Revista Encontro

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Hora de arriscar e diversificar

Zulmira Furbino
Betânia Torres, cirurgiã-dentista: aposta, diante do quadro atual, em novos caminhos - Foto: Paulo Márcio, Samuel Gê

O sonho de ver no país uma taxa básica de juros (Selic) próxima à praticada no primeiro mundo chegou meio de viés para os investidores brasileiros. Até aqui acostumados a ganhos generosos nas aplicações em fundos de renda fixa, com a Selic a 8,5% ao ano – e em previsão de queda –, eles terão de mudar a sua estratégia de investimento e se arriscar mais se quiserem remunerar melhor o capital que têm acumulado. Com a mudança no cenário, ganhos que em outros tempos eram considerados irrisórios passaram a ser vistos com olhares gulosos pelo mercado. “Na atual circunstância, todo rendimento adicional ao CDI é importante. Hoje, 1% a mais ou a menos na remuneração do capital virou muita coisa. Isso pode significar 10% de rentabilidade a mais numa aplicação em comparação com outra”, diz Marcelo Domingos, sócio da DLM Invista, especializada na gestão de fundos de investimento.

 

Mas há quem siga a própria intuição para garantir ganhos bem maiores, como a dentista Betânia Lessa Machado Torres, mestre em prótese dentária e especialista em estética dental. Ela, diante do quadro atual, resolveu aplicar seus recursos em duas frentes: na construção de uma nova clínica para atender melhor os pacientes e em imóveis comerciais, que, acredita, poderão garantir a sua segurança no futuro. “Investir em formação, reciclagem profissional e em meu próprio negócio é a melhor aposta diante da situação de momento”.

 

Para quem quer continuar no mercado e ganhar mais, as saídas não são tantas assim, mas vale a pena arriscar, garantem os especialistas.

Na hora de escolher, tudo vai depender da quantidade de recursos disponíveis para aplicação. É que os títulos de renda fixa, que eram objeto de atração dos investidores porque aliavam boa remuneração com segurança, perderam atratividade em relação à poupança por causa das altas taxas de administração cobradas por bancos e gestores. Diante disso, ganham importância os fundos de ação, os fundos multimercado, e, para os investidores com maior poder de fogo, até mesmo papéis rurais como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e de imóveis, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

 

Para Uelques Almeida, gerente de desenvolvimento de negócios do Banco Mercantil do Brasil, a avaliação das oportunidades de investimento deve considerar as variáveis como rentabilidade, segurança e liquidez. “Em geral, é necessário abrir mão de uma das três para privilegiar as demais”. Uma das alternativas na busca de melhores rendimentos, segundo ele, são aplicações em renda fixa que podem gerar rentabilidade acima do CDI, tais como letras financeiras, letras de crédito, títulos do Tesouro Nacional e fundos de investimento imobiliários. Por outro lado, se o investidor estiver disposto a correr um pouco de risco, segundo ele a opção é aplicar parte do seu capital em fundos de investimento de renda variável ou fundos multimercado, que combinam rendimentos fixos e variáveis.

 

Yves Cardoso Fidalgo Júnior é gerente-executivo da unidade de Private Banking do Banco do Brasil, voltada para o público que tem pelo menos R$ 1 milhão disponível para investir. Segundo ele, esse tipo de cliente em geral é multibancarizado, o que significa que a briga por ele no mercado bancário é feroz. “Os bancos precisam se fortalecer e criar estruturas próprias para que esses clientes sejam atendidos de forma diferenciada, dado o volume de recursos que eles têm. Esse cliente almeja um tratamento especial e isso tem de ser acompanhado por uma consultoria de alta performance”, explica. De acordo com Yves Júnior, no cenário de Selic anual a 8,5%, com perspectiva de pelo menos mais um corte até o fim do ano, o ideal – para clientes mais conservadores ou moderados – é, mais uma vez, obedecer à máxima popular que diz que não se deve colocar todos os ovos numa mesma cesta. Ou seja: a estratégia continua sendo montar uma carteira diversificada.

 

Uelques Almeida, gerente de negócios do Mercantil: “Uma das alternativas na busca de melhores rendimentos são as aplicações em renda fixa, que podem gerar rentabilidade acima do CDI"
 

 

“A gente tem recomendado que os clientes, neste momento, montem uma carteira variada, alocando parte dos recursos num fundo imobiliário, com perfil de rendimento em torno de 9% ao ano, porque essa aplicação está livre da alíquota do Imposto de Renda (IR). Esse rendimento é equivalente ao de uma outra aplicação que pagasse 11% ao ano”, diz Yves Júnior. Outra opção, segundo ele, são os fundos multimercados, que possuem política de investimento que envolve vários fatores de risco, uma vez que combinam investimentos nos mercados de renda fixa, câmbio, ações, e também utilizam-se ativamente de instrumentos de derivativos para alavancagem de suas posições, ou para proteção de suas carteiras (hedge).

“Como tem acesso a esses vários mercados, esse tipo de aplicação financeira pode buscar maior agilidade e tirar proveito de uma tendência de forma de muito mais rápida”.

 

Marcelo Domingos aposta que, para os investidores que podem pensar em longo prazo, com recursos disponíveis por três anos, a bolsa de valores é uma saída interessante para aumentar a remuneração do capital, mas desde que isso seja feito por gestores profissionais ou que o investidor domine o assunto e acompanhe o dia a dia do mercado de capitais, interferindo sempre que necessário. “Se for bem gerido e com horizonte de longo prazo, um fundo de ações tende a atuar bem melhor que fundos de renda fixa e poupança. Esses fundos ganharam espaço na estratégia de longo prazo de investidores, mas é preciso reservar a eles apenas uma parcela do capital disponível para investimentos. É possível encontrar opções nos próprios bancos e em gestoras independentes. Por meio deles, pode-se auferir ganhos significativos, sem que o investidor pessoa física seja um profissional no assunto. “Quando uma pessoa vai sozinha à bolsa, tem de saber acompanhar e analisar as empresas. Ao optar por um fundo de ações, está comprando também uma estratégia desenhada por especialistas”.

 

No caso de a escolha recair num fundo multimercado, o rendimento pode chegar a 110% do CDI, aponta a DLM Invista. A tendência é que eles possam se apropriar de ganhos na retomada dos mercados que passaram por grande volatilidade. “Cada caso é um caso. Antes de dar uma recomendação de investimentos, é preciso considerar o perfil do cliente”, lembra o gerente da área de Private Banking do Banco do Brasil.

“Se a opção for pelo mercado de capitais, o ideal é que o cliente compre papéis de empresas que são boas pagadoras de dividendos e que atuam em setores da economia que tendem a se recuperar ou a crescer nos próximos meses”.

 

As LCA e LCI, por sua vez, são escolhas interessantes porque gozam de isenção tributária, o que eleva a taxa de retorno. “Hoje, a remuneração de uma LCA varia de 86% a 94% do CDI ao ano. Essa remuneração é equivalente a 110% do CDI numa aplicação normal, que paga IR”, lembra o especialista do BB. O mesmo vale para as LCIs. A ressalva é que, em geral, esses papéis são destinados aos investidores que possuem mais volume de dinheiro. Eles são mais requisitados por esse tipo de cliente.

 

Euber Faria, gerente regional de Private Banking do BB para Minas, centro-oeste e norte do país, orienta aos que desejam um portfólio de investimentos diversificado e completo a considerar a previdência privada em seu pacote, que deve incluir renda fixa (LCA e LCI), fundos imobiliários e outros de renda variável (ações e fundos multimercado).  “É uma opção de longo prazo que, além da boa rentabilidade, conta com incentivos fiscais como ausência de IR na fase de acumulação e Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), por não se constituir herança”. Além desses diferenciais, segundo ele, os planos de previdência permitem migrações entre fundos a cada 60 dias (por exemplo, de renda fixa para variável), sem configurar resgate e, portanto, sem recolhimento de IR e mantendo a data de entrada no plano.

 

 
 
 
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