Diverti-me à beça com o substantivo de dois gêneros “segurança” quando trabalhei para um grupo europeu.
Nos restaurantes, sempre me identifiquei com os manobristas: “Sou segurança do doutor”. E o curioso da história é que eles não queriam aceitar minhas gorjetas, talvez maiores que as do patrão. Afinal, segurança deve ser profissão aparentada com a de manobrista de restaurante de luxo.
O patrão tinha pavor de sócios, lição que Abílio Diniz não aprendeu. E me dizia: “Mulher, a gente dá um milhão de dólares e fica livre.
Quanto ao Opalão, os executivos do grupo ficavam encantados com la macchina e diziam que, na Itália, era considerado carro de época e valia uma fortuna. Hoje tenho veículo relativamente novo, com 5 mil quilômetros rodados, que arriou a bateria por falta de uso. Bateria nova instalada, descobri que o rádio parou de funcionar alegando “segurança” no display. Segurança de quê? Disseram-me que é para dificultar o roubo, porque o rádio e o CD só tocam se a gente teclar um número de segurança, que por sua vez está anotado num livrinho tipo manual do proprietário.
Acontece que não tenho um livrinho, mas uma biblioteca relacionada com o tal veículo, que obviamente não li e não vou ler. Meu mecânico, formado em engenharia, fez a caridade de passar aqui em casa para resolver o problema.
Desci para a garagem com a chave do carro e a biblioteca, ele localizou o volume e o código de segurança, digitou aquela complicação nas teclas do rádio e o equipamento voltou a funcionar que foi uma beleza. Comentário mordaz do engenheiro mecânico: “De que serve a segurança, se o rádio só funciona com o display do painel?”. Realmente, ou o sujeito rouba tudo, rádio, painel e carro, ou não adianta subtrair só o rádio com o toca-CD.
Todo o nariz de cera, que acaba de encantar o leitor de Encontro, serve para voltarmos ao tema violência ou segurança, como queiram. Até os postes da Cemig e os buracos das ruas de BH estão carecas de saber que vivemos, hoje, em um dos países mais violentos do mundo. O quinto mais violento, para ser mais preciso.
Cercas eletrificadas, câmeras filmando, carros blindados – cada qual se defende do jeito que pode, quando pode. Sacar dinheiro no banco é quase uma condenação à morte: estão matando por R$ 400 nas saidinhas. Parar ou morar perto de um caixa eletrônico é um risco danado, considerando que os operadores de assaltos a dinamite são amadores na lida com explosivos e podem destruir uma rua inteira.
Mesmo residindo em casas blindadas e circulando em carros blindados, os riscos são imensos.
Se católico, você pode rezar, mas corre o risco de assistir à missa celebrada pelo “padre” José Francisco de Lima, que não é padre e vive a praticar o estelionato de batina e estola, faixa larga e comprida que os sacerdotes usam em torno do pescoço e cuja cor varia de acordo com o calendário litúrgico.
Foi assim em Carrancas, MG, que pertence à diocese de São João del-Rei. A aposentada Maria das Graças Alves, de 63 anos, até hoje se queixa: “Me lembro muito bem dele. Uma fala mansa e muito bonita. Cheguei a me confessar duas vezes e agora ele sabe minha vida toda. Agora fiquei sem chão. Ele me iludiu”. Que diabo teria a senhora Alves contado ao estelionatário? Fiquei curioso.
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