“Jamais vou esquecer o olhar de gratidão que o Sadan me deu, mesmo em seu último dia de vida.
Senti que ele me agradecia por tê-lo adotado.” A frase é da corretora de imóveis Vanessa Villela de Castro, de 50 anos, e Sadan é um cachorro vira-lata. A história de amor entre ela e o cachorro começou há três anos, a caminho do seu sítio em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), quando encontrou um filhote abandonado na beira da estrada e decidiu adotá-lo, mesmo tendo condições financeiras para adquirir um animal de raça. Há um mês, Sadan morreu, vítima de ataque de onça na região. Para superar a dor, Vanessa optou mais uma vez pela adoção. “Mesmo com o coração doendo de saudade, não consegui resisti ao Beto, mestiço de 3 meses. Foi amor à primeira vista”, diz. Resultado: adotado (tal como Sadan), o novo membro da família faz companhia para Tody, outro cãozinho sem raça definida (SRD) – também fruto de adoção.
Hoje, ambos correm felizes pelos gramados do sítio da corretora. Vanessa pode até não saber, mas o que ela fez com Sadan, Beto e Tody (adoção) está virando coisa chique na sociedade.
A corretora Vanessa Villela e os sobrinhos Isadora e Thiago se apaixonaram pelo vira-lata Beto (cão menor). "Foi amor à primeira vista. É o mais novo membro da família e adora correr pelo sítio junto com o Tody" - Foto: Geraldo GoulartAssim como Vanessa, muitas são as pessoas que, mesmo tendo recursos para comprar um animal de estimação, abrem mão da raça para acolher pets resgatados das ruas. No entanto, o número de cães abandonados ainda é assustador. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente na capital mineira são mais de 30 mil. Isso sem falar na população felina, que, por ter um alto índice de reprodução e possuir hábitos noturnos, é difícil de ser mensurada. “Por isso, as campanhas de adoção e castração são fundamentais. Quanto menos animais nascerem, menor será o número de abandonos”, diz Denise Menin, da ONG Cão Viver. Para Helenice Machado Mendes Rutkowski, da ONG Bichos Gerais, o abandono ocorre de forma indiscriminada e não escolhe raça, idade nem classe social. “Infelizmente muitas pessoas compram ou adotam um animal por impulso e desistem deles na primeira dificuldade. É muito comum eles serem abandonados no momento em que mais precisam de cuidados quando estão velhos e doentes.”
O mestiço Piloto (o primeiro da esquerda para a direita) tirou a sorte grande: "Quando o encontrei, estava magro e desnutrido. Hoje está lindo e sua maior alegria é brincar com os outros cães na piscina", conta a professora Raquel Nogueira Rainoni - Foto: Pedro Nicoli/EncontroPoucos deles têm a sorte do Piloto, mestiço acolhido pela professora de alemão Raquel Nogueira Rainoni, de 51 anos. Há dois anos, quando o encontrou perambulando pela rua onde mora, ela já possuía cinco cães – dois de raça e três vira-latas, e não hesitou em ter mais um. “Ele estava muito debilitado, magro e desnutrido. É um cachorro de porte grande e, por isso, muitas pessoas têm medo de ajudar. Além disso, corria o risco de ser atropelado e sofrer maus-tratos.
Hoje, ele está lindo e adora brincar com os irmãos na piscina.” Em 2007, quando ainda morava na Argentina, a engenheira química Juliana França Menezes Ladeira, de 41 anos, resgatou pela primeira vez duas cadelas mestiças. De volta ao Brasil, não resistiu aos encantos de Billy, mestiço de 1 ano. “Eu estava apenas com a Cuka (SRD) e a Talita (bordecollie), pois tínhamos perdido a Nina (SRD). E, como não faço distinção de raça, adotei o Billy, que nos faz chorar de tanto rir. É realmente a alegria da casa.”
Como um legítimo vira-lata, Billy adora fazer bagunça e, é claro, passear de carro. Ele foi adotado na Bom Garoto! Pet Shop, que resgata mensalmente quatro animais da Sociedade Mineira Protetora dos Animais (SMPA) com a missão de dar-lhes um novo lar. “Foi a forma que encontramos para fazer a nossa parte e ajudar a salvar algumas vidas”, diz o veterinário e proprietário da loja, José Lasmar. A representante comercial Luciana Barros Bárbara, de 43 anos, também encontrou uma maneira de fazer a diferença. Quando decidiu ter um bichinho, optou pela adoção. Hoje, suas grandes companheiras são as gatas Victoria Maria e a Onçinha.
“Foi através delas que descobri a importância de abrir os braços e o coração para os animais de rua. Eles são tão gratos e fiéis que nem parecem ser tão sofridos.”
A representante comercial Luciana Barros Bárbara não mede esforço para agradar a sua gata, Victoria Maria: "Descobri a importância de abrir os braços e o coração para os animais de rua" - Foto: Júnia Garrido/EncontroCada um, a seu modo, tenta fazer sua parte da melhor forma possível. O projeto O Lobo Alfa, fundado em 2009 pelo advogado Crispim Zuim Neto, tem o objetivo de sensibilizar a população sobre a realidade dos animais abandonados através de histórias contadas pelo próprio Neto. “Descobri que uma história bem contada e ilustrada desperta a consciência de possíveis adotantes e atrai novos protetores. Então me tornei um contador de histórias reais, em sua maioria tristes, mas com possíveis finais felizes.”.