Revista Encontro

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A arte que vem do aço

None - Foto: Geraldo Goulart

“Trabalho apenas com o sentimento e o desejo de fazer do aço algo mais leve e doce.” É com esta ideia que o escultor Rigo, de 49 anos, esquece a vida lá fora e dedica a maior parte do dia ao ofício que aprendeu sozinho, em seu ateliê no bairro Ipiranga, região Nordeste da capital mineira. Ele transforma o aço do tipo corten, oxidado ou pintado, em esculturas abstratas que decoram algumas praças de Belo Horizonte – a mais recente foi instalada na Duque de Caxias, em Santa Tereza –, residências e edifícios na capital e Brasil afora.

 

O escultor conta que não costuma planejar muito o que vai fazer. “Geralmente, não faço grandes projetos, deixo para o acaso. Gosto de ir dobrando os pedaços até chegar numa peça agradável”, diz. Antes de ligar a máquina de soldar, ele conta que faz rabiscos de giz, espécie de esboço da peça que está prestes a ser extraída do aço. Desafios de lidar com a rigidez do material? “Até hoje, consegui fazer tudo o que desejei”, afirma o artista, que é autodidata.

 

A história de Rigo começou há 15 anos, depois de fechar uma pequena fábrica de escadas. Foi aí que ele aproveitou a intimidade e a facilidade de lidar com o material para investir na carreira artística. “No início era apenas uma brincadeira, mas quando vi já estava vendendo minhas obras”, diz o artista.

 

Avesso a rótulos, Rigo não gosta nem de nomear os seus trabalhos, mas guarda um carinho especial por uma de suas poucas peças, batizada A Chama, que está exposta na praça Alberto Mazzoni, no bairro Colégio Batista.

A obra é tão significativa que o escultor e os três filhos – o artista Gabriel Sant’Anna, de 25 anos, que segue os passos do pai; Ananda e Emílio – a tatuaram no corpo.

 

 
 

Apesar da preferência assumida, para o escultor todo trabalho guarda uma singularidade. “Esta ficou mais bonita do que a outra”, diz, depois de finalizar mais uma peça de encomenda. “Às vezes, a ideia se repete, mas cada obra é única, pois não tem uma forma”, diz. De acordo com Rigo, os preços das peças decorativas de chão variam de R$ 2 mil a R$ 10 mil, e as de parede, de R$ 1,5 mil a R$ 4 mil.

 

A inspiração para isso tudo “vem do coração e da alma”, como gosta de dizer. De acordo com Rigo, no início da carreira, quando ainda aplicava as primeiras soldas, evitava visitar exposições de trabalhos de outros artistas para não se deixar influenciar. “Queria que as minhas peças tivessem a minha identidade e o meu carimbo de alma.” Ele cita nomes de importantes artistas mineiros que aprendeu a admirar, como Pedro Miranda, Leandro Gabriel, Ricardo Carvão e Amilcar de Castro, que morreu em 2002.

 

Além das praças Duque de Caxias, em Santa Tereza, e Alberto Mazzoni, no Colégio Batista, o público de Belo Horizonte pode conferir outro trabalho de Rigo instalado na praça Negrão de Lima, no Floresta. E mais uma escultura deve ser exposta nos próximos meses na avenida do Contorno, perto da praça Floriano Peixoto, no bairro de Santa Efigênia. Projetos futuros? Inúmeros, mas todos estão ainda na cabeça. “Buscarei aplicar um pouco de cor no meu trabalho a partir de setembro. Quero, também, fazer mobiliários especiais e mais refinados”.

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