Com um pincel e uma bisnaga de tinta nas mãos, o belo-horizontino Fernando Vignoli “rasga o mundo” e faz dele sua mais importante vernissage. E a sua arte, que já desbravou diferentes nações como Turquia, Islândia, Alemanha, França, Inglaterra e México, conquistou também os Estados Unidos, onde ele escreveu, ou melhor, desenhou, um dos principais capítulos de sua história. “Prometi a Deus que iria honrar minha vida com a arte e, a partir dela, mostrar às pessoas que o mundo é bonito”, diz. Como todo grande artista, Vignoli, hoje com 52 anos, teve um início complicado, motivado pela incompreensão do pai, um rigoroso militar, que desejava de maneira imperativa ver o filho manuseando equipamentos bélicos.
Mas Vignoli optou por outras armas, mais brandas e que não fazem mal a ninguém: os pincéis. O oásis de sua casa era a cozinha, onde sua mãe, uma confeiteira de mão cheia, preparava deliciosas tortas, sobre as quais o jovem artista ensaiava desenhos. A insistência em seguir uma carreira avessa aos desejos do pai lhe custou, por várias vezes, a própria liberdade. “Fui obrigado a estudar no Colégio Militar, mas não consegui me adaptar. Desenhava nas provas.
Mais tarde, aquelas paredes que o aprisionaram serviram de inspiração para a impressão da arte. Começou a elaborar desenhos grandes e com alta carga sentimental, como a pintura Big Apple, com o tamanho de 4X4 metros, que representa a época em que se mudou para os Estados Unidos, em 2003, para a luxuosa região dos Hamptons, com o objetivo de ajudar o irmão e amigos que lá trabalhavam. A obra representou um grande salto na carreira, tanto que passou a receber várias encomendas. “Fiz uma festa de despedida e vendi tudo o que tinha. Fui embora para os EUA com US$ 1,3 mil no bolso e cinco telas debaixo do braço”, diz.
Big Apple, a maçã mordida que representa os Estados Unidos. No quadro, à esquerda, desce uma queda d’água, as antigas Torres Gêmeas: a obra é uma das mais cultuadas do artista |
Nos EUA conheceu as pessoas certas na hora certa e, com o seu talento, construiu seu nome. Segundo ele, suas obras encomendadas por clientes passaram a ser colocadas nas mesmas paredes onde reinavam Pablo Picasso e Claude Monet, entre outros. “Sou uma mistura de Magritte, Dalí, Modigliani e minha avó, que foi a pessoa que me apresentou o Pink Floyd, minha banda preferida”, afirma, lembrando-se da ocasião em que Roger Waters, ex-integrante do grupo inglês, comparou a pintura do mineiro ao som psicodélico do conjunto. Mas a “fuga” da terra natal lhe rendeu sentimentos distintos: saudade e esperança de conquistar a tão esperada valorização de seu trabalho – que, em Belo Horizonte, deixava a desejar.
De volta a BH, em 2009, Vignoli decidiu dissolver as mágoas que tinha da capital. “Voltei, porque não quis dar as costas para a terra onde aprendi tudo isso”, diz o artista que se formou na antiga Fundação Mineira de Arte (Fuma), hoje incorporada à Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). Com vários prêmios no currículo, Vignoli completa 33 anos de carreira bem vividos e trabalhados. Viajou para muitos países para estudar e conhecer a arte de outros lugares e seus principais artistas.