inéditas. A artista faz suspense sobre o evento: “Não sei o que o público deve esperar. Vamos ver”. O jeito é ficar na expectativa. .