Próximo de completar 100 anos de idade, o fotógrafo Wilson Baptista não é, nem de longe, o estereótipo do aposentado melancólico e cabisbaixo que fica em casa reclamando do mundo. Pelo contrário. Entusiasmado, sempre feliz, ele adora conversar e, empolgado, aguarda a festa de seu aniversário, em julho. “Tenho sangue Caiapó, o que talvez explique um pouco esta minha animação e vontade de viver”, diz.
E é assim, com uma grande vontade de prosear, que seu Wilson recebe as pessoas em sua casa. Sempre bem disposto e contando muitos casos, ele gosta de mostrar um pouco do seu acervo fotográfico, que pode ser resumido em uma palavra: sensacional. Apesar de ser advogado, formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o amor pela fotografia sempre esteve presente na vida deste belo-horizontino.
1935 - Av. Afonso Pena e os fícus |
Inicialmente, ele trabalhou como funcionário da prefeitura, para depois se transferir para um cartório. O cotidiano do trabalho burocrático nunca impediu que seu Wilson se dedicasse à sua maior paixão: a fotografia.
“Belo Horizonte era muito diferente”, diz. “A cidade era muito menor e nem todo mundo fotografava”, relembra, para, em seguida, completar: “Sempre me considerei um fotógrafo amador. O pessoal me pedia para fazer uns retratos e tal. E eu não podia negar, né?”, afirma, de maneira modesta.
1955- Corrida na Av. Olegpario Maciel |
O acervo de seu Wilson conta hoje com mais de 10 mil imagens. Fotógrafo das antigas – afinal, suas primeiras clicadas foram dadas ainda nos anos 1930 –, todos que entram em seu estúdio de edição têm a certeza de que vão passar várias horas do dia perdidos em meio a rolos antigos, à procura das melhores imagens. Ledo engano: organizadíssimo, o fotógrafo aos poucos vai revelando seu precioso tesouro. E com um pequeno detalhe: tudo em um poderoso Mac, que ele manuseia com a habilidade de um garoto de 15 anos que fica o dia inteiro na internet. Clica dali, clica daqui, na tela vão surgindo dezenas de fotos digitalizadas que ajudam a reconstituir parte importante da história de Belo Horizonte, fundada em 1897. Muitas delas feitas há mais de 70 anos, e todas estão devidamente numeradas e catalogadas. “Sempre gostei de computador. Divirto-me muito com essas engenhocas”, diz ele, ao explicar tanta intimidade com o mundo digital.
1955- Construção do Edifício JK |
Pelas lentes da máquina do seu Wilson é possível acompanhar o crescimento da cidade.
O trabalho de Wilson Baptista e seu papel na cena fotográfica mineira são importantíssimos. E sua atuação no Foto Clube de Minas Gerais, do qual foi um dos fundadores e o primeiro presidente ainda na década de 1950, também marcou a cidade.
1940- Região da Lagoinha |
A qualidade de seu trabalho antecipou muito do que viria a caracterizar a fotografia brasileira nas décadas de 1940 e 1950. E exibições como a mostra coletiva realizada, no ano passado, pela Fundação Clóvis Salgado, e duas retrospectivas – uma na Casa do Baile, em 2007, e outra no Instituto dos Arquitetos do Brasil, em 2000 – têm servido como um reconhecimento, ainda que tardio, da obra deste grande fotógrafo mineiro.
Humilde e bem ao estilo mineiro, seu Wilson se diverte com o reconhecimento que seu trabalho vem recebendo nos últimos anos com as exposições. “Fico feliz que as pessoas me procurem e que gostem do meu trabalho. Sinceramente, não esperava este reconhecimento, não”, afirma o artista, que prepara um livro para comemorar os 100 anos.
Longa vida para este grande artista!
.