Com orelhas e patas compridas e dentes que nunca param de crescer – os quatro incisivos frontais, dois de baixo e dois de cima, têm crescimento contínuo, o que é equilibrado pelo desgaste que ocorre na mastigação –, os peludos chegaram sem muito alarde, mas estão à vontade no novo status. Suas peraltices e hábito de roer vegetais como a cenoura tornaram os coelhos cada vez mais populares. “Crio coelhos há oito anos e a procura tem crescido gradativamente. As pessoas estão descobrindo que eles são uma ótima opção como animais de estimação.
Além da fofura que arrebata corações, os coelhos surpreendem pela capacidade de interação com o ser humano, podendo ser muito receptivos. A estudante Paula Cordeiro, de 24 anos, encantou-se pelo lion head. “Pesquisei a raça e acertei em cheio. O Dave é muito dócil e se dá super bem com minha cachorrinha”. Quem tem garante que eles não são tão carentes quanto os cães, nem tão independentes quanto os gatos. “Entre as vantagens de se ter um coelho está o fato de ocuparem pouco espaço e serem silenciosos. No entanto, para terem uma boa qualidade de vida e chegarem a uma média de 10 anos, precisam de gaiolas com tamanho adequado, ração balanceada e água à vontade”, explica a cunicultora Nayara Mendes, da Casa dos Coelhos.
Em geral, um coelho faz aproximadamente 80 refeições diárias em quantidades mínimas e de forma constante. Os comedouros devem ser de chapas galvanizadas para não serem roídos. “Qualquer alimento com excesso de carboidrato é um veneno para os coelhos.
Para garantir a higiene do animal, é indicado colocar uma caixinha de areia que abrigue os dejetos embaixo da gaiola. A utilização de alguns azulejos na parte interna do abrigo possibilita que o coelho descanse sobre eles, sem roê-los. Os banhos não são necessários, mas a escovação do pêlo é indicada, assim como manter os animais em locais arejados para evitar a proliferação de sarnas e micoses, comuns na espécie – lembrando que é fundamental afastá-los de correntes de ar e permitir que tomem banhos de sol moderados, já que a incidência de doenças pulmonares é alta. Segundo Marcela Carvalho Ortiz, veterinária especialista em animais silvestres e exóticos, em geral as doenças mais comuns são relacionadas à alimentação inadequada. Outras patologias recorrentes são de origem dermatológica, má formação dentária e doenças infecciosas. “Por isso, é fundamental realizar consultas preventivas, fazendo um check-up periódico no animal para garantir a sua saúde”, destaca. Outra medida necessária é a castração após os quatro meses de idade. A partir daí, as fêmeas podem ter até sete gestações por ano, com seis a oito filhotes em cada parto. A vacinação fundamental para as espécies canina e felina não é ministrada aos coelhos, que necessitam apenas da vermifugação. Neste ponto, os orelhudos também levam vantagem sobre cães e gatos.
No mais, é só alegria e, é claro, muita bagunça.
Irritá-los também não é uma boa ideia. Para se defender, utilizam os dentes e golpeiam com as patas traseiras, o que pode gerar ferimentos graves, especialmente em crianças em tenra idade. E o título de come e dorme que eles têm é merecido. De hábitos noturnos, durante o dia os coelhos se alimentam e descansam, o que significa que à noite estão a todo vapor.
A estudante Ingrid Faria, de 22 anos, já se acostumou com o temperamento do Bologna, seu coelho da raça hermelin. “Como geralmente ele está sem sono à noite, começa a fazer barulho em sua gaiola com seus brinquedos para chamar minha atenção. E se eu não lhe der atenção, ele literalmente vira a cara, não aceita alimento e muito menos carinho. Além disso, não perde a chance de roubar minha comida. É uma peça rara mesmo, mas eu o adoro”, brinca. Não será surpresa se, numa noite qualquer, ela ouvir uma pergunta vinda da gaiola: “O que é que há, velhinho?”..