Revista Encontro

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Futuro incerto

None - Foto: Cláudio Cunha, Leo Araújo

O futuro do Observatório Astronômico Frei Rosário, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no alto na Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está nas estrelas. E para enxergá-lo é necessário um telescópio superpoderoso, capaz de alcançar os astros através de um céu nublado e com muitas nuvens. A analogia serve para explicar o problema que o espaço destinado à observação e ao estudo do universo está enfrentando. Desde junho e pela primeira vez em 26 anos, o lugar não está mais com as portas totalmente abertas ao público, já que as visitas somente são autorizadas mediante agendamento. A medida foi tomada a pedido da Arquidiocese de BH, proprietária do terreno, depois que uma série de exigências foi feita para garantir a segurança no local, muito procurado por turistas. O imbróglio esvaziou também a comemoração dos 40 anos do Observatório, que seriam festejados em 9 de novembro.

 


O pivô da discussão é o evento noturno Observatório Aberto ao Público, que atrai, todo primeiro sábado de cada mês, cerca de 1 mil pessoas. O sucesso do projeto era tão grande que, mesmo nos dias em que o céu estava nublado, centenas de visitantes optavam por subir a serra e curtir a sensação de estar bem perto das estrelas. Entre as principais queixas da Arquidiocese estão a falta de iluminação e de sinalização, falta de vigias, de banheiros químicos, de ambulância, além da ausência de um alvará do Corpo de Bombeiros que autorize a realização de eventos que atraiam grande público.

 


Em nota, a Arquidiocese de BH informou que o Observatório “registrou nos últimos anos um considerável aumento no número de visitantes para o evento realizado sempre à noite, no primeiro sábado de cada mês”.

A nota segue dizendo que em decorrência do aumento de visitas o espaço precisa de “readequação da infraestrutura para garantir a segurança de todos que participam deste evento”. As necessidades de melhorias no lugar também foram constatadas pela própria UFMG.

 

 

Renato Las Casas, coordenador do Observatório, fechado desde junho: novos projetos esbarram em burocracias   
 
 


O professor Renato Las Casas, coordenador do Observatório há 26 anos, está preocupado e torce para que a situação se regularize o mais rápido possível. “Muitas das coisas que a Arquidiocese está querendo também estamos buscando”, diz o físico. Las Casas afirma que alguns projetos que foram elaborados esbarram em burocracias. Outro problema foi a greve dos professores da UFMG, que este ano durou 79 dias e praticamente interrompeu o funcionamento da universidade. A indefinição sobre o futuro do Observatório motivou o coordenador a pensar, em último caso, em lugares alternativos para a realização da atividade. “Existe o Parque Ecológico, na Pampulha; o Museu de História Natural da UFMG, no Horto; ou seja, poderíamos trazer o evento para BH, mas não seria o ideal”, diz Las Casas. O professor revela alguns locais da Grande BH que poderiam receber o público, como Brumadinho, Serra da Moeda e Serra do Cipó. Mas ele adianta que a distância da capital seria um empecilho para muitas pessoas.

 


A professora Ariete Righi, chefe do Departamento de Física da UFMG, acredita que tais projetos esbarram também na falta de parceiros. “Se encontrássemos um patrocinador, essa situação poderia ser regularizada de maneira mais fácil”, afirma. Antônio Otávio Fernandes, diretor do Instituto de Ciências Exatas (Icex-UFMG), concorda com as exigências da Arquidiocese e também espera que o imbróglio se resolva. “É preciso realmente fazer o dever de casa. Não dá para colocar 1 mil pessoas à noite lá e não se preocupar com a segurança”, disse.

Sobre o valor da possível obra, ele revela que não “há problemas financeiros, uma vez que ainda não houve demanda de obras ou melhorias”. O diretor disse ainda que se reuniria na última semana de outubro com os integrantes do Departamento de Física para agilizar o processo. É esperar e torcer.
 

 

Contrato tem 40 anos

 

Em 27 de dezembro de 1971, foi assinado um contrato de comodato, aprovado pela Cúria Metropolitana de BH, que envolveu o Santuário de Nossa Senhora da Piedade e a UFMG. Participou da negociação o então vigário do santuário, frei Rosário Joffly, que morreu em 2000. Há dois anos a Arquidiocese teria sugerido a mudança do contrato de regime de comodato para aluguel, mas, de acordo com Antônio Otávio Fernandes, a ideia foi deixada de lado depois que a universidade mostrou a impossibilidade de arcar com os custos.

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