Se comparada com outras capitais brasileiras, Belo Horizonte até tem o que comemorar. Pelo menos quando o assunto é estádio. Segunda arena a ficar pronta para a Copa do Mundo 2014, o Mineirão já vem sendo testado desde fevereiro e recebeu um jogo da própria Seleção Brasileira no mês passado. E, se é verdade que a primeira partida no estádio – o clássico Cruzeiro e Atlético, na abertura do Campeonato Mineiro – foi recheada de problemas, como falta de estacionamento, bares fechados e falta de água, a multa aplicada pelo governo de Minas, de R$ 1 milhão, parece ter surtido efeito junto ao consórcio que administra o local.
“Com todos os ajustes, normais nos primeiros meses de funcionamento de qualquer estádio, o Mineirão vai se ajeitando”, diz o secretário de Estado Extraordinário da Copa do Mundo, o administrador Tiago Lacerda. “Aconteceram realmente alguns problemas graves naquele primeiro jogo. E, por isso, aplicamos a multa. Depois disso, já tivemos vários espetáculos de música e jogos. E está nítido que as coisas estão melhorando”, afirma.
Mas, se o Mineirão é motivo de orgulho para a cidade, o mesmo não pode ser dito em relação a outras áreas. Segundo especialistas ouvidos por Encontro, itens importantes como mobilidade urbana, saúde, segurança, comunicação e aeroportos ainda estão longe, bem longe, do que se poderia chamar de ideal. Emperrados por uma máquina estatal burocrática, cara e irracional, muitos dos projetos que já deveriam estar prontos estão atrasados (ver box)
O mais importante nó que precisa ser desatado até a Copa chama-se mobilidade urbana. Todo morador de BH sabe bem que o transporte se transformou num verdadeiro pesadelo na última década. Em 12 anos, o número de veículos saltou de 655 mil (em 2000) para 2,28 milhões (em 2012) – uma alta de mais de 300%. Mesmo tendo sido a primeira cidade-sede da Copa 2014 a assinar contratos de financiamentos do Programa de Aceleração do Crescimento, o chamado PAC da Mobilidade com o governo federal, a maioria das obras previstas para esse setor ainda não terminou. Apesar de o governo federal ter anunciado no mês passado, numa cerimônia na capital que contou com a presidente Dilma Rousseff, investimentos de R$ 5 bilhões para aumentar a mobilidade urbana na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o mineiro acompanha a discussão desconfiado: a promessa não é nova. No caso do metrô, por exemplo, as obras nem mesmo começaram.
“Todo especialista da área sabe que o cronograma das obras está bastante atrasado e não adianta muito o governo ficar tapando o sol com a peneira”, afirma Ronaldo Guimarães Gouvêa, professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Uma dos mais respeitadas autoridades no estado quando o assunto é trânsito, Gouvêa chama a atenção para o fato de que, durante a Copa das Confederações, a cidade estará totalmente em obras.
O mesmo ceticismo – e preocupação – é compartilhado pelo professor do Departamento de Arquitetura da PUC Minas, Manoel Teixeira Azevedo. E que chama a atenção ainda para o grande atraso do mais aguardado projeto de mobilidade urbana: o BRT (ônibus rápido). “Todos os prazos estão estourados. O quadro é mesmo preocupante”, afirma. Além disso, o professor alerta para outro problema do BRT: sua eficácia. Ele assinala que, se o BRT vai ajudar a melhorar um trânsito caótico, ele não é, nem de longe, a solução definitiva para a cidade. “Se o BRT começasse a operar agora, já seria insuficiente para a nossa demanda de transporte. O projeto já nasceu superado”, afirma.
O secretário municipal Extraordinário para a Copa do Mundo, Camilo Fraga, relativiza os problemas. Para ele, o mais importante é que, até o Mundial, tudo estará pronto.
Improvisação no preparo da mão de obra
Pesquisa inédita encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) divulgada no final de abril revelou um número preocupante: 64% dos comerciantes da capital mineira não vêm se preparando para receber a Copa das Confederações, cuja abertura está marcada para junho. Entre os empresários que estão se preparando, 62% responderam que começaram os preparativos há menos de seis meses.
O estudo, realizado junto a varejistas e prestadores de serviços das capitais que receberão a Copa das Confederações, revelou ainda que, entre os motivos mais citados pelos empresários que não vêm se preparando para o evento, estão a falta de retorno para o negócio (25%), falta de mão de obra qualificada (23%), ausência de capital para investimento (11%) e carência de apoio governamental (6%). Entre os varejistas que vão investir, a maioria (82%) teve de usar dinheiro do próprio bolso e somente 18% tomaram empréstimos em bancos..