E quando o sono não anda bem? Irritabilidade, dor de cabeça ao acordar, diminuição da libido, parte intelectual prejudicada são alguns dos problemas que podem surgir. Se você sente tais incômodos com certa recorrência, comece agora a responder as questões levantadas no início desta matéria. De acordo com a especialista em medicina do sono, a insônia, por exemplo, pode ser o resultado de como a pessoa lida com o sono, ou melhor, sinal de que ela não valoriza tanto assim as tão preciosas horas na cama. "É preciso tirar a imagem de que o quarto é um ambiente em que você faz de tudo", diz a médica Regina Magalhães. Ela lembra que o quarto é lugar de descanso, para a pessoa repor, enquanto dorme, as energias perdidas durante o dia.
A publicitária Ivonéria Rodrigues bem que gostaria de aproveitar as oito horas de sono tão recomendadas pelos especialistas, mas a insônia que a persegue não permite. "Só consigo ir para a cama às 3h da manhã", diz. Devido ao trabalho, ela dorme, em média, apenas quatro horas por dia. "Aproveito a madrugada para ler e-mails, conferir as notícias e repensar a vida", conta. O resultado não poderia ser outro: "Gostaria de dormir o dia inteiro. Levantar cedo é um problema para mim desde o meu nascimento", brinca a publicitária que sofre com a insônia há 20 anos. Já para o engenheiro civil Saulo José Reis o problema é a apneia, ou melhor, era. "Eu acordava com dor de cabeça e muito cansado. Além disso, minha mulher percebia que algo estava errado com a minha respiração enquanto eu dormia", diz. Saulo procurou ajuda no laboratório do sono do Mater Dei, mudou seus hábitos e está dormindo provisoriamente com a ajuda de um aparelho chamado CPAP (Continuous Positive Airway Pressure ou Pressão Aérea Positiva Contínua). É uma espécie de máscara com compressor de ar, que leva pressão aérea para o paciente. "Levo o aparelho para todos os lugares", diz.
Cláudio e Saulo fizeram um exame muito comum e até então mais indicado para detectar problemas durante o sono, que é a polissonografia, conhecido como exame do sono. No hospital, o paciente é monitorado durante a noite a fim de se verificarem alguns aspectos significativos enquanto dorme: atividade elétrica do cérebro, movimento dos olhos, das pernas, fluxo de ar que sai pelo corpo, batimento cardíaco, oxigenação do corpo, entre outros.
Para Cheng T-Ping, presidente da Sociedade Mineira de Otorrinolaringologia, além dos fatores ambientais, os distúrbios do sono podem estar ligados a transtornos psíquicos, como ansiedade e fobias, uso de medicamentos ansiolíticos, consumo de bebidas alcoólicas e cafeinadas. "A sensação de queimação e dor na região do epigástrio causada pelo refluxo gastroesofágico ou gastrite, a obstrução nasal da rinite alérgica e o aumento da frequência da micção noturna (problemas de bexiga, esfíncter urinário, ingestão de líquidos, uso de diuréticos) podem provocar intervalos do sono e induzir a distúrbios", afirma o especialista.
Sobre a apneia, doença com incidência maior em homens, Cheng explica que ela pode estar associada a vários motivos, como hipertrofia amigdaliana, aumento do diâmetro cervical, obesidade, alterações nasais como o desvio de septo, aumento das conchas nasais e rinite alérgica, além do uso de sedativos.
O professor Maurício Viotti, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, atribui aos problemas durante o sono à alta carga de tarefas que as pessoas têm de cumprir no dia a dia. Horários irregulares para dormir também contribuem para um sono conturbado: "O organismo gosta de rotina. Caminhadas matinais são importantes, pois é quando se mostra para o organismo que é dia", diz o psiquiatra.
O professor Maurício Viotti, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, atribui aos problemas durante o sono à alta carga de tarefas que as pessoas têm de cumprir no dia a dia.
Pegar no sono também pode ser mais difícil se você não consegue desgrudar de computadores, telefones celulares e da TV, pois o hormônio da melatonina que inibe o estado de alerta não se fortalece quando há muita luz no ambiente. Portanto, o sono é, sim, o momento mais importante do dia. É quando o organismo aproveita para recarregar as energias para o dia seguinte. "Não se trata de perda de tempo, e sim de ganhar saúde e anos de vida", afirma a pneumologista Regina Magalhães.