Revista Encontro

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Horário noturno não pegou

Valquiria Lopes
None - Foto: Eugênio Gurgel

A proposta era criar um shopping a céu aberto na região mais charmosa de BH, a Savassi, e oferecer ao consumidor da capital a opção do comércio de rua até as 21h durante a semana e aos sábados, até as 18h. Mas o projeto não decolou. O Via Albuquerque, iniciativa prevista para ser implantada em quatro quarteirões da rua Antônio de Albuquerque, começou com tropeços em agosto e logo deu mostras de que a moda não iria pegar. Alguns comerciantes que no início aderiram ao horário estendido voltaram a baixar as portas às 19h, queixando-se da falta de policiamento, pouca iluminação na rua e, em consequência, do fraco movimento.

 

Para entender o desânimo em relação ao projeto, basta dar uma volta nos quarteirões que vão da praça Diogo de Vasconcelos à rua da Bahia, trecho escolhido para o novo horário. Após as 19h começa o apagar das luzes na maioria dos estabelecimentos. Somente cerca de 15 das mais de 30 lojas mantêm o funcionamento. Também é pequeno o movimento de pessoas com sacolas nas mãos, situação bem diferente do efervescente vai e vem percebido durante o dia. A gerente da loja de calçados Ideale, Amanda Fernandes de Souza, diz que foi a falta de clientela no horário noturno que a fez desistir, em apenas três dias.“Tive de fazer remanejamento de pessoal, estava tendo um gasto a mais com pagamento de funcionários e sem vender nada”, diz.

 

Na loja Mamãe e Companhia, o horário estendido durou apenas 20 dias: “Achei inviável”, diz a proprietária Karla Mota
 
 

Na loja Mamãe e Companhia, o horário estendido durou apenas 20 dias.

“Achei inviável”, diz Karla Mota. “O projeto é bom, mas nos foi prometida presença policial que não se cumpriu no dia a dia.” A queixa sobre insegurança e pouca iluminação foi motivo para muitos lojistas nem mesmo se arriscarem no horário prolongado. Dona da loja de moda íntima Corpus, a empresária Dâmaris de Souza diz não se sentir segura para manter o estabelecimento aberto até mais tarde. “Após as 19h, o movimento morre na Savassi. A rua fica escura”, diz.

 

Amanda Fernandes, da loja de calçados Ideale, manteve a loja aberta em horário estendido por apenas três dias: “Estava tendo um gasto a mais com pagamento de funcionários sem vender nada”
 
 

Mas ainda há quem resista. Mesmo ciente dos problemas e cobrando mudanças para que o Via Albuquerque saia do papel, há lojistas que persistem com vitrines iluminadas e pensam que tudo é uma questão de tempo. É o caso das vizinhas de loja Maria Fernanda Afonso, proprietária da confeitaria Doces de Portugal, e a vendedora da loja Chinha, Magna Eliane Diniz. “Cliente, tem. Não é na mesma intensidade, mas sempre entra alguém”, disse Maria Fernanda.

 

Quem acredita que a ideia vai vingar acha que houve precipitação por parte dos lojistas que desistiram. “No início, houve grande adesão, mas o projeto passou a não funcionar por falta de participação dos lojistas. O hábito de fazer compras mais tarde precisa ser criado, mas para isso o comércio deve estar aberto”, diz a proprietária da loja Barriguinha, Márcia Loyola. Para ela, houve muita ansiedade e pouca perseverança. “O retorno não vem de imediato.

Tive aumento de 20% nas vendas e acredito que vai melhorar com a proximidade do Natal”.

 

A empresária Maria Fernanda Afonso e a vendedora Magna Eliane Diniz, vizinhas de lojas, acham que para o horário noturno pegar é só uma questão de tempo: “Cliente, tem”, diz Maria Fernanda
 
 

É justamente de olho no futuro que a gerente da loja Fiki Pizi, Regina Célia Costa, acredita que a ampliação do horário será um ganho não só para os lojistas ou para a região, mas para toda a cidade. “Aqui é um ponto turístico de Belo Horizonte. Quanto mais investimento dos comerciantes na promoção de atrativos para os moradores e para os visitantes, quem ganha é a cidade como um todo”, diz. Regina conta que só tem pontos positivos a somar desde que aderiu ao projeto. “Continuo vendendo no turno da noite e, apesar de o movimento ser um pouco menor, tive lucro todos os dias.”

 

Frequentador da Savassi, o consultor de gestão de inovação André Mainart critica a postura do lojista que não aderiu ao projeto. “Quem não acredita na proposta tem visão conservadora do negócio, comportamento que já é típico do mineiro. É preciso quebrar a resistência”, diz. Ele e a namorada, a publicitária Natália Lazarini, defendem que é preciso mais divulgação. “Eventos como desfiles de moda ou apresentações musicais podem trazer mais pessoas à região e aquecer as vendas”, diz Natália. Quem também defende a realização de um trabalho de divulgação e a ampliação do projeto para toda a Savassi é a administradora de empresas Flávia Sampaio, de 36.

“As pessoas precisam ficar sabendo para que o comércio de rua sobressaia.”

 

Frequentadora da Savassi, Flávia Sampaio acha que falta divulgação sobre o horário noturno: “As pessoas precisam ficar sabendo”
 
 

É o que pretende a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) Savassi, que planeja realizar eventos de pequeno porte entre 18h e 20h para atrair o público. “Serão desfiles, shows de música, algo de baixo impacto, mas benfeito”, adianta o presidente da entidade, Bruno Falci. Sobre a segurança, pauta de reuniões antes da implantação do projeto Via Albuquerque, o comandante da 4ª Companhia Especial do 1º Batalhão de Polícia Militar (PM), major Carlos Alves, responsável pela Savassi, ressalta que o efetivo e o patrulhamento foram reforçados e são adequados ao local. Segundo ele, a região não enfrenta problemas de criminalidade.

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