Quando o assunto são as férias, a maior parte das pessoas pensa imediatamente no destino, na pressa para definir o local ideal para curtir os merecidos dias de descanso. Litoral do Rio de Janeiro, sul da Bahia ou Espírito Santo? Cidades históricas ou um daqueles parques com muitas cachoeiras e trilhas para desbravar as serras mineiras? Mas o que nem sempre merece a devida atenção de quem vai viajar de carro é uma avaliação das condições das rodovias, repassando todos os cuidados que o motorista deve ter ao enfrentar uma BR. Nessa hora, todo cuidado é pouco.
O grande número de veículos e os problemas apresentados na maioria das estradas dobram os riscos. O acidente envolvendo o ônibus em que viajava a cantora Mart’nália na BR-040, quando ela voltava ao Rio depois de um show em BH, no fim de junho, ilustra bem esta realidade. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista do ônibus não usava cinto de segurança e morreu ao ser lançado para fora do veículo. Ainda de acordo com os policiais, o carro que se envolveu no acidente, após o motorista perder o controle, teria invadido a pista contrária, provocando o choque com o coletivo. E mais: o trecho da BR-040 onde ocorreu a batida, no município de Ressaquinha (MG), no Campo das Vertentes, é perigoso e merece toda atenção dos condutores.
A conjunção destes fatores – falta de equipamentos de segurança, imprudência e pista perigosa – quase sempre aparece no registro de boa parte dos acidentes em Minas e no Brasil. Nunca é demais repetir: o perigo ronda as estradas, principalmente no mês das férias.
Alguns especialistas são unânimes em apontar os abusos dos motoristas como a principal causa de acidentes nas BRs. Este foi, aliás, o resultado do mais recente estudo desenvolvido pela Fundação Dom Cabral (FDC) sobre o tema. “Tínhamos a sensação de que a causa dos acidentes estava ligada à infraestrutura das rodovias, mas descobrimos que o comportamento incorreto ao volante é que está ligado à maior parte das ocorrências”, diz Paulo Resende, pesquisador da FDC. Foram levantados fatores como o excesso de velocidade, confiança, imprudência, manobras perigosas e imperícia como os principais motivos. Na pesquisa, foram analisados 533 trechos de rodovias brasileiras, entre 2005 e 2009.
Fabrizia Nicolai, da PRF-MG, e o alerta na BR-381: “A saída para João Monlevade tem quase 200 curvas em 100 quilômetros. Já constatamos muitas batidas frontais, sendo que em cada 10 acidentes, quatro pessoas acabam morrendo” |
O trabalho apontou outro dado alarmante para os mineiros. Na BR-381, que passa por João Monlevade, está o trecho mais perigoso do país. Não é sem motivos que ela carrega o triste título de “Rodovia da Morte”. O trecho vai do quilômetro 450 ao 500, entre a capital mineira e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Há esperança de melhora, já que em recente vinda ao estado, a presidente Dilma Rousseff anunciou recursos que serão injetados na duplicação da rodovia.
Mas o pesquisador Paulo Resende lembra que a atenção deve predominar em qualquer tipo de rodovia. “Afinal, é na pista em boas condições que o motorista brasileiro tem o costume de pisar fundo no acelerador”, afirma. Para ele, o aumento da frota e a grande quantidade de veículos populares em circulação intensificam o problema das colisões.
A Polícia Rodoviária Federal também confere ao comportamento do motorista a culpa por 80% dos acidentes. “Além de abusar da velocidade, há motoristas que não acreditam na sinalização, que foi elaborada e estudada para protegê-los”, afirma a inspetora Fabrizia Nicolai, assessora de imprensa da PRF-MG. Outro ponto que ela faz questão de ressaltar é a falta do uso de cinto de segurança pelos passageiros. “Parece simples, mas várias pessoas descumprem esta determinação”, diz.
Paulo Resende, pesquisador da FDC: “Tínhamos a sensação de que a causa dos acidentes estava ligada à infraestrutura das rodovias. Mas descobrimos que o comportamento incorreto ao volante está ligado à maior parte das ocorrências” |
Aliados às questões de segurança, a inspetora faz alguns alertas em relação às BRs-381 e 040, principais rodovias usadas neste período. A saída para Monlevade, na 381, exige atenção redobrada. “É um trecho com cerca de 200 curvas em 100 quilômetros. Já constatamos muitas batidas frontais, sendo que em cada 10 acidentes, quatro pessoas acabam morrendo”, revela a inspetora. Neste trecho, uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas num acidente envolvendo três carretas, no dia 20. Mas, para José Aparecido Ribeiro, presidente da ONG SOS Rodovias Federais, a causa dos acidentes não pode ser atribuída apenas à imprudência de quem está ao volante.
A psicóloga Rosely Fantoni, gerente de educação para trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), entende que algumas rodovias precisam de melhorias. Só que destaca a importância de o motorista assumir uma direção defensiva. Ela acredita que as pessoas devem atuar também como agentes para impedir possíveis falhas dos condutores. “Todos nós devemos ser colaboradores em prol de um trânsito mais seguro, lembrando o amigo ou familiar sobre as medidas de segurança antes de viajar”. Então, fique atento a todas elas e boa viagem!