Revista Encontro

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Sobrenomes bons de votos

Juliana Cipriani
Reunião da família Prado - Foto: Álbum de família; Geraldo Goulart; Cláudio Cunha

Se a política está no sangue e Minas Gerais tem uma forte tradição das oligarquias no poder, as eleições de outubro não foram diferentes. As urnas avalizaram a história de pelo menos duas famílias que ampliaram suas influências elegendo novos nomes que darão continuidade à participação, agora renovada, dos clãs: os Prado, de Uberlândia, e os Pinheiro, de Ibirité. As novidades são Pinheirinho (Antônio Pinheiro Neto), eleito o mais jovem prefeito do Brasil, aos 21 anos, e Ismar Prado, de 44 anos, novo vereador de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

 

O sobrenome Prado virou sinônimo de vitória eleitoral. Pelo menos no caso dos cinco irmãos de Uberlândia. Há 12 anos eles podem se gabar de ocupar cadeiras nas três esferas do Poder Legislativo – e a façanha inédita de eleger simultaneamente dois integrantes da família para o mesmo cargo.  Atualmente eles ocupam uma cadeira na Câmara dos Deputados (Weliton Prado), duas na Assembleia Legislativa (Elismar Prado e Liza Prado) e uma na Câmara Municipal de Uberlândia (Gilmar Prado). Em 1º de janeiro, toma posse mais um membro do clã: Ismar Prado, o candidato a vereador mais votado do principal município do Triângulo, escolhido por 9.825 eleitores que foram às urnas em 7 de outubro. Ele ocupará o lugar de Gilmar, que optou por não disputar a reeleição.

 

A meta do futuro vereador é atuar na periferia da cidade. “Sempre ajudei o trabalho na comunidade, atuando nos movimentos sociais, sempre perto do povo.

Sem dúvida, a eleição (dele e dos irmãos) é a força da nossa história de luta”, diz Ismar. A família, aliás, evita creditar ao sobrenome a vitória nas urnas. “Nosso trabalho é diferente. Os votos que recebemos são fruto de nosso trabalho nos movimentos estudantis e sociais. Não nascemos em uma família de políticos”, justifica Elismar, que já foi vereador por dois mandatos, deputado federal por quatro anos e está há dois na Assembleia Legislativa.

 

De fato, filhos de um marceneiro e uma costureira, a história política da família começou com Liza Prado, mais velha entre sete irmãos. Na adolescência, ela era vista nos movimentos estudantis, associações comunitárias e eventos da Igreja Católica. Foi um passo para a filiação ao PCdoB e a eleição, em 1992, para a Câmara Municipal de Uberlândia. De lá para cá, conquistou mais três mandatos – dos quais em duas eleições foi a candidata que obteve o maior número de votos. O último mandato ela deixou pela metade para tomar posse na Assembleia Legislativa, depois de ser eleita deputada estadual pelo PSB em 2010.

 

 
 

 

Mas a trajetória dos Prado na Assembleia Legislativa não começou em 2010. Oito anos antes, Weliton Prado conquistou uma das 77 cadeiras de deputado estadual pelo PT. Foi reeleito na disputa seguinte, quando Elismar Prado venceu a corrida por uma das 53 vagas mineiras na Câmara dos Deputados. Em 2010, eles resolveram “trocar de lugar”. E não é que deu certo? Elismar veio para Belo Horizonte e Weliton fez as malas para Brasília.

E em alto estilo: foi o mais votado do PT e o terceiro na colocação geral dos deputados eleitos.

 

“Sempre falo que eleição é época de colher o que se planta ao longo da vida. Não tivemos intermediários e sempre defendemos os direitos das pessoas. Acho que isso credenciou a gente para ter votação expressiva”, acredita Weliton. Tanto que em duas ocasiões os irmãos disputaram o mesmo cargo e venceram: Liza e Elismar candidataram-se juntos em 2006 para vereador e, em 2010, para deputado estadual. “Não existe essa história de divisão de votos. Cada um faz a sua campanha, e o eleitor sabe do nosso trabalho”, justifica Elismar. A participação na política deve se limitar aos cinco irmãos: não faz parte dos planos da dona de casa Lucimar e da estudante Solimar seguir os passos dos Prado. Pelo menos por enquanto.

 

Para a cientista política Helcimara Telles, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apesar de o Brasil ser tradicionalmente oligárquico, a transferência de votos exclusivamente pelo nome familiar já não é tão forte no estado. “Provavelmente o sobrenome teve peso, e aí, ainda que as estruturas políticas se modernizem, alguns clãs ainda permanecem com algum efeito mesmo que por laços de identidade, afeto pela família. Afinal, quem tem um bom nome é honrado, tem crédito na praça e, consequentemente, crédito com o eleitor”, avalia.

 

Foi o que aconteceu com o jovem Pinheirinho, o terceiro na linhagem familiar que vai comandar os cerca de 160 mil moradores de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

É neto de Antônio Pinheiro Diniz, o Tonico Pinheiro, que, depois de ser um dos responsáveis pela emancipação de Ibirité em 1963, se tornou o segundo prefeito do novo município, administrando-o de 1967 a 1971. Dezoito anos depois, passou o bastão para o filho Antônio Pinheiro Junior, o Toninho Pinheiro (PP), pai de Pinheirinho, que foi prefeito em três ocasiões (1989/1992, 2001/2004 e 2005/2008).

 

O presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro, com o irmão, o deputado federal Toninho Pinheiro: eles seguiram os passos do pai, Antônio Pinheiro Diniz, e abriram o caminho para Pinheirinho (à dir.), prefeito eleito de Ibirité, filho de Toninho e sobrinho de Dinis
 
 

Hoje deputado federal, eleito em 2010 como um dos mais votados de Minas Gerais, Toninho Pinheiro comemora o sucesso eleitoral do filho. “Desde os 15 anos ele gostava de política e já ganhou na primeira vez que concorreu. É o reconhecimento do nosso trabalho: um trabalho simples, honesto, que tem um saldo positivo para Ibirité”, diz Toninho.

 

Eleito pelo PP, mesmo partido do pai, Pinheirinho teve 33.065 votos, ou 43,71% da preferência do eleitorado, para ocupar a cadeira na prefeitura. Ele nasceu no primeiro mandato do pai como prefeito e, desde então, respirou política. Acompanhou a história do tio, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Dinis Pinheiro (PSDB), que chegou em 1994 pela primeira vez ao Legislativo como um dos deputados estaduais mais jovens do país, aos 26 anos. “Cresci convivendo nesse meio e aprendi a gostar da cidade e da vida pública. Meus amigos eram os amigos do meu pai”, diz o prefeito eleito.

 

O jovem cuidou, em Ibirité, da campanha de Toninho Pinheiro a deputado federal em 2010, visitando mais de 100 cidades. Pesquisa feita no ano passado o indicou como nome viável para disputar a prefeitura, e assim aconteceu. “Não imaginava que poderia ser tão rápido, foi um grande desafio”, afirmou. Pinheirinho trancou o curso de direito, que retoma no ano que vem, e partiu para a campanha. Para ele, o sucesso eleitoral é resultado do que vem sendo feito ao longo dos anos pelo avô, pelo pai e pelo tio. “Se eles não estivessem exercendo a vida pública com dignidade e honra, eu não teria tido esse sucesso”, afirma. Agora, os planos são trabalhar pela cidade e continuar na carreira política. Pinheirinho destaca que terá dois grandes parceiros para governar, um deputado federal e o presidente da Assembleia.

 

O caminho de Dinis Pinheiro para chegar ao posto mais importante do Legislativo mineiro não foi de menos sucesso. O candidato mais votado da Assembleia nos anos de 2006 e 2010 teve no prestígio político e nas boas relações com o Palácio da Liberdade as bases que o levaram à presidência da Casa. Dinis, que deve ser reeleito para comandar o Legislativo por mais dois anos, também comemora o sucesso do sobrinho. “Pinheirinho faz parte dessa nova geração, é entusiasmado. Claro que vai absorver toda essa experiência que externamos a ele, e a família Pinheiro está tendo a oportunidade de ampliar sua participação nos destinos do povo de Ibirité e do povo mineiro. Sempre com galhardia, simplicidade e humildade.”

 

Outras famílias

 

Os Andrada elegeram Antônio Carlos Andrada (PSDB) prefeito de Barbacena, no Campo das Vertentes, tirando o comando da atual prefeita Danuza Bias Fortes (PMDB) e vencendo a tradicional briga entre as duas famílias. A força da disputa familiar é tanta que fez Toninho abrir mão do cargo vitalício de conselheiro-presidente do Tribunal de Contas do Estado para voltar às disputas eleitorais. O deputado federal Miguel Corrêa Júnior (PT) também amplia a participação de sua família na política mineira. A sobrinha, também petista, Daniela Corrêa, foi eleita prefeita de Ribeirão das Neves, na Grande BH, na primeira eleição que disputou. Ela derrotou Gláucia Brandão (PSDB).
 

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