Revista Encontro

Bem-estar | Alimentação

Saúde ao natural

A alimentação saudável deve ser estimulada dentro de casa, desde os primeiros anos de vida, para que as crianças se acostumem com escolhas nutritivas

Simone Dutra
- Foto: Cláudio Cunha
 
 
A infância é a fase mais importante da vida. É o período em que a criança desenvolve princípios, valores, movimentos relacionados ao corpo e, principalmente, aprende a alimentar-se de forma saudável. Só que isso nem sempre acontece espontaneamente. É muito comum encontrar pais desesperados porque os filhos rejeitam alimentos nutritivos, como frutas, verduras e legumes, e fazem das refeições verdadeiro campo de batalha contra a comida. Depois de muito desgaste, os pais acabam cedendo aos caprichos dos pequenos e liberam produtos industrializados (frituras, biscoitos, bolos), que podem ser os  vilões da alimentação. Especialistas afirmam que os alimentos saudáveis não devem ser substituídos e que o ideal é que os pais sejam exemplo para a garotada. É preciso, ainda, ter paciência para ensinar os filhos que comer bem ajuda no desenvolvimento físico e mental de cada um.
 
Thiago, com a mãe, Janaína Baronto (ao centro), e as primas Giovanna, Ana Clara e Ana Júlia: refeições na casa da avó são uma verdadeira festa para ele - Foto: Júnia Garrido  
 
Mariana Oliveira Duarte, de 5 anos, não faz cara feia na hora de comer. No café da manhã, ela gosta de comer cereais, seja na forma de pães ou grãos, frutas com mel e aveia e iogurte com granola.
O exemplo veio dos pais, o advogado Rodrigo Amaral Duarte e a empresária Helyena Pinheiro de Oliveira, que religiosamente se sentam à mesa com a filha para fazer a primeira refeição do dia. Para a nutricionista Scheherazade Paes de Abreu, tomar o café da amanhã, almoçar e jantar em família incentiva a boa alimentação das crianças, porque elas costumam copiar os adultos. "Não adianta o pai comer mal e querer que o filho tenha alimentação saudável. O exemplo vem de casa", afirma.
 
No almoço, Mariana, serve a salada sem restrição e come tudo. Detalhe: na maioria das vezes sem adicionar sal ou outro tipo de tempero. Depois come arroz, feijão, carne e a verdura ou o legume. "Ela não tem problema com alimentação; sempre foi assim, desde quando introduzimos os alimentos sólidos nas refeições dela. No restaurante, a Mariana faz o mesmo processo. Já virou hábito", revela a mãe.
 
De acordo com a nutricionista Alice Carvalhais, toda criança precisa de fibras, proteína, lipídio e, em especial, carboidrato, que dá energia. "Criança em fase de crescimento precisa de quantidade razoável de carboidratos, como batata, mandioca, cará, arroz. Além disso, é bom acostumá-la com salada crua, ainda que dê preferência aos vegetais refogados, como couve, cenoura cozida, entre outros", explica. 
 
Helena, de 1 ano e meio, entre os pais, Fabiana Cruz e Marcus Magalhães, na hora do almoço: ela gosta de rúcula e brócolis e não come doce, iogurte nem gelatina - Foto: Roberto Rocha  
 
Para os menores de 6 meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o bebê deve se alimentar exclusivamente de leite materno. Mas, se a mãe não conseguir amamentar, deve introduzir a fórmula de leite. Depois desse período, o indicado é entrar com os alimentos sólidos, que são as frutas raspadas ou amassadas e a comida salgada composta de legumes, verduras, cereais, proteínas.
Tudo muito cozido e amassado no começo.
A cada fase da vida da criança, essa graduação da comida tem de mudar, para exercitar a mastigação e os músculos da face. "Começa com a papa (comida amassada) e depois deixa escapar pedaços pequenos. O leite também deve fazer parte da rotina alimentar e ser ingerido de duas a três vezes por dia", afirma Scheherazade. Segundo ela, quando a criança tiver mais de 1 ano, já pode começar a fazer a mesma refeição da família.

Thiago Vieira Baronto, de 1 ano e 7 meses, já come o mesmo preparo que os adultos de sua casa. Além disso, uma vez por semana, as refeições têm sabor especial e são uma verdadeira festa: ele almoça e lancha com as primas Giovanna Angel e Ana Clara Dimitrov Vieira, de 10 e 4 anos, respectivamente, e Ana Júlia Vieira Carvalho, de 3. Todos se reúnem na casa da avó Marlene Magalhães Vieira. "Como gastam muita energia, nós nos preocupamos em preparar um cardápio bem colorido, com verduras, legumes e carne magra. E a criançada raspa o prato", afirma a mãe de Thiago, a assistente social Janaína Vieira Baronto.
 
Mariana, de 5 anos, aprendeu com os pais, Rodrigo Duarte e Helyena Oliveira: café da manhã reforçado e saudável - Foto: Roberto Rocha  
 
A geóloga Fabiana Reis da Cruz cuida de todos os detalhes da alimentação da filha, Helena, de 1 ano e 6 meses. Como tem quadro de obesidade na família, assim que a filha nasceu, Fabiana procurou um especialista em gastroenterologia para se orientar sobre o assunto. Ela amamentou a menina até o sétimo mês e depois foi introduzindo frutas e papinhas nas refeições.
"Mudei toda a comida de casa. Agora tempero com mais cebola, alho, ervas; a carne não tem gordura. Além disso, passamos a comer muita verdura de folhas", diz Fabiana, que conta com o apoio do marido, Marcus Magalhães. Helena também é exemplar na hora de fazer as refeições, pois aprendeu a comer arroz integral, feijão escuro, moranga e batata-baroa. Na salada, ela gosta de alface, tomate, rúcula e brócolis. E um detalhe: ela não come doce, iogurte nem gelatina. 
 
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O pediatra, nutrólogo e gastroenterologista pediátrico Magno Veras Neto não é a favor de que os menores de 3 anos comam guloseimas e produtos industrializados: "Essa demora é positiva e pode modular o metabolismo da criança para a vida inteira e evitar problemas futuros, como o diabetes e a doença celíaca autoimune". Para o médico, as refeições devem ser feitas à base de alimentos naturais, de preferência legumes, cereais, tubérculos e frutas. "O leite de vaca e os compostos lácteos devem ser evitados por crianças menores de 1 ano, pois a quantidade de proteína e sódio é muito grande", explica o especialista.
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