Por volta das 13h30 de uma segunda-feira, 4 de junho, o presidente do Atlético, Alexandre Kalil, desceu a escada de acesso ao campo 1 da Cidade do Galo, em Vespasiano, ao lado da principal contratação de sua gestão e uma das maiores da história do clube. Vestindo camisa de algodão branca e com semblante de cansaço – a negociação na noite anterior, no Rio de Janeiro, havia avançado pela madrugada –, o mandatário alvinegro apresentava à torcida o campeão mundial e eleito duas vezes melhor do mundo Ronaldinho Gaúcho, com a promessa de mostrar que o Galo estava “no mapa do futebol” e iria voltar a brigar entre os grandes do futebol brasileiro.
Cinco meses após a arriscada e audaciosa contratação do camisa 49, o Atlético está perto de retornar à Copa Libertadores, principal competição continental, após nove anos. A temporada, que começou com a conquista invicta do Campeonato Mineiro, tem o Galo brigando com chances de título no Brasileirão, fato que não ocorria desde 1999, quando perdeu a decisão para o Corinthians. Os mineiros terminaram o primeiro turno na liderança, com 43 pontos e incríveis 79% de aproveitamento – no ano passado, na metade do campeonato, o Galo havia feito apenas 15 pontos e amargava a vice-lanterna. Terminou em 16º lugar.
A guinada do clube após mais de uma década de resultados inexpressivos foi uma mistura de fatores e mudanças na forma de gerir o futebol. A primeira delas foi manter o técnico Cuca, que assumiu em agosto do ano passado, quando a equipe tinha quase 80% de chances de rebaixamento. Cuca – que havia pedido demissão do arquirrival Cruzeiro um mês e meio antes – salvou a equipe da degola e, ao término desta temporada, será o primeiro treinador em duas décadas a começar e terminar o ano à frente do futebol profissional.
O segundo passo foi montar uma equipe competitiva – e com o pagamento em dia. Além de Ronaldinho Gaúcho, o clube trouxe Victor, ex-Grêmio, presença constante no gol da seleção brasileira, e outros jogadores que logo assumiram um lugar entre os titulares: como o lateral esquerdo Júnior César (Flamengo), o lateral direito Marcos Rocha (América), o volante Leandro Donizete (Coritiba) e o atacante Jô (Internacional), além de peças importantes de reposição, como o zagueiro Rafael Marques e o armador Escudero (Grêmio), e os atacantes Leonardo (Coritiba) e Danilinho (Tigres-MEX) – este último desligado por indisciplina.
Bernard, a maior revelação da temporada: “Tem muita participação do Ronaldinho na minha boa fase” |
Para o diretor de futebol Eduardo Maluf, responsável por analisar o mercado e pelas contratações, o Galo acertou em inicialmente “arrumar a casa”, para depois montar um grupo forte.
Filho de um dos presidentes mais populares da centenária história do Galo – Elias Kalil –, o engenheiro civil Alexandre Kalil, de 53 anos, iniciou seu mandato em outubro de 2008, após a renúncia de Ziza Valadares. Com o time vindo de um rebaixamento recente – retornou à elite com o título da Série B de 2006 –, Kalil não conseguiu resultados expressivos em seu primeiro mandato: contratou 75 jogadores e conquistou apenas o Mineiro de 2010 contra o Ipatinga, que havia derrubado o Cruzeiro na semifinal. Em seu mandato, cinco treinadores passaram pela Cidade do Galo: Emerson Leão, Celso Roth, Vanderlei Luxemburgo, Dorival Júnior e Cuca, atual comandante.
No ano da redenção do Galo, Kalil, além do título estadual invicto e da contratação de Ronaldinho Gaúcho, firmou uma parceria com a BWA para gerir a Arena Independência, no Horto, reinaugurada em abril após quase dois anos de reforma. O clube tem direito a 45% das receitas; a BWA, igual parte; América, 5%; e o governo do estado, os outros 5%. A identificação entre torcedor e estádio foi imediata. Apesar de ter capacidade para 23 mil torcedores – lotação bastante inferior a Engenhão (Rio), Olímpico (Porto Alegre), Pacaembu e Morumbi (São Paulo), por exemplo –, o Atlético tem a quarta melhor média de público do Brasileirão, com 18.038 pagantes por jogo, atrás apenas de Corinthians, São Paulo e Grêmio.
Apesar do ano positivo, nem tudo são flores na administração de um clube. Segundo relatório apresentado pela consultoria BDO sobre as finanças dos clubes brasileiros, em maio, o Atlético era o quarto clube brasileiro de maior dívida (R$ 367,592 milhões), atrás de Botafogo, Fluminense, Vasco e à frente do Flamengo. Os números foram rechaçados à época pelo clube, que alegou a contratação de uma auditoria independente, responsável pela reavaliação do patrimônio, que passou de R$ 230 milhões para R$ 671 milhões.
Júnior César treina forte na Cidade do Galo: centro de treinamento do clube é considerado o mais completo do Brasil |
Entre os principais patrimônios do Atlético estão o DiamondMall, ao lado da sede social do clube, em Lourdes, a Vila Olímpica e o Labareda, próximos à lagoa da Pampulha, e a Cidade do Galo, eleita em pesquisa da Sportv em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) o melhor centro de treinamento do Brasil.
Além de servir para os treinos dos profissionais, o CT de 250 mil metros quadrados de área total é usado pelas categorias de base, celeiro de bons jogadores. Um deles, que subiu para os profissionais recentemente, foi um dos mais favorecidos pela chegada de Ronaldinho Gaúcho: o jovem atacante Bernard, de 20 anos, uma das revelações do Brasileiro. “Tem muita participação do Ronaldinho na minha boa fase.
Apesar de ser bem querido por jogadores e comissão técnica, Ronaldinho ainda não sabe se continua no Atlético em 2013. Ele veio para Minas após entrar em litígio com a diretoria do Flamengo, cobrando R$ 40 milhões por quebra de contrato. Fechou por seis meses sem despesas com o Galo, que banca apenas o salário – que, segundo especulações, gira em torno de R$ 300 mil. O astro ficando no clube ou não, Kalil já deixou o recado para os próximos anos. “Nós estamos no mapa. Minas Gerais está no mapa. Aqui atrás da montanha tem um clube organizado, capaz e competente.”
10 motivos para comemorar
Por que o atleticano pode fazer a festa em 2012
1- Desde 1999, o Galo não aparecia na briga pelo título brasileiro
2- Após nove anos, o time vai voltar a disputar a Libertadores
3- É campeão mineiro do ano sem nenhuma derrota
4- Cuca é o primeiro técnico em 20 anos a começar e terminar uma temporada
5- Contratações acertadas, com destaque para a de Ronaldinho
6- Aproveitamento de jogadores das divisões de base, de onde veio Bernard
7- Cidade do Galo eleita o melhor CT do Brasil
8- Contas saneadas e pagamento de salários dos jogadores e dos funcionários em dia
9- Parceria para a gestão da Arena Independência
10- Quarta melhor média de público do Brasileirão, apesar da menor capacidade do Independência
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